O mercado de robusta continua chamando atenção nas negociações globais. Enquanto o café arábica teve um dia de ajustes técnicos para os preços, a Bolsa de Londres teve mais uma sessão de valorização expressiva de 3,89%, apesar da safra do Vietnã em plena colheita. A justificativa do mercado é justamente a preocupação com a oferta global deste tipo de café que está com demanda aquecida, mas que tem uma produção repleta de problemas nas principais origens.
Nesta terça-feira (12), o contrato março/24 teve alta de US$ 102 por tonelada, negociado por US$ 2724, maio/24 registrou alta de US$ 95 por tonelada, cotado por US$ 2677, julho/24 teve valorização de US$ 87 por tonelada, negociado por US$ 2635 e setembro/24 avançou US$ 87 por tonelada, valendo US$ 2598.
Fernando Maximiliano, da StoneX Brasil, explica que a grande preocupação do mercado consiste na produção global do produto que deve ter um déficit, consequência das mudanças climáticas. Vietnã e Indonésia, os dois principais países produtores de robusta do mundo, enfrentam quebra na produção, o El Niño no Brasil levanta incertezas e o mercado que desde os problemas no arábica demanda este tipo de café, se mostra aquecido.
Os números mais recentes do USDA mostram queda de pelo menos 3,8 milhões de sacas no Vietnã (em relação a estimativa divulgada anteriormente) e a safra sendo colhida deve ficar em torno de 27.5 milhões de sacas. Já na Indonésia, a expectativa de uma produção de 9.7 milhões de sacas, o que representa queda de 2,15 milhões de sacas para o ciclo atual.
A quebra nas duas origens são justificadas pelos impasses climáticos. O levantamento realizado pela StoneX mostra, por exemplo, que há quatro meses as chuvas estão abaixo da média na Indonésia. Os produtores também já têm preocupação com a próxima safra, já que o momento atual é de extrema importância para o desenvolvimento da planta.
“Nós temos claramente um problema sério na Ásia. A demanda por esse café está muito aquecida e por isso estamos vendo essa diferença muito grande nas negociações”, afirma o especialista. Fernando destaca ainda os atuais diferenciais de preços para o mercado.
Na Indonésia, por exemplo, a negociação está US$ 700 acima da Bolsa de Londres. No Vietnã esse diferencial fica entre US$ 200 e US$ 300 a tonelada. Todos esses fatores colocam o Brasil em um patamar privilegiado de negociação, ficando competitivo, fato esse que é comprovado pelos dados mais recentes de exportação.
Segundo o relatório do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé), no mês de novembro o país exportou 600 % a mais de canéforas (robusta e conilon), com 856 mil sacas, embarcando inclusive para o Vietnã e Indonésia no último mês.
“O Brasil está mais competitivo e vai se manter assim enquanto esse cenário de instabilidade permanecer. O nosso café é mais barato e eles também precisam de matéria-prima. Enquanto esse cenário se manter, o Brasil vai continuar sendo um importante exportador. Continua sendo um ótimo momento para esse produtor no Brasil”, afirma.
O cenário é positivo em termos de preços e principalmente de reconhecimento da qualidade deste tipo de café proveniente do Brasil. Mas, por aqui, o cenário climático também é um fator de preocupação e sendo monitorado pelos players.
Os dados da StoneX Brasil mostram que as chuvas estão abaixo da média em importantes áreas de produção de conilon. No mapa abaixo é possível observar que regiões no Espírito Santo têm até 20% a menos de chuva nos últimos 60 dias.
Além disso, Fernando explica que as altas temperaturas que também atingem o parque cafeeiro são uma grande preocupação. Ele ressalta que mesmo nas lavouras irrigadas – boa parte do estado, nos dias em que as temperaturas estão elevadas, a planta acaba perdendo mais água do que o ideal. Outro ponto de atenção é a queima de folhas e frutos.
Maximiliano explica que é preciso monitorar porque as lembranças do último El Niño trazem ponto de atenção, apesar do produtor em 2023 estar mais tecnificado e ter investido em irrigação nos últimos anos. Entre os anos de 2014 e 2016 o fenômeno climático tirou 6.5 milhões de sacas de conilon do Brasil.
“Entre 2015 e 2016, o Governo do Estado proibiu a irrigação. Esse ano já emitiu alerta da condição hídrica. Importantes municípios produtores também já começam a alerta sobre a condição. Não acreditamos em um problema com a dimensão de 2016, mas é preciso monitorar com muita atenção”, afirma.
Até que se confirme o volume mundial de produção deste tipo de café, o analista continua apostando na boa participação do Brasil no mercado internacional. A safra do Vietnã, que poderia pressionar o mercado, está em pleno acontecimento e esse café deve começar aparecer a partir da segunda quinzena deste mês.
“No entanto, os players estão olhando para frente. Existe esse risco de déficit que é real. O grande diferencial da crise de 2016 para 2023, é justamente que o mundo não demandava tanto conilon do Brasil. Temos uma indústria interna forte, mas um mercado internacional aquecido. O cenário é muito positivo enquanto tivermos essa condição de oferta limitada, mas precisamos monitorar as condições das nossas lavouras de perto”, finaliza.
Fonte: noticiasagricolas