O Peru normalizou a crise no Poder Executivo, diz especialista


A destituição de Pedro Castillo da presidência do Peru e sua posterior prisão nesta semana jogaram luz sobre a turbulência política que assola o país vizinho.
Eleito em 2021, Castillo foi o quinto a ocupar a presidência do Peru em um período de cinco anos. Antes dele, passaram pela Casa de Pizarro, a sede do Poder Executivo peruano, Pedro Pablo Kuczynski (julho de 2016 a março de 2018); Martín Vizcarra (março de 2018 a novembro de 2020); Manuel Merino (10 a 15 de novembro de 2020); e Francisco Sagasti (novembro de 2020 a julho de 2021).
Em entrevista à Sputnik Brasil, o cientista político e professor de relações internacionais Bruno Lima Rocha explicou a raiz da crise política que leva os mandatos presidenciais no Peru a ter uma duração tão curta.
Segundo Lima, “a crise peruana é reflexo do sistema político atual do Peru, que é herdeiro de dois processos”.

“Um remonta às eleições peruanas de 1989, quando [Alberto] Fujimori, um arrivista e engenheiro agrônomo, concorre com o literato também oligarca Vargas Llosa. Fujimori ganha, e a partir daí há no Peru o arrefecimento da insurgência armada. Depois, há o autogolpe de Fujimori . Quando acaba a ditadura fujimorista, que foi em parceria com as Forças Armadas, e assume Alejandro Toledo, na virada de 2000 para 2001, simplesmente o país já não tem um partido político que represente algum grau de estabilidade”, explica o especialista.

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Lima explica que “o sistema político pós-Fujimori é muito frágil, muito pulverizado”. “Tem a presença permanente de uma possibilidade ou não de intervenção militar. Nesse caso, ainda bem que não teve, mas poderia ter ocorrido”, destaca Lima.
Ele acrescenta que, somado a essa fragilidade, está a cultura de criminalização da política que se instaurou no Peru. “Na maior parte das vezes, realmente, há fatos importantes de corrupção, mas também a autonomia da chamada Fiscalía, o ministério público peruano, vai deitar e rolar em cima do que é a Lava Jato em escala latino-americana.”
Lima considera que Castillo, de fato, tentou um golpe ao anunciar a dissolução do congresso, em pleno dia em que haveria uma votação sobre sua deposição. Porém, ele destaca que a empreitada não foi bem-sucedida porque Castillo não tinha o suporte necessário para ir adiante.
“Se Castillo tivesse mais apoio popular, especificamente em escala nacional, e tivesse o apoio mobilizado em Lima, com canais de comunicação nas Forças Armadas, ele teria chance [de golpe], é preciso reforçar isso.”
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Segundo o especialista, há chances de Dina Boluarte, ex-vice de Castillo que assumiu a presidência do Peru, alcançar alguma estabilidade política, mas não será fácil.
“A presidenta que assumiu era uma vice rompida com o titular, o que facilitou a derrubada dele. Porque foi mais ou menos uma situação em que ela rompeu primeiro, e depois entrou como alternativa de poder. Ela convocou um gabinete de unidade nacional, que foi montado hoje. Se esse gabinete de unidade durar pelo menos até o final do mandato, e sobreviver às investidas do fujimorismo, pode ser que o Peru tenha um mínimo de estabilidade”, diz o especialista.
Porém, ele acrescenta que o último vice-presidente que assumiu após o eleito ser deposto, Martín Vizcarra, também acabou sendo afastado.

“Creio que o Peru entrou em um grau de normalidade, onde é normal para a política peruana a crise no Poder Executivo. E com isso, ganha uma autonomização do campo econômico, o que é muito perigoso. Porque o capital não está subordinado às regras do jogo do poder do país. Por isso, os tratados de livre comércio com China, com EUA, a presença de capital estrangeiro abundante fragiliza aquela sociedade e fragiliza os anteparos políticos”, destaca Lima.

Fonte: sputniknewsbrasil

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