Pisar na areia da praia e curtir a natureza foi por muitos anos um dos programas preferidos do advogado cearense José Célio Peixoto Silveira, 63 anos. Mas o diagnóstico de psoríase aos 17 anos mudou isso. O desconforto com as feridas que começaram a aparecer por todo o corpo e os olhares desconfortáveis de desconhecidos o fizeram evitar se expor em público, deixando de ir à praia por um longo período. O agravamento do quadro levou à artrite psoriásica, com sequelas nos dedos das mãos e dos pés.
“Eu gostava demais de ir à praia. O sol, pisar na areia e no mar faz bem para a pele e mente, e eu tive que deixar de ir”, lembra José Célio.
Os primeiros machucados apareceram no couro cabeludo e rapidamente se espalharam para a testa, braços e pernas. “A doença começou aos poucos. Apareceram algumas feridas no couro cabeludo que descamavam, eu achava que era caspa, mas não ficava bom nunca e elas começavam a sangrar”, conta.
O diagnóstico confirmou que se tratava de psoríase, uma doença crônica inflamatória da pele, não transmissível, que atinge cerca de 2,6 milhões de brasileiros e é lembrada neste sábado (29/10), data conhecida como Dia da Conscientização da Psoríase. O momento reforça a importância do diagnóstico precoce e lembra os pacientes que, embora seja uma doença grave e sem cura, existe tratamento para o alívio dos sintomas e desconfortos subsequentes.
Sintomas da psoríase
A psoríase costuma se manifestar em pessoas jovens, com idades entre 20 a 40 anos. Assim como Célio, eles sofrem com lesões de tamanhos variados na pele, delimitadas e avermelhadas, com escamas secas esbranquiçadas ou prateadas que surgem no couro cabeludo, joelhos e cotovelos. Elas causam muito desconforto, como coceira, dor, ardor, sensação de queimação e espessamento da pele.
Nos casos mais graves, os pacientes podem desenvolver artrite psoriásica, uma inflamação nas articulações que afeta os dedos das mãos e dos pés, coluna, joelhos, tornozelos e quadris. Os sintomas limitam a realização de tarefas do dia a dia, trabalho, lazer e as relações sociais, além de serem rodeados pelo preconceito.
Em 1988, doze anos depois do diagnóstico de psoríase, José Célio começou a sentir fortes dores nas articulações dos joelhos e dedos das mãos e dos pés e problemas de coluna. Os sintomas foram relacionados à artrite psoriásica.
“A doença me maltratava muito pelas dores e deformações nos dedos das mãos e dos pés. Nas minhas mãos, só um dedo escapou, todos os outros entortaram”, lembra o paciente.
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O médico dermatologista Marcelo Arnone, coordenador do Ambulatório de Psoríase do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo, explica que, por ser uma doença sistêmica inflamatória, a psoríase afeta todo o corpo, contribuindo para o desenvolvimento de outras comorbidades.
Mais de 50% dos pacientes com a doença apresentam uma ou mais comorbidades. Entre elas, destacam-se a própria artrite psoriásica, doenças inflamatórias intestinais, depressão, ansiedade, doença hepática gordurosa não alcoólica, doença renal crônica e aumento do risco de doenças cardiovasculares relacionadas à obesidade, diabetes e hipertensão arterial.
Preconceito
O desconforto com as feridas foi maior do que o calor do litoral nordestino. O cearense conta que naquela época vestia-se apenas com camisas de manga longa e calças para esconder as lesões que apareciam por toda a pele. “Não tive nenhum short ou camisas por anos”, afirma. Com o passar do tempo, ele conseguiu lidar com o preconceito que envolve a doença com conversa e informação.
“A ignorância acaba com as pessoas. Algumas que não sabem o que é psoríase, separam os objetos achando que é contagiosa. É uma doença que se confunde com outras e eu usei a informação como ferramenta para lidar com o preconceito. Quando me perguntavam ou olhavam com espanto, eu dizia logo que era uma doença inflamatória de pele não transmissível”, conta.
O estigma social e os sintomas físicos têm impacto importante na saúde mental desses pacientes, com efeitos que recaem sobre seus relacionamentos, de acordo com o psiquiatra Elson Azevedo, pesquisador do Departamento de Psiquiatria da Unifesp.
“A pele é a nossa apresentação para o mundo. O surgimento de lesões que a restringem pode ser muito danoso, afetar a autoestima, gerar ansiedade e problemas de saúde mental. Os mais frequentes são os transtornos depressivos e ansiedade, com prejuízos na vida social e no trabalho”, afirma Azevedo.
Tratamento
José Célio conta que, no início, não aceitou que se tratava de uma doença sem cura. “Briguei com a psoríase por vários anos. Usei medicamentos e tive uma breve melhora, mas elas foram seguidas por violentas recidivas, com várias lesões pelo corpo”, lembra. Ele só viu seu quadro melhorar definitivamente após o início do uso de medicamentos biológicos.
“Minha vida mudou, fui do inferno ao céu com o uso dos medicamentos biológicos. Todas as lesões desapareceram, a minha pele parecia de bebê”, brinca. “Foi um verdadeiro milagre para quem tinha psoríase grave”.
A psoríase não tem cura, mas o tratamento contribui para o alívio dos sintomas e progressão da doença. Entre as terapias disponíveis estão as medicações tópicas – cremes e pomadas –, fototerapia, remédios orais, e os biológicos de uso contínuo, que atuam em alvos específicos envolvidos no processo inflamatório.
De acordo com Arnone, os remédios biológicos revolucionaram o tratamento da psoríase. A medicação de uso oral ou injetável – semelhante à usada para o controle da insulina – é indicada para os pacientes com quadro grave.
“Por ser uma doença crônica, alguns medicamentos atuam bem no início e depois perdem a eficácia. O paciente migrava de um tratamento para outro até que acabavam as opções. Os biológicos são mais seguros e eficientes para o paciente, mas se ele parar de usar, os sintomas voltam”, afirma.
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