Na vida, na mentira e na guerra, a inteligência artificial veio para ficar, afirmam analistas


Nos últimos anos, a inteligência artificial (IA) deu um salto em seu desenvolvimento que surpreendeu até os mais aficionados por tecnologia. Em entrevista ao Mundioka, podcast da Sputnik Brasil apresentado pelos jornalistas Melina Saad e Marcelo Castilho, especialistas alertaram para alguns dos usos indevidos dessa novidade tecnológica.

Como funciona a inteligência artificial?

Entrevistado pelo podcast, o professor Cláudio Miceli, do Programa de Engenharia e Sistemas de Computação do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa em Engenharia (Coppe) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), descreveu como funciona a inteligência artificial.
Segundo o acadêmico, a IA não é nada mais do que um sistema capaz de encontrar padrões em grandes volumes de dados e, “a partir desses padrões, tenta criar regras para construir” seus modelos.
É o caso do Chat GPT, que trabalha com um grande volume de texto e, depois de ter analisado esse grande volume, é capaz de gerar um texto provável como resposta para uma pergunta.

“Muitas vezes ele está, inclusive, errado”, frisa Miceli.

Só que uma parte do tempo ele está correto. “Uma parte do tempo ele é coerente e dá uma boa resposta. Então a IA, enquanto ferramenta para melhorar o ser humano, melhorar nossa produtividade, ela é extremamente poderosa.”

Como a IA vai afetar o trabalho?

Para Carlos Eduardo Pedreira, chefe da linha de Inteligência Artificial do Programa de Engenharia e Sistemas de Computação do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa em Engenharia (Coope) da Universidade Federal do Rio de Janeiro, os modelos de inteligência artificial vão afetar negativamente os empregos atuais.

“Isso significa uma perda de empregos enorme. […] Isso já está acontecendo e vai se acelerar.”

O acadêmico fez um paralelo com a Revolução Industrial, na qual os artesãos perderam os empregos porque fábricas foram criadas. “Os meios de produção passaram a ser mecânicos e muita gente perdeu o emprego.”
No caso do Brasil, isso é ainda mais preocupante pois os empregos perdidos são “os empregos das pessoas com menor nível educacional”, quando, na outra ponta, “estão sendo gerados empregos para quem tem mais formação.”

“Isso significa que em um país como o Brasil a gente vai acelerar uma desigualdade social.”

IA vai ‘acelerar’ a produção de fake news

Segundo Cláudio Miceli, outro âmbito que será afetado pela inteligência artificial será a produção de fake news. Elas, ressalta o professor, não foram criadas com a inteligência artificial, mas essa ferramenta pode gerar fake news “em uma proporção muito maior, muito mais rápida”.
Empresa de tecnologia em lançamento de produtos alimentados por inteligência artificial para uso em computadores e aplicativos. Nova York, EUA, 14 de dezembro de 2023 - Sputnik Brasil, 1920, 21.12.2023

A IA também será capaz de criar inverdades muito mais eloquentes e verossímeis, como os vídeos em deepfake.
O problema, para Miceli, não é nem a construção de mentiras, mas a impossibilidade de diferenciar a verdade da mentira “justamente pelo volume muito grande de informação”.

“O que a gente está gerando é uma sociedade que tem um volume gigantesco de informação, que a verdade ou a mentira, elas são muito parecidas, porque elas são construídas para serem muito parecidas, onde a grande massa da população não é capaz de discernir entre essas duas vertentes.”

A inteligência artificial na guerra

Um dos aspectos mais sinistros do uso de inteligência artificial tem sido sua militarização. Exércitos ao redor do mundo têm se utilizado da produção de dados por sistema de vigilância, como câmeras e satélites, para treinar algoritmos e produzir alvos.
O caso mais recente foi denunciado pela revista israelense Magazine +972 e pelo grupo Local Call. Segundo os ativistas, através de aprendizado de máquina, as Forças de Defesa de Israel (FDI) estavam produzindo alvos para serem atacados antes mesmo dos ataques do Hamas de 7 de outubro.
Palestino sai de prédio destruído por bombardeio israelense na Faixa de Gaza, no campo de refugiados Al-Maghazi, em Deir al-Balah, em 25 de outubro de 2023 - Sputnik Brasil, 1920, 02.05.2024

Através da ferramenta Lavender de inteligência artificial, as FDI determinaram, probabilisticamente, quais alvos atacar e com que tipo de armas abatê-los.
As denúncias do grupo afirmam que, quanto mais baixo na estrutura do Hamas, mais “burra” era a bomba utilizada, isto é, mais dano colateral ela infringia ao seu redor.
Segundo Pedreira, o uso de novas tecnologias na guerra é inevitável.

“Os esforços de guerra envolvem muito dinheiro, muitos recursos e é natural que atraiam as novas tecnologias independentemente dos seus custos […] Eu não vejo novidade com a questão dessas tecnologias estarem sendo usadas na guerra. Isso eu ousaria dizer que sempre existiu.”

Foi assim com os aviões, com a bomba atômica, com os drones e “seguirá sendo assim com todas as tecnologias que estão surgindo nesse momento”.
No entanto, o grupo apontou também que há uma margem de erro para a criação de alvos pelos sistemas das Forças de Defesa de Israel. Para o especialista, contudo, em todos os modelos de IA há margem de erro, mas isso também já existia antes da inteligência artiicial.
“Temos que tomar muito cuidado para não imputar à inteligência artificial […] coisas que são específicas da tecnologia militar.”
Segundo Pedreira, o uso da IA em todos os âmbitos da vida humana é “irreversível”. “O uso veio pra ficar”, cravou.
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Fonte: sputniknewsbrasil

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