SÃO PAULO, SP – Mais de cinco milhões de chineses têm sofrido com recorrentes cortes de energia devido a uma onda de calor que atinge o país há mais de dois meses.
As temperaturas na província de Sichuan, no sudoeste, ficaram acima dos 40ºC nos últimos dias, o que disparou o consumo de eletricidade -principalmente para ar-condicionados- e prejudicou seu fornecimento, forçando a paralisação de algumas fábricas.
A região depende fortemente das hidrelétricas -que representam cerca de 80% da capacidade de geração de energia-, mas a onda de calor secou os reservatórios, acentuando a disputa para atender a crescente demanda.
Uma empresa de energia local disse que Dazhou, cidade de 5,4 milhões de pessoas no nordeste da província, recebia energia de forma intermitente nesta quarta-feira (17). De acordo com o jornal chinês The Paper, moradores têm enfrentado cortes que duram até três horas devido a altíssima carga nas linhas de transmissão, o que afeta tanto as áreas urbanas quanto as cidades e vilarejos da região.
Várias fábricas em Sichuan foram obrigadas a interromper seus trabalhos depois que as autoridades ordenaram priorizar o fornecimento para as áreas residenciais. Um aviso publicado no fim de semana ordenou a suspensão das atividades industriais em 19 das 21 cidades da província.
Entre as fábricas afetadas está uma empresa conjunta da Toyota com uma companhia chinesa, que precisou parar na última segunda-feira (15). A imprensa local aponta que o maior fabricante de baterias para carros elétricos, Contemporary Amperex Technology, também interrompeu sua produção na cidade de Yibin.
A província de Sichuan concentra metade da produção chinesa de lítio, um material necessário para as baterias de carros elétricos. A região também tem inúmeras usinas hidrelétricas que abastecem as importantes zonas industriais da costa oriental da China.
Nesta quarta (17), o governo local disse que racionaria o fornecimento de energia para residências, escritórios e shopping centers. Fontes, shows de luzes e atividades comerciais após o anoitecer também devem ser suspensos.
Segundo o jornal Sichuan Daily, funcionários do governo foram solicitados a ajustar os ar-condicionados a não menos de 26ºC e usar mais escadas do que elevadores.
A atual onda de calor chinesa já dura 64 dias, tornando-se a mais longa desde que registros completos começaram a ser feitos, em 1961. Diversas cidades registraram as temperaturas mais altas de sua história. Nesta quarta-feira, o observatório de meteorologia nacional prolongou seu alerta vermelho, o mais alto em uma escala de quatro níveis.
A China tem alertado que enfrentará uma proliferação de eventos extremos nos próximos anos, à medida que tenta se adaptar às mudanças climáticas e aos aumentos de temperatura. Segundo a agência de notícias estatal Xinhua, a precipitação média em Sichuan está 51% menor que a dos anos anteriores.
Nesta quarta, o vice-primeiro-ministro chinês, Han Zheng, disse que são necessários mais esforços para garantir o fornecimento de energia para residências e indústrias-chave. Para contornar o problema, o maior projeto hidrelétrico da China, a barragem de Três Gargantas, aumentará as descargas de água em 500 milhões de metros cúbicos nos próximos dez dias.