Mundo desequilibrado pode impactar futuro da Antártica, mas acordos seguem respeitados, diz analista


As incertezas em torno do futuro da Antártica foram tema do episódio do podcast Mundioka, da Sputnik Brasil, desta quinta-feira (22).
O glaciólogo Jefferson Cardia Simões, professor de Geografia Polar da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), destacou em entrevista às jornalistas Melina Saad e Thaiana Oliveira que os interesses no continente gelado são diversos e envolvem vários países.
Oficialmente, são sete os países que possuem reivindicações territoriais sobre partes da Antártica: Argentina, Chile, Reino Unido, Noruega, Austrália, França e Nova Zelândia.

“Sete países fizeram reivindicações territoriais antes do Tratado da Antártica, antes de 1959. Mas todos os outros países do mundo não reconhecem essas reivindicações”, apontou Simões.

O glaciólogo aponta que os interesses na Antártica podem ser ambientais, científicos e políticos, inclusive estratégicos. “Do ponto de vista ambiental, a Antártica é parte essencial do sistema ambiental terrestre“, disse.
No entanto, não é apenas a defesa do meio ambiente e o alto potencial em pesquisa que interessam aos países. Há questões políticas e estratégias relevantes a serem debatidas sobre o continente.

“A Antártica é um continente e como qualquer continente tem um potencial muito grande de ter recursos minerais. E cabe aos países que decidem o futuro da Antártica, que são os países com direito a votar — hoje, são 29 países, incluindo o Brasil — decidirem o que vai se passar no futuro.”

Questionado sobre a possibilidade de revisão do tratado, Simões aponta que não vê evidências categóricas de que isso possa ocorrer, mas pondera que “o mundo evidentemente está muito desequilibrado” após a pandemia da COVID-19.
“Mas não temos evidência nenhuma e temos 25 anos pela frente para alguma realmente começar a acontecer. No momento, esse tratado que fez 61 anos de vigência [entrou em vigor em junho de 1961] é o de maior sucesso de tratados internacionais e também com características peculiares, como a proteção muito restrita do meio ambiente”, afirma.
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Além do tratado assinado em 1959, em Washington, D.C., Estados Unidos, outros documentos foram criados posteriormente para a preservação do continente, formando o chamado Sistema de Tratados Antárticos. Entre eles está o Protocolo de Madri, assinado na capital espanhola em 4 de outubro de 1991, que entrou em vigor em 14 de janeiro de 1998. Esse acordo se destina à proteção integral do continente gelado por um período mínimo de 50 anos, podendo ser modificado depois, por decisão unânime dos membros consultivos do Tratado da Antártica.

“Por enquanto, nós temos uma moratória até 2048 que não permite a exploração de recursos minerais, recursos não renováveis. Mas, em 2048, nós vamos ter que tomar algumas decisões”, explicou o especialista.

Simões comentou ainda os questionamentos da Austrália sobre um suposto recrudescimento do uso de centros de pesquisa para fins militares. O pesquisador disse que isso não ocorre e que as únicas movimentações militares que se tem notícia envolvem Chile e Argentina, que sempre mantiveram presença militar na região. Ele reforçou, inclusive, que essa presença têm diminuído.

“Essas bases não têm cientistas. São basicamente de pessoal militar, desarmado, que muitas vezes oferecem apoio à comunidade científica e outras vezes só estão lá para fazer presença. Fora isso não temos evidência de nada”.

Fonte: sputniknewsbrasil

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