Novos alvos: onda de repressão na Nicarágua não perdoa nem prefeitos do partido de Ortega


A repressão da ditadura de Daniel Ortega na Nicarágua tem vários alvos: oposicionistas políticos, cristãos, ONGs, até o irmão do ditador (o ex-comandante do Exército e general reformado Humberto Ortega, que estava em prisão domiciliar desde maio e morreu no final de setembro).

A paranoia do ditador é tão grande que, mesmo com o seu partido, a Frente Sandinista de Libertação Nacional (FSLN), governando todas as 153 prefeituras da Nicarágua, o regime está promovendo uma grande perseguição nas administrações municipais.

Os prefeitos, eleitos em novembro de 2022 em pleitos com indícios de fraude, opositores impedidos de participar e altíssima abstenção (83%, segundo o observatório Urnas Abiertas), tomaram posse em janeiro de 2023.

Desde então, segundo um levantamento do site Nicaragua Investiga, 19 prefeitos foram removidos do cargo, uma média de quase um por mês.

A primeira vítima desse expurgo foi o prefeito de El Tuma – La Dalia, Jaime Arauz Centeno, que foi destituído nove dias depois de tomar posse para o seu quarto mandato. A mais recente foi Rosario Caldera, de Granada, na semana passada.

O curioso é que Caldera já havia substituído em março de 2023 outro prefeito, Pedro Pablo Vargas Mena, que apresentou sua “renúncia” alegando “razões de saúde” – a renúncia forçada é uma arma comum do sandinismo para amenizar as cassações.

Nesta segunda-feira (14), o jornal Confidencial noticiou que a Procuradoria-Geral da República está realizando atualmente auditorias nas prefeituras de Granada, Nandaime, San Carlos, Cárdenas, Moyogalpa e Buenos Aires (cidade homônima da capital argentina localizada no departamento de Rivas).

Na maioria dos casos, os órgãos do regime sandinista, como a Controladoria-Geral da República, alegam corrupção como o motivo para as destituições, mas a falta de transparência é tão grande que analistas acreditam que tudo não passa de ajustes políticos.

“[Esses casos] não só corroem a confiança pública, mas também questionam a legitimidade da luta contra a corrupção na Nicarágua, onde as ações do governo parecem mais alinhadas com o controle político do que com a verdadeira responsabilização”, observou a Urnas Abiertas ao Nicaragua Investiga.

Ivania Álvarez, diretora do observatório, disse ao Confidencial que, apesar das denúncias de “sinais de corrupção, nepotismo, desvio de fundos” e outras irregularidades nas prefeituras, um motivo claro para cassar prefeitos são “divergências internas com outras autoridades locais que contam com a confiança do casal presidencial” – Ortega e sua esposa e vice-presidente, Rosario Murillo.

Álvarez afirmou que as autoridades municipais são submetidas a “constantes testes de lealdade e obediência” e “é evidente que não existe autonomia dos poderes municipais”. Quem não passa nesses testes, é destituído e obrigado a passar por extensos interrogatórios e/ou colocado em prisão domiciliar.

“É uma forma de enviar uma mensagem a todas as autoridades locais do Poder Executivo de que ninguém está seguro a menos que demonstre uma lealdade inquestionável”, disse Álvarez.

Fonte: gazetadopovo

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