Netflix: especialista explica romantização de serial killer em Dahmer


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Os meios de comunicação em todo o mundo foram completamente tomados pela saga de descobrir cada vez mais sobre a tenebrosa história do serial killer Jeffrey Dahmer, responsável por assassinar, desmembrar e comer cerca de 17 homens e garotos entre 1978 e 1991. O boom que cerca o “monstro de Milwaukee” foi inspirado pela minissérie Dahmer: Um Canibal Americano, lançada pela Netflix na última semana. Acontece que a produção de Ryan Murph (Glee e American Horror Story) causou polêmica por conta da suposta romantização de um criminoso frio e brutal.

Não precisa muito para provar este ponto: em 1991, quando Dahmer foi preso, a série mostrou que o assassino recebia cartas de amor de seus fãs. Agora, em 2022, internautas levantaram um interesse sexual por Jeffrey nas redes sociais, enquanto uma australiana chegou a tatuar o rosto do serial killer em sua perna.

“A foto de Jeffrey Dahmer definitivamente dá algo que eu não sabia ou achava que teria”, escreveu um internauta no Twitter. “Jeffrey Dahmer é quente”, apontou mais um. Outra pessoa ainda se irritou com o fato de Evan Peters, ator que vive Dahmer na minissérie da Netflix, ser o primeiro resultado quando se busca algo sobre o serial killer na internet.

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Dito isso, vale lembrar que Jeffrey Dahmer tinha como modus operandi atrair homens, geralmente homossexuais, para o seu apartamento, prometendo uma remuneração financeira caso posassem nu para ele. Em seguida, ele colocava drogas na bebida da vítima e a estrangulava. Seus crimes ainda envolviam necrofilia e canibalismo.

Essa romantização e paixão por um serial killer, no entanto, não é incomum. O dr. Leonardo Rodrigues da Cruz, médico psiquiatra do Instituto Meraki-Saúde Mental, explicou ao Metrópoles que a prática se chama hibristofalia, condição na qual a excitação sexual, facilitação e obtenção de orgasmo dependem de estar com um parceiro conhecido por cometer um ultraje ou crime.

Rodrigues da Cruz explicou que as pessoas costumam “encontrar o interesse por serial killers como uma manifestação da própria curiosidade pela agressividade”. Ele ainda pontuou que existe um tipo de perfil em pessoas que costumam criar envolvimento amoroso ou sexual com assassinos:

“Geralmente são pessoas que tiveram uma infância, uma adolescência, que houve uma desconstrução, uma violência, uma traumatização. Essas pessoas [serial killers] podem ter um traquejo social, ter um carisma, podem ser encantadoras quando querem. É uma persona. [Eles podem] mostrar para outras pessoas coisas que atraem. Muitos desses psicopatas acabam se tornando aquilo que a vítima quer”.

Ética na retratação de crimes

Mesmo com todo o sucesso de Dahmer, segunda série mais assistida da Netflix na sua semana de estreia após a quarta temporada de Stranger Things, a plataforma de streaming vem recebendo críticas por parte de familiares das vítimas e de internautas que indicam uma tentativa da “locadora vermelha” de causar empatia na história do assassino à sangue-frio.

Eric, primo de Errol Lindsey, morto pelo assassino aos 19 anos, usou as redes sociais para condenar a produção e falar como a família se sentiu ao assistir à produção.

“Eu não estou dizendo a ninguém sobre o que assistir. Eu sei que a mídia de true crime é enorme agora, mas se você está realmente curioso sobre as vítimas, minha família [os Isbells] está furiosa com essa série”, afirmou ele no Twitter. Eric ressaltou ainda que rever a história faz com que eles também revivam sentimentos dolorosos.

O dr. Leonardo Cruz lembra que expor a história de vida de um criminoso pode gerar empatia, mas que as atitudes de um assassino não devem ser normalizadas: “Quando você expõe a história de vida do criminoso, você acaba gerando empatia por ele. É como se as atitudes dele fossem justificadas pela história difícil. O que não é verdade. Muitas pessoas passaram por histórias difíceis, mas a maioria não vai cometer crimes como ele [Jeffrey Dahmer] cometeu.”

Até quando é saudável assistir?

O médico psiquiátrico ainda indicou haver uma linha tênue entre o quanto é saudável e até onde deve ir à retratação dessas histórias de true crime. “O ideal é que a perspectiva sempre seja a da vítima ou do crime, e não do criminoso. A gente não pode normalizar esse tipo de comportamento ou justificá-lo. A gente pode considerar a história humana dele, mas isso não desfaz o dano que ele causou. Todo o rastro que ele deixou”, pondera.

O especialista ainda comentou sobre a superexposição da história de vida das vítimas: “Quando a gente tem uma vítima de violência, a gente tende a evitar em uma primeira abordagem falar com que ela reconte essa história, porque isso pode causar uma revivência da violência. Quando isso é demonstrado numa série de alcance global, com certeza a privacidade, a dor, foi rompida e essas pessoas podem voltar a experimentar esse sofrimento.”

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