Mini-Malvinas: Milei cria crise externa para desviar atenção de problemas domésticos?


No início do mês, o promotor argentino Sebastián Basso pediu um mandado de prisão internacional contra o líder espiritual do Irã, Ali Khamenei, pelo planejamento e pela execução de um atentado contra a Associação Mutual Israelita Argentina (AMIA), em Buenos Aires, em 18 de julho de 1994.
No ataque, terroristas explodiram uma bomba do lado de fora do prédio da associação hebraica, matando 85 pessoas e ferindo outras 300. Até hoje, o atentado terrorista, cuja culpa recaiu sobre o movimento libanês Hezbollah, é o mais mortal a acontecer em toda a América do Sul.
Além do aiatolá Khamenei, Basso pediu o julgamento de outros suspeitos iranianos e libaneses, como Akbar Hashemi Rafsanjani — ex-presidente do Irã, já falecido —, Ali Akbar Velayati e Ali Fallahian — ex-ministros das Relações Exteriores e da Inteligência, respectivamente — e Imad Mughniyeh — chefe de operações do Hezbollah, morto em 2008.
Ativistas palestinos gritam slogans enquanto seguram cartazes com fotos do falecido líder do Hezbollah, Hassan Nasrallah, e bandeiras do Hezbollah, Líbano e Palestina durante um protesto para marcar o aniversário de um ano da guerra entre Israel e Hamas, na cidade de Ramallah. Cisjordânia, 7 de outubro de 2024 - Sputnik Brasil, 1920, 22.10.2024

As acusações, no entanto, só foram possibilitadas graças a uma lei elaborada pelo governo do presidente argentino, Javier Milei, que permite ao Judiciário julgar crimes graves sem a presença dos acusados. Em seu texto, o documento cita especificamente o atentado contra o AMIA em sua justificativa.
Essa tampouco foi a primeira vez que Milei traz à tona o atentado. Em 2024, durante seu discurso no Congresso Judaico Latino-Americano (CJL), o presidente teceu críticas aos governos e juízes do passado por não darem prosseguimento às acusações.
A professora de história da Ásia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) Samira Adel Osman ressalta que ainda que o atentado não ocupe um espaço de destaque na memória do argentino, marcou profundamente a memória israelense e judaico-argentina.
“Para efeitos de comparação, o ataque à mesquita na Nova Zelândia em 2019, que deixou 51 mortos e 89 feridos, repercute como memória mais entre os muçulmanos do que entre toda a população neozelandesa.”
Polícia tenta conter manifestantes de torcidas organizadas que protestavam perto de um mural com as imagens dos jogadores nacionais Lionel Messi e Diego Maradona. Buenos Aires, 12 de março de 2025 - Sputnik Brasil, 1920, 08.04.2025

Nesse ponto, à Sputnik Brasil, a especialista aponta que o “surto de memória e reparação” ressurge no governo Milei como uma cortina de fumaça “para desviar as críticas à sua política doméstica”. “Como uma Malvinas mas simplificada.”
Ademais, a tática visa angariar apoio da comunidade judaica do país em meio à sua crise de popularidade diante de greves gerais — um possível envolvimento em um golpe financeiro e a tomada de novos empréstimos internacionais com o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial.
Por fim, Milei visa demonstrar ao eixo Estados Unidos-Israel que “está aliado nas mesmas pautas ultraconservadoras” ao se colocar ao lado do “inimigo em comum”: a Palestina, o Irã e o Hezbollah.
Assim como o presidente de El Salvador mostra subserviência à Casa Branca de Donald Trump em sua cruzada antimigratória, Milei também espera “colher as migalhas dessa relação”.

“Como a Argentina está distante geograficamente, e longe da rota de migração ilegal para os EUA, Milei cria um factoide para agradar os EUA e o lobby sionista, procurando se beneficiar da ideia de que faz parte do ‘eixo do bem’ contra o ‘eixo do mal’.”

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Fonte: sputniknewsbrasil

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