Nesta sexta-feira (30), o Ministério da Defesa da Rússia anunciou o balanço das perdas militares ucranianas durante a incursão de Kiev na região de Kursk. De acordo com o ministério, lançadores múltiplos de foguetes Himars e estações de guerra eletrônica ucranianos também foram destruídos.
“No total, durante os combates na direção de Kursk, o inimigo perdeu mais de 7.800 militares, 75 tanques, 36 veículos de combate de infantaria, 64 veículos blindados de transporte de pessoal, 507 veículos de combate, 235 carros e 53 peças de artilharia”, detalhou o ministério russo.
Diante da desaceleração da incursão ucraniana em Kursk, países da OTAN debatem a possibilidade de retirar restrições ao uso de suas armas de longo alcance para uso dentro do território russo. O governo de Vladimir Putin, no entanto, já sinalizou que a medida representaria um alto risco de escalada militar do conflito.
Um artigo recentemente publicado na revista Foreign Affairs, intitulado “A falsa promessa dos ataques de longo alcance da Ucrânia contra a Rússia”, sugere que esse tipo de ataque teria pouca eficácia militar, caso a Ucrânia não tenha forças terrestres fortes o suficiente para realizar incursões de larga escala. Para o autor do artigo, Stephen Biddle, a Ucrânia não demonstra capacidade de aliar esses supostos ataques de longo alcance a incursões terrestres robustas.
“A execução de tudo isso está longe de ser fácil. Em sua ofensiva do verão de 2023, os militares ucranianos não demonstraram capacidade de coordenar forças em uma escala semelhante à necessária para um avanço decisivo. Armas de longo alcance tornariam essa coordenação ainda mais complicada”, argumentou Biddle.
O professor de Geopolítica da UNEMAT e coordenador do Laboratório de Desenvolvimento Territorial e Geopolítica (DTG-LAB), Vinicius Modolo Teixeira, concorda com a análise, lembrando que a dificuldade ucraniana em recrutar tropas limita severamente a eficácia de suas incursões terrestres.
“A Ucrânia tem uma limitação muito grande em número de tropas, de homens no terreno para fazer essa guerra com a Rússia escalar de maneira territorial”, disse Teixeira à Sputnik Brasil. “Kiev tem recorrido a recrutamento forçado, à prisão de pessoas que se negam a servir ao Exército, isso mostra um desespero em termos de quantitativo de homens no campo de batalha.”
Segundo ele, a incursão em Kursk enfraqueceu a posição ucraniana no front de Donbass, permitindo avanços rápidos da parte russa. Em contraste, as tropas de Kiev circulam por um território limitado dentro da Rússia, a poucos quilômetros da fronteira.
© Sputnik / Maksim ZakharovDestroços de um dos mísseis ATACMS fabricados nos EUA e abatidos pela defesa aérea da Rússia perto de Lugansk, foto publicada em 19 de julho de 2024
Destroços de um dos mísseis ATACMS fabricados nos EUA e abatidos pela defesa aérea da Rússia perto de Lugansk, foto publicada em 19 de julho de 2024
© Sputnik / Maksim Zakharov
“Esse ataque dentro do território russo tem uma efetividade mínima. Estrategicamente, ele vai garantir poucos ganhos”, acredita Teixeira. “O ataque tem mais impacto midiático, um impacto dentro da esfera da OTAN, demonstrando que a Ucrânia é capaz de fazer alguma intervenção, algum tipo de ação ofensiva.”
Para o doutor em Geografia pela UNICAMP Gustavo Glodes Blum, o governo Zelensky realiza operações perigosas, mas com claro apelo midiático, para compensar a atual desvantagem ucraniana em um possível processo de paz. Segundo o analista, o baixo entusiasmo ocidental em manter o apoio a Kiev, associado ao crescente questionamento da liderança de Zelensky, teriam levado Kiev a apostar na investida em Kursk.
“Desde o fracasso da Cúpula de Paz na Suíça , o governo Zelensky percebeu que o apoio ocidental e de outros países é mais simbólico do que material”, disse Blum. “Então tomaram essa decisão relativamente suicida de entrar no território russo para futuramente propor trocas de territórios em um processo negociador.”
No entanto, para que a Ucrânia logre “criar condições de igualdade” em relação às forças russas, seu Exército precisaria manter o controle sob o território atacado, lembrou Blum. Caso a Ucrânia não seja capaz de garantir uma presença institucional nas terras que adentrou, o desafio imposto à Rússia se mantém modesto.
© AP Photo / Rick BowmerVladimir Zelensky acena após discursar na reunião de verão de 2024 da Associação Nacional de Governadores, 12 de julho de 2024
Vladimir Zelensky acena após discursar na reunião de verão de 2024 da Associação Nacional de Governadores, 12 de julho de 2024
© AP Photo / Rick Bowmer
“Uma coisa é estar num território, outra é ocupá-lo. Tropas podem estar no território de um país simplesmente circulando, como o crime organizado faz no Brasil, mas sem representar perigo à soberania no sentido institucional e de comando”, explicou Blum. “Ocupar o território é exercer controle político, jurídico e econômico de fato. É substituir as instituições vigentes. E não é isso que estamos vendo do lado ucraniano.”
A dificuldade ucraniana em realizar ataques decisivos se insere na estratégia da OTAN de fornecer armamentos suficientes para manter o conflito em curso, mas não o finalizar, explicou o professor da UNEMAT Teixeira.
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5 de junho, 06:35
“A quantidade de armas que são levadas à Ucrânia jamais garantiria uma vitória sobre as forças da Rússia. O objetivo é manter a Rússia engajada e promover o seu desgaste”, disse Teixeira. “A estratégia da OTAN não é garantir que a Ucrânia ganhe ou venha a assinar um acordo de paz vantajoso, mas sim que a guerra continue o máximo possível, utilizando o território ucraniano literalmente como bucha de canhão para atingir os fins da aliança e enfraquecer a Rússia.”
O analista nota que a OTAN utiliza o território ucraniano como um espaço de testes para suas armas e sistemas bélicos, além de uma oportunidade de conhecer as capacidades militares de seu adversário russo.
“Este conflito está sendo utilizado como laboratório para experimentos e tomada de conhecimento para as possibilidades de uso de drones, inteligência artificial, sistema de defesa eletrônico, guerra desenvolvida por outros sistemas mais modernos. Quanto mais tempo o conflito durar, mais a OTAN se familiarizará com a população e tropas russas, podendo se precaver em caso de conflito direto futuro”, concluiu Teixeira.
Neste sábado (31), as Forças Armadas da Rússia anunciaram o avanço contínuo na localidade de Kirovo, na República Popular de Donetsk (RPD). Perdas ucranianas também foram registradas em regiões como Grodovka, Kalinovo, Mikhailovka, Rozovka e Druzhba (RPD), em Petropavlovka, na região da Cracóvia, e em regiões na República Popular de Lugansk, entre outras localidades.
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Fonte: sputniknewsbrasil