Depois de meses estudando as vacinas para a prevenir a Covid-19 e evitar que os pacientes infectados desenvolvessem quadros graves da infecção, a comunidade científica agora foca sua atenção para entender como funciona o organismo da pessoa que teve a condição e até hoje sente os efeitos do coronavírus, a chamada Covid longa.
Em um artigo publicado no portal The Conversation na quinta-feira (22/9), os médicos Jeffrey Sturek e Alexandra Kadl, professores da Universidade da Virgínia, nos Estados Unidos, citaram algumas maneiras como a Covid-19 pode danificar os pulmões dos pacientes a longo prazo.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) considera Covid longa os sintomas que surgem até três meses após a infecção do coronavírus, duram ao menos dois meses e não podem ser explicados por um diagnóstico alternativo.
Estudos feitos com análise de dados mostram que os principais sintomas da condição são problemas cognitivos, incluindo ansiedade, depressão e nevoeiro cerebral (caracterizado pela perda de memória), fadiga, falta de ar, tosse e distúrbios do sono. Eles podem ser causados pelo dano ou mau funcionamento dos sistemas de órgãos, levando à incapacidade de realizar atividades simples do dia a dia, como trabalhar, praticar esportes ou arrumar a casa.
Segundo Jeffrey e Kadl, alguns dos sintomas podem ser desencadeados por prejuízos na função pulmonar. Os pulmões são responsáveis por levar ar rico em oxigênio para o restante do corpo e expelir dióxido de carbono. Os médicos lembram que existem mais de 20 divisões nas vias aéreas, desde a traqueia até os alvéolos, em contato próximo com os vasos sanguíneos.
Manter os processos do fluxo de ar (ventilação) e do fluxo sanguíneo (perfusão) em harmonia é fundamental para a função pulmonar básica e exige muita coordenação. Danos ao longo das vias aéreas podem causar dificuldade respiratória nos pacientes.
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Obstruções na respiração
Outras possibilidades que podem contribuir para os sintomas da Covid longa são a obstrução do fluxo de ar e a restrição dos pulmões. A primeira condição impede o ar de sair dos órgãos após uma expiração completa, aumentando o esforço necessário para respirar. Duas causas comuns são a doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) e a asma, onde as vias aéreas se tornam mais estreitas devido a danos causados pelo fumo e pela inflamação alérgica, respectivamente.
Os médicos notaram a recorrência da obstrução contínua do fluxo de ar em alguns pacientes com Covid longa. Eles sugerem que esses pacientes podem se beneficiar com o uso de inaladores que abrem as vias aéreas, mesmo tratamento usado por pessoas com DPOC e asma.
Restrição dos pulmões
Estudos mostram que alguns pacientes que se recuperaram da Covid-19, especialmente os que enfrentaram quadros graves, com a necessidade do uso de ventilação mecânica, podem desenvolver doença pulmonar restritiva no futuro.
A doença, que causa restrição ou dificuldade em expandir os pulmões, diminui o volume dos pulmões e, consequentemente, a quantidade de ar que os pacientes conseguem inalar. A condição geralmente resulta em fibrose nos pulmões devido à lesão.
“A fibrose engrossa as paredes dos alvéolos, o que dificulta as trocas gasosas com o sangue. Esse tipo de cicatriz pode ocorrer em doenças pulmonares crônicas, como fibrose pulmonar idiopática, ou como resultado de danos pulmonares graves em uma condição chamada síndrome do desconforto respiratório agudo (SDRA)”, escreveram os pesquisadores. Eles ainda não sabem como esses indivíduos se recuperam. Medicamentos para esse tipo de tratamento ainda estão em fase de testes clínicos.
Diminuição do fluxo sanguíneo
A função dos pulmões ainda pode ser comprometida pela formação de coágulos sanguíneos durante a infecção do coronavírus. Eles podem viajar para os pulmões e restringir o fluxo sanguíneo, aumentando as chances de embolia pulmonar, com alto risco de morte.
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