Multipolaridade sob ataque: EUA querem isolar o Brasil do BRICS com tantas pressões?


Em um dos momentos mais críticos das relações entre Brasil e Estados Unidos, a Casa Branca tem dado demonstrações claras de que quer usar toda a sua força para pressionar o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva a mudar o rumo da política, tanto interna quanto externamente.
Nas palavras do presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado norte-americano, o republicano e aliado próximo de Trump, James Risch, está nas mãos do Brasil escolher entre ser próximo de Washington ou do que classificou como “regimes autoritários” dos integrantes do BRICS.
A economista e professora da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Carla Beni, explica à Sputnik Brasil que os Estados Unidos passaram a utilizar medidas como tarifas de importação, que no caso brasileiro foi fixada em 50%, não como ferramenta de política econômica, mas de pressão para que interesses norte-americanos sejam atendidos.

“Trump está literalmente decidindo isso fora de um propósito de comércio internacional. Quando ele diz que aplica a lei Magnistky para um ministro do STF, sobretaxa a Índia por que ela está comprando petróleo russo, ou ameaça aumentar as tarifas do Canadá se o país reconhecer o Estado palestino, está completamente fora do padrão desde o pós-guerra“, argumenta.

Em relação ao discurso que tem ganhado força nos Estados Unidos de que o Brasil passou a se alinhar com “países totalitários”, a especialista classifica o posicionamento como de “uma hipocrisia sem tamanho”, afinal, os Estados Unidos tem mantém boas relações com países do golfo Pérsico, como os Emirados Árabes Unidos. “O que interessa é o negócio, é o business.”
Ao mesmo tempo, para Beni, querer forçar o país a escolher entre um e outro “é um erro a priori”.

Brasil e a aposta em um ‘multialinhamento’

Já a professora de relações internacionais da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), Ana Garcia, lembra à Sputnik Brasil que nas últimas décadas, com exceção dos anos de governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), a chancelaria brasileira tem adotado uma estratégia de multialinhamento global.
Isso quer dizer que Brasília busca manter boas relações tanto com as maiores potências em disputa, como China e Estados Unidos, quanto com outras partes do globo, como Europa e África, além de defender uma maior integração latino-americana.
Porém, o Brasil viveu uma virada de chave em agosto. quando deixou de figurar na lista de países com menor tarifa de importação, quando os Estados Unidos iniciaram sua guerra tarifária no início do ano, para a maior alíquota em vigor.
Para Garcia, a pressão norte-americana esbarra em um governo que tenta “não ser submisso aos Estados Unidos” e, diante disso, Washington tem visto o efeito contrário e empurrado o país cada vez mais para aliados, como o BRICS.

“Tanto do ponto de vista pragmático quanto ideológico, o governo atual vai buscar diversificar mais ainda as relações, só que esse é um processo que demora, principalmente na questão do mercado. Agora resta saber como o país vai atravessar essa fase de transição até que as coisas se reestabeleçam.”

Aliado a isso, a professora da UFRRJ acrescenta que, diferentemente de outros países, as tarifas contra o Brasil estão atreladas ao julgamento do ex-presidente Bolsonaro, condenado a mais de 27 anos de prisão na última semana por liderar a trama golpista.
“É isso que se torna inaceitável, que faz do processo contra o Brasil muito mais crítico do que o imposto para Índia ou África do Sul.”
Garcia enfatiza que dentro dos membros do BRICS também houve o caso da Indonésia, que chegou a um acordo com a Casa Branca e viu sua tarifa baixar para 19%. “Que ainda assim é alta”, comenta. “Ainda dentro do BRICS, a China é um caso separado, já que tem poder de barganha.”

As eleições presidenciais e a relação entre Brasil e EUA

As medidas de retaliação contra o Brasil ocorrem a pouco mais de um ano para o início da campanha presidencial e, até o momento, conseguiram favorecer o presidente Lula em seu processo de reeleição. Contudo, também municiou o discurso de eventuais candidatos da oposição, como o governador mineiro Romeu Zema (Novo) que, ao anunciar a pré-candidatura ao Palácio do Planalto, já chegou a prometer tirar o Brasil dos BRICS para se aproximar dos EUA.
Diante disso, Ana Garcia acredita que o futuro das relações entre os dois países vai depender muito do cenário eleitoral do próximo ano.
“Se houver uma continuidade do governo Lula, a tendência é de intensificação de novos acordos comerciais e de cooperação econômica com outros países. Mas em uma mudança à direita, é possível que haja uma reaproximação política com os norte-americanos, porém em um grau maior de submissão, o que de modo geral não é vantajoso para o país”, analisa.
Isso porque, segundo a especialista, esse tipo de alinhamento afeta justamente a soberania de um país, tanto econômica quanto politicamente. Para isso, é preciso fortalecer o país e também buscar uma diversidade cada vez maior de atores globais, aumentando o poder de barganha.

“Mas é necessário pontuar que o multialinhamento do Brasil não é igualitário para todos. Infelizmente, o país perdeu muito mercado na própria região [América Latina] com a entrada da China, o que é ruim, porque o mercado latino-americano para produtos manufaturados brasileiros era o que mantinha a indústria nacional”, finaliza.

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Fonte: sputniknewsbrasil

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