Entre tantos assuntos relevantes que circundam o mercado automotivo no atual momento, estreio minha participação na coluna quinzenal na Autoesporte para falar do carro elétrico. O processo de eletrificação veio para ficar. Isto é um fato e não existe muita margem de discussão para este assunto.
Será cada vez mais comum nos próximos anos observar veículos com esta tecnologia em nossas ruas, em especial após 2026 quando novas plataformas chegarão ao nosso mercado.
Com domínio de mais de 70% da produção mundial das baterias, a China é a principal alavanca para este processo e, neste contexto, o principal mercado a ser observado. Com dados disponibilizados pela Marklines, a produção total de veículos no acumulado de abril indicava uma alta de 8% em relação ao período anterior. Já em junho, também na soma combinada, a alta indicava números de apenas 4,9% demonstrando claramente uma desaceleração.
Esta acomodação se deve a proteção de mercado que os EUA e a União Europeia tentam promover e, por se tratarem de dois mercados representativos, há de se esperar que a produção não sustente os atuais padrões até o final do ano.
Um cenário positivo com políticas chinesas para troca de veículos novos, o aumento de veículos elétricos em zonas rurais e diversos novos lançamentos esperados para o segundo semestre na China podem manter a produção em níveis elevados. Importante enfatizar que em 2023 a China estabeleceu o seu recorde na produção de veículos com quase 30,2 milhões de unidades e, a depender das condições de mercado, poderá facilmente superar este número este ano.
Recentemente algumas fabricantes anunciaram uma modificação nos planos com respeito ao processo de eletrificação. Empresas como Chevrolet, Ford, JLR e Mercedes-Benz informaram publicamente que abandonaram o plano de eletrificação completa em suas linhas de produto para os próximos anos.
Em geral a alegação foi a de que os números planejados de vendas não foram atingidos bem como a paridade de preço entre os veículos elétricos e a combustão (que poderia contribuir para aumento das vendas) ainda é uma realidade um tanto distante. Em paralelo, algumas localidades que previamente estabeleceram limites de emissão de Carbono estão estudando novas datas de implementação para estes programas. Em outras palavras, o veículo elétrico ainda não pegou… mas demonstra que vem pegando a passos mais lentos do que o esperado.
Com respeito ao mercado brasileiro, não é de se esperar que o veículo elétrico tenha hegemonia nos próximos anos. A infraestrutura ainda é falha e por mais que exista um número crescente de carregadores públicos à disposição, nosso país ainda está distante dos principais mercados quando se divide a quantidade de carregadores públicos disponíveis pela área do pais.
Neste quesito o Brasil anda pior que o pior país europeu, a Letônia, que apresenta um quociente entre cinco e treze vezes melhores que o Brasil a depender da inclusão das áreas da Amazônia Legal e do Pantanal.
Segundo praticam alguns especialistas, o ideal seria ter a relação de 10 veículos elétricos em circulação para cada carregador. Com a frota de veículos eletrificados estimada em 160 mil veículos, seriam necessários 16 mil carregadores e atualmente o número é pouco superior a metade disso. O cenário atual indica que o Brasil, em relação aos eletrificados, será o país dos híbridos.
Projeções para 2030, realizadas em março de 2024 para a Jato, indicam que os motores a combustão serão, em números arredondados, 75% do total (incluindo 25% dos micro-híbridos que alguns teimam em afirmar se tratar de híbridos… mas não são!). Os híbridos ficarão com os outros 16,5% enquanto os elétricos puros contribuirão com apenas 8,5%.
Num primeiro momento, o processo de eletrificação massificado, no Brasil, ocorrerá por intermédio dos micro-híbridos, mas isto não significa dizer que o veículo elétrico será um mico! Observando o crescimento deste segmento para os próximos anos, obviamente não será!
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Fonte: direitonews