“O principal problema é que pouco se sabe sobre elas [as universidades] na Rússia. A academia brasileira é grande e por isso se concentra em si mesma. Bem, isso também está relacionado ao problema da língua. Na Rússia, os problemas são semelhantes. Estamos tentando nos tornar parte do espaço científico global de língua inglesa. Mas quem disse que não existe pesquisa além dele? E é de qualidade. Alguns desses estudos podem ser de grande interesse para o público russo e vice-versa. Além disso, há muito em comum entre nossos países: temos tendências muito semelhantes nos mercados de mídia, taxas de crescimento de mercado semelhantes (em comparação com a segunda metade da associação BRICS, Índia e China, onde essas taxas estão significativamente à frente das nossas). E nas condições atuais, quando existem várias restrições à interação institucional com as academias ocidentais, a interação com aqueles que estão prontos para trabalhar conosco é muito importante”, sublinhou.
“A Rússia tem uma outra referência para pensar a sociedade e a natureza, não está lastreada na mesma referência filosófica que a nossa. Para nós é importante ouvir essa referência. A academia russa tem forte experiência soviética, marxista, os cientistas russos trazem uma experiência de lidar com linguagem e semiótica próprias. O campo científico está acima das nações, e a universidade não pode chancelar o que diz a política de nações”, ressaltou Ferreira. “Não é com o isolamento ou com o cancelamento desses pesquisadores que nós conseguiremos fazer avançar as reflexões sobre o atual momento do mundo, um momento muito delicado que não envolve só a questão da Ucrânia e Rússia. Envolve questões ambientais, a discussão de um mundo multipolar, de um mundo que dialogue com o Leste Europeu e com a Ásia. Não concordamos com essa polarização gerida por estrategistas do Ocidente, não vamos chancelar esse tipo de cancelamento. Pelo contrário: vamos trazê-los para o debate.”
Fonte: sputniknewsbrasil