Mercosul se fortalece com retorno de Lula e possível entrada da Bolívia, apontam especialistas


A conjuntura regional que impacta no Mercosul foi tema do podcast Mundioka, da Sputnik Brasil, nesta segunda-feira (7). Para especialistas ouvidos pelas jornalistas Melina Saad e Thaiana Oliveira, o retorno de Lula à presidência do Brasil pode fortalecer o bloco, recolocando-o como prioridade na política externa brasileira. Com o apoio de Lula, abrem-se as portas para a oficialização da entrada da Bolívia, o que pode render bons frutos para o bloco.
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Regiane Nitsch Bressan, professora de relações internacionais da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), aposta que o Mercosul deve intensificar suas relações no próximo período e cita como exemplo a visita do presidente da Argentina, Alberto Fernández, ao Brasil no dia seguinte à vitória eleitoral de Lula sobre o atual presidente Jair Bolsonaro (PL).

“A partir do momento em que o presidente argentino esteve de prontidão após a eleição do Lula no dia seguinte, menos de 24h do resultado o presidente argentino já estava no Brasil, eu consigo entender que o Mercosul deve intensificar as suas relações”, aponta Bressan.

“Não sabemos exatamente as relações econômicas e comerciais, que dependem muito das politicas macroeconômicas, de câmbio de interesse das elites econômicas, mas a gente já pode vislumbrar que teremos um Mercosul muito mais intenso, um Brasil muito mais participativo nas relações do Mercosul, e um Mercosul que consiga ampliar a sua discussão, sua agenda para temas para além da economia. Então, vejo até certo protagonismo, liderança brasileira no Mercosul e na América Latina“, acrescentou.
Essa opinião de reaquecimento do bloco é compartilhada pelo cientista político André Coelho, professor da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio), que enxerga também um horizonte favorável para a relação do Brasil com os demais países do BRICS.
“Com os governos Bolsonaro e Temer, especialmente com o governo Bolsonaro, o que vimos foi o enfraquecimento tanto do BRICS como do Mercosul. O Brasil teve, especialmente no governo Bolsonaro, um alinhamento automático ideológico com os EUA, principalmente no governo [Donald] Trump, isso não deu muito certo, porque o Trump logo saiu, o Brasil ficou meio perdido. [O Brasil] chegou, inclusive, a ser chamado de pária internacional pelo seu próprio chanceler à época, Ernesto Araújo. Então, o Brasil não fortaleceu os Brics e muito menos o Mercosul, enfraqueceu ambos. Então, o governo Lula eu imagino que vá buscar sim o fortalecimento de ambos”, avalia Coelho.
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Nesse sentido, o especialista aponta que seria “muito mais fácil para o Brasil fortalecer o Mercosul do que fortalecer o BRICS” em razão do conflito entre Ucrânia e Rússia. “Acho que o Brasil vai apostar muito mais no Mercosul do que no BRICS”, afirma.
O histórico do Mercosul também exigiria um esforço maior do que o BRICS. E um fator que pode influenciar positivamente é a oficialização da entrada da Bolívia no bloco.

“O Mercosul se fragilizou bastante nos governos de centro-direita da segunda metade da década passada, ficou muito fragilizado e quase acabou, teve risco real de acabar. A gente ouvia nas palavras do [ex-presidente] Mauricio Macri na Argentina e de Jair Bolsonaro aqui no Brasil, que o Mercosul não era importante para o Brasil. Então, essa retomada do Mercosul passa também pela valorização do próprio bloco e a valorização do próprio bloco passa pela entrada de um novo membro”, avalia o professor da Unirio.

O processo de adesão do país andino se arrasta desde 2006 e agora depende apenas da chancela do Congresso brasileiro, após já ter sido aprovada outros três países-membros — Argentina, Uruguai e Paraguai. Coelho destaca que o retorno de Lula fortalece a demanda boliviana. Durante encontro com o presidente boliviano, Luis Arce, em setembro, Lula se comprometeu a apoiar o ingresso do país no Mercosul.
© Ricardo Stuckert/DivulgaçãoO ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva se reúne com o presidente da Bolívia, Luis Arce, em São Paulo, em 5 de setembro de 2022

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva se reúne com o presidente da Bolívia, Luis Arce, em São Paulo, em 5 de setembro de 2022 - Sputnik Brasil, 1920, 16.11.2022

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva se reúne com o presidente da Bolívia, Luis Arce, em São Paulo, em 5 de setembro de 2022
“Acho que, em termos estratégicos, geopolíticos, o Mercosul ganha muito [com a entrada da Bolívia], porque ele inicialmente é construído no cone sul, falta justamente essa participação dos países andinos, especialmente no norte da América do Sul”, avalia Coelho. A Venezuela, que entrou no bloco em 2012, foi suspensa em 2016 quando a maioria dos países passou a ser governada por líderes de direita e centro-direita.

Fonte: sputniknewsbrasil

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