No dia 20 de novembro é celebrado o Dia da Consciência Negra. A data foi escolhida em homenagem ao dia da morte de Zumbi dos Palmares, símbolo da resistência dos negros escravizados no Brasil, e tem como objetivo ser um dia de reflexão em torno da luta da população negra brasileira por direitos iguais.
Uma das entidades que atua nessa luta é a Fundação Cultural Palmares. Desde a sua fundação, em agosto de 1988, ela trabalha para proporcionar promoção e preservação dos valores culturais, históricos, sociais e econômicos decorrentes da influência negra na formação da sociedade brasileira.
🇧🇷✊🏿 Presidente da Fundação Palmares diz que governo tem papel principal na equidade racial
O presidente da Fundação Palmares, João Jorge Rodrigues, concedeu uma entrevista para o podcast Jabuticaba Sem Caroço, da Sputnik Brasil, e lembrou a importância de órgãos governamentais… pic.twitter.com/TOXIJHAiQQ
— Sputnik Brasil (@sputnik_brasil) November 20, 2024
Em entrevista ao podcast Jabuticaba Sem Caroço, da Sputnik Brasil, João Jorge Rodrigues, presidente da Fundação Palmares, narra os desafios do Brasil para combater o racismo e promover a equidade social e racial.
Rodrigues afirma que a cultura afro-brasileira é significativa no Brasil porque é a cultura de 56% da população brasileira, algo como 102 milhões de pessoas, “a segunda [maior] população negra do mundo, depois da Nigéria”.
“Ela [a luta], na realidade, está muito mais nos dados da pobreza, da desigualdade, do que no Brasil como um todo. Isso é decorrente do fato de que nós tivemos um longo processo de escravização dos africanos, de 1532 até 1888, mais de 330 anos [356]. E, ao mesmo tempo, não produzimos políticas públicas logo após a abolição da escravatura, de 1888. Com isso, ficou uma consequência que é a geração das favelas, a maioria nas prisões, a intolerância religiosa, a pouca participação na economia de ponta”, afirma.
Ele destaca que “a consciência negra é uma consciência da humanidade, é a consciência da ideia de que os seres humanos são iguais, independentemente da cor da pele, da religião e da origem”, e o Brasil é um dos grandes países do mundo, junto com EUA, Índia e África do Sul, “com essa necessidade de superar a escravidão”.
“Nós não podemos continuar como se estivéssemos em 1695, quando Zumbi foi morto pelas tropas de domínio do Jorge Velho. Nós temos que estar em um ambiente da igualdade e da liberdade. É preciso algo como a África do Sul, de reconciliação do Brasil com os brasileiros de todo tipo”, argumenta.
Ele ressalta que quando foi alçado ao posto de presidente da Fundação Palmares, em 2023, a entidade estava abalada pelo governo anterior e foi necessário um trabalho que ele classifica como “renascimento dessa fundação”.
“Foi praticamente um renascimento. Para sair de onde estava e vir para uma casa nova, um setor de autarquia, onde contempla um bom funcionamento, uma condição de trabalho melhor, foi uma guerra. E, ao mesmo tempo, uma guerra vencida. Fora o tratamento que nós estamos dando aos novos editais, às políticas públicas e à participação da Fundação Palmares nas políticas do Ministério da Cultura.”
Segundo Rodrigues, “o Brasil precisa fazer uma travessia entre o apartheid montado anos atrás e o progresso, fazer uma travessia entre a escravidão e a democracia”, entre o passado, o presente e o futuro.
“Já avançamos, mas precisamos de 2030. Por que 2030? Porque nós estamos planejando várias coisas com o clima, com o meio ambiente para 2030. Em 2030 talvez a gente faça uma avaliação: o que é que a gente precisa para 2070, para 2100?”
Ele acrescenta que a Fundação Palmares voltou para o seu cenário, que é “o cenário da cultura, da ciência, da tecnologia, do prazer, da identidade, do respeito ao outro”.
“Aqui não se grita, não tem palavrão, aqui não se trata ninguém mal. Pelo contrário, é um ambiente de fraternidade, de construção. Isso pode parecer estranho, mas é um órgão público com viés popular. É um órgão público com viés de respeito. É um órgão público de tratamento humano”, afirma Rodrigues.
Fonte: sputniknewsbrasil