O que muda com a chegada do novo chefe da OTAN?


Nos últimos dias foi realizada a 75ª Cúpula da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), que contou com a presença de líderes dos 32 Estados-membros, como o presidente norte-americano, Joe Biden; o presidente canadense, Justin Trudeau; o novo primeiro-ministro britânico, Keir Stammer; o presidente francês, Emmanuel Macron; e o chanceler alemão, Olaf Scholz.
Além de serem renovadas condenações à Rússia e a China, no encontro também foram decididos uma série de acordos pela aliança e por países-membros em encontros próprios, como o auxílio militar à Ucrânia no valor de 40 bilhões de euros (R$ 238 bilhões), acordos para o desenvolvimento de mísseis pela França, Alemanha, Itália e Polônia, e a criação de uma frota de quebra-gelos para desbravar o Ártico por Estados Unidos, Canadá e Finlândia.
Vladimir Zelensky durante reunião da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) em Washington D.C., em 11 de julho de 2024 - Sputnik Brasil, 1920, 11.07.2024

Esta foi também a última cúpula presidida por Jens Stoltenberg, que passará o bastão em outubro para Mark Rutte, político holandês que ata como primeiro-ministro dos Países Baixos por 14 anos.
Em entrevista ao Mundioka, podcast da Sputnik Brasil apresentado pelos jornalistas Melina Saad e Marcelo Castilho, especialistas em geopolítica analisaram o que significa a escolha por Rutte para liderar a OTAN e qual o papel da aliança militar no século XXI.

A OTAN está se dirigindo para a paz?

O secretário-geral da OTAN é escolhido pelos países-membros para um mandato de cinco anos, podendo ser reeleito apenas para mais um.
Como Stoltenberg está há dez anos no cargo, não há possibilidade de se estender na liderança da aliança.
Tradicionalmente, o secretariado-geral é ocupado por um líder europeu, enquanto o cargo militar de comandante supremo aliado na Europa é dado a um general estadunidense — sempre o mesmo que lidera também o Comando Europeu dos Estados Unidos (EUCOM). Sendo assim, dentre as opções disponíveis, Mark Rutte foi o escolhido para liderar a organização.
Para Carolina Pavese, especialista em Europa e doutora em relações internacionais pela London School of Economics, a escolha de Rutte está relacionada ao seu histórico de ser “um grande mediador”.

“Ele tem essa fama de preferir um acordo ao conteúdo, então ele não vem com uma agenda tão incisiva. Ele tenta conciliar e é nessa linha que deve deve entrar nessa gestão.”

A especialista afirma que Rutte terá uma “batata quente” nas mãos devido à possível eleição de Donald Trump como presidente dos Estados Unidos.
“O Trump sempre foi muito cético a uma participação maior dos Estados Unidos na organização”, lembra. Por outro lado, quando era primeiro-ministro dos Países Baixos, ele desenvolveu uma relação muito boa com Trump.
O ex-presidente dos EUA e candidato republicano à presidência, Donald Trump, fala durante um comício em Doral, Flórida, em 9 de julho de 2024 - Sputnik Brasil, 1920, 12.07.2024

Para piorar a situação interna da OTAN, aponta Pavese, os próprios membros europeus da aliança se encontram divididos entre aqueles que “querem uma OTAN mais presente no conflito e aqueles que apoiam [Vladimir] Putin“.
Segundo Vinicius Modolo Teixeira, especialista em organizações de tratados militares entre países, Rutte pode ajudar não só a mediar os conflitos internos da OTAN, como também posicionar a organização para uma futura negociação com a Rússia.
O analista sublinha que o conflito entre a Ucrânia e a Rússia já se estende por mais de dois anos, “e isso tem sido bastante desgastante” para a Europa.

“Então se prontificar para uma negociação, para uma estabilização daquela região, seria interessante para a OTAN.”

Nesse sentido, de fato, Rutte traz uma postura diferente daquela adotada por Stoltenberg, que era mais “provocativo” em relação à Rússia, descreve Modolo.
“Rutte deve ser mais flexível. O Stoltenberg já tinha demonstrado, até por ter ficado dez anos na cadeira que já tinha as suas relações estabelecidas”, afirma o especialista.
No entanto, isso não quer dizer que a aliança militar irá olhar para a Rússia com outros olhos. Assim como ocorreu após a dissolução da União Soviética, dificilmente o Ocidente considerará a Rússia como possível aliada.

“A Rússia sempre foi um rival, por sua dimensão territorial, por oposições em termos religiosos, em termos culturais, econômicos”, afirma Modolo. “E a China agora também vem nesse sentido.”

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Fonte: sputniknewsbrasil

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