Mídia britânica lista quais são as ‘enormes lacunas’ na defesa da OTAN em eventual guerra na Europa


Em 2023, os líderes da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) concordaram com planos para alavancar a maior revisão feita em três décadas de suas capacidades de defesa. Nos bastidores, autoridades têm se debruçado sobre os requisitos mínimos de defesa para atingir esses planos, que foram enviados aos governos nacionais nas últimas semanas.
A agência britânica conta que entrevistou 12 autoridades militares e civis na Europa sobre os planos confidenciais, que descreveram seis áreas que a aliança de 32 nações identificou como as mais urgentes a serem abordadas por sua precariedade.
Alguns dos pontos elencados pelos entrevistados foram escassez de defesas aéreas e mísseis de longo alcance, número de tropas, munição, problemas logísticos e falta de comunicações digitais seguras no campo de batalha.
A OTAN está em seu estágio de alerta mais alto desde a Guerra Fria, com suas autoridades mais pessimistas, incluindo o ministro da Defesa alemão, Boris Pistorius, alertando que um ataque russo em suas fronteiras pode acontecer dentro de cinco anos, escreve a agência.
A Reuters relatou que os planejadores da aliança acreditam que serão necessárias entre 35 e 50 brigadas extras para resistir a um ataque russo. Uma brigada engloba de 3 mil a 7 mil tropas, o que significaria algo entre 105 mil e 350 mil soldados.
Soldados finlandeses em pé sobre um tanque Leopard 2A6, no lado finlandês da travessia de fronteira de Kivilompolo entre a Finlândia e a Noruega, além do Círculo Polar Ártico, em 9 de março de 2024 - Sputnik Brasil, 1920, 12.04.2024

Berlim precisará quadruplicar suas defesas aéreas — não apenas o número de baterias Patriot, mas também sistemas de menor alcance — para proteger bases, portos e mais de 100 mil soldados que devem cruzar o país em direção ao flanco oriental em caso de tensões severas ou uma guerra, disse uma fonte de segurança à Reuters.
Isso significa, por exemplo, que a Alemanha precisaria de três a cinco brigadas extras ou de 20 mil a 30 mil tropas de combate adicionais, disse a fonte.

A Alemanha tinha 36 unidades de defesa aérea Patriot quando era o Estado da linha de frente da OTAN durante a Guerra Fria e mesmo assim dependia do apoio dos aliados. Hoje, as forças alemãs estão reduzidas a nove unidades Patriot, após doar três para a Ucrânia. O custo será considerável. Berlim acaba de encomendar quatro unidades Patriot a um preço de € 1,35 bilhão (R$ 8,26 bilhões).

No entanto, o governo alemão está planejando reduzir pela metade sua ajuda militar para a Ucrânia em 2025. Berlim, em vez disso, espera que Kiev consiga atender à maior parte de suas necessidades militares com os US$ 50 bilhões (R$ 251 bilhões) em empréstimos dos rendimentos de ativos russos congelados.
Na terça-feira (23), o Kremlin classificou novamente como “roubo” o plano da União Europeia (UE) de usar os juros obtidos com ativos russos congelados, afirmando que tomará medidas legais contra qualquer pessoa envolvida na decisão.
Paisagem composta pela torre Vodovzvodnaya do Kremlin de Moscou (em primeiro plano) e pelo prédio do Ministério das Relações Exteriores da Rússia (em segundo plano), em 2 de junho de 2024 - Sputnik Brasil, 1920, 23.07.2024

Ao mesmo tempo, os planejadores de logística da aliança estão trabalhando arduamente para descobrir como transportar alimentos, combustível e água para as tropas ao longo de uma linha de suprimentos, disse um alto funcionário da OTAN, com um segundo funcionário ressaltando que um fluxo reverso de soldados feridos e prisioneiros de guerra também terá de ser organizado.
“Eles estão desenvolvendo os mapas em detalhes granulares com os aliados”, disse a autoridade, certificando-se, por exemplo, de que as pontes sejam resistentes o suficiente para suportar cargas militares pesadas.
Outra fonte de planejamento militar esboçou um cenário em que forças inimigas poderiam ter como alvo a base aérea dos EUA em Ramstein, no sudoeste da Alemanha, ou portos do mar do Norte, como Bremerhaven, por onde as forças da OTAN viajariam a caminho da Polônia.

“Como eu protejo essas massas para que elas não se tornem alvos valiosos?”, disse a fonte. “Caso contrário, eles serão os primeiros e os últimos norte-americanos a se deslocarem para cá.”

Enquanto dezenas de milhares de tropas da OTAN e da União Soviética se enfrentaram diretamente ao longo da fronteira interna da Alemanha durante a Guerra Fria, a mobilização de tropas agora levará mais tempo, já que a linha de frente de qualquer conflito provavelmente estará mais a leste — até 60 dias, incluindo o tempo para obter uma decisão política, de acordo com o primeiro planejador militar.
Exercícios militares da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) na Romênia, em 10 de março de 2022 - Sputnik Brasil, 1920, 02.06.2024

A Europa, escreve a Reuters, não tem capacidade ferroviária suficiente para transportar tanques, e as bitolas ferroviárias variam entre a Alemanha e os antigos Estados Bálticos soviéticos, o que significa que armas e equipamentos teriam de ser carregados em trens diferentes.
O primeiro oficial de planejamento da OTAN também disse que as defesas cibernéticas precisam ser fortalecidas para proteger de um ataque de hackers que poderia afetar possíveis implantações, por exemplo, na Polônia, o que poderia bloquear desvios ferroviários e interromper os movimentos de tropas para o leste.
Político de direita Florian Philippot, líder do partido francês Patriotas, dá discurso no final de uma marcha de protesto em Paris, França, 18 de dezembro de 2021 - Sputnik Brasil, 1920, 28.05.2024

EUA e prioridade do Indo-Pacífico x OTAN

Além de todos os pontos elencados anteriormente, os planejadores fizeram fortes considerações sobre a disputa presidencial nos Estados Unidos, a qual levantou o espectro de que o poder preeminente da OTAN pode ser liderado por um homem crítico da aliança – o ex-presidente Donald Trump – que acusou os parceiros europeus de tirar vantagem do apoio militar dos EUA.

“Precisamos reconhecer que, para [os Estados Unidos da] América, qualquer, qualquer que seja o resultado da eleição presidencial, a prioridade mudará cada vez mais para o Indo-Pacífico, de modo que as nações europeias na OTAN devem fazer mais do trabalho pesado”, disse o secretário de Estado para a Defesa, John Healey, à margem da cúpula.

Em resposta às perguntas da Reuters, um funcionário da OTAN disse que os líderes da aliança concordaram em Washington que, em muitos casos, gastos além de 2% do PIB seriam necessários para remediar déficits. Ele observou que 23 membros agora atendem ao requisito mínimo de 2%, ou o excedem.

“Independentemente do resultado das eleições nos EUA, os aliados europeus precisarão continuar a aumentar suas capacidades de defesa, prontidão das forças e estoques de munição”, disse o funcionário à mídia.

Os EUA são de longe o maior contribuinte para as operações da OTAN. De acordo com estimativas publicadas em junho, Washington gastará US$ 967,7 bilhões (R$ 5,45 trilhões) em defesa em 2024, cerca de dez vezes mais que a Alemanha, o segundo maior país gastador, com US$ 97,7 bilhões (R$ 551 bilhões).
As despesas militares totais da OTAN para 2024 são estimadas em US$ 1,47 trilhão (R$ 8,31 trilhões).
Militares ucranianos carregam um caminhão com o Javelin FGM-148, míssil antitanque portátil norte-americano fornecido pelos EUA à Ucrânia como parte de um apoio militar, após sua entrega no aeroporto Borispol de Kiev, 11 de fevereiro de 2022 - Sputnik Brasil, 1920, 10.05.2024

Motivação russa

A Rússia começou sua operação na Ucrânia em fevereiro de 2022. A ação foi fortemente condenada pelos EUA e pela Europa, e fez com que Moscou recebesse uma série de sanções e ações hostis por partes de diversos líderes ocidentais.
No entanto, é preciso voltar ao passado e entender que muito o que motivou a Rússia a realizar a operação é por ter assistido, sistematicamente, a expansão da aliança militar perto de suas fronteiras.
No dia 12 de março deste ano, se marcou o 25º aniversário do início da ampliação da OTAN para o Leste Europeu, ocorrida em 1999. Movimento esse que, até agora, não parou.
Nesta quarta-feira (24), o conselheiro do Kremlin para assuntos navais, Nikolai Patrushev, disse que Washington e seus aliados da OTAN “estão aumentando sua presença militar perto de águas russas”, acrescentando que Moscou deve “fortalecer a sua Marinha para enfrentar as ameaças crescentes”.
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Fonte: sputniknewsbrasil

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