“A gente sabe que já existe venda de antibióticos sem receita em algumas farmácias. Imagine agora sem esse sistema?”, questiona Michele Costa. “Uma consequência imediata é a venda desses medicamentos sem receita”, opina a farmacêutica.
“Esse histórico é mais um dos dados necessários para termos um sistema de saúde pública funcionante”, argumenta Vecina. “É muito grave o sistema ter saído do ar, porque o controle desses medicamentos é importante do ponto de vista sanitário e do ponto de vista de acompanhar tendências. A saúde pública vive do registro de fatos importantes e essa tendência tem que ser acompanhada”, destaca.
“São estudos que possibilitam que a gente tenha acesso a informações importantes para definir estratégias de saúde pública, nortear gestores, tomadores de decisão, na elaboração de políticas de saúde. Então, no apagão, esse tipo de análise fica impossibilitada, porque os dados ficam presos nas farmácias”, exemplifica a pesquisadora.
“Um dos objetivos de se monitorar é ver desvios de consumo. Então, durante a pandemia, a gente viu um grande desvio de consumo de medicamentos diversos, e um aumento absurdo de azitromicina nesse período”, relata. “O consumo começou a cair depois que a vacinação avançou. Mas sem os dados de 2022 e 2023, não conseguimos saber se o padrão de consumo voltou ao que era antes da pandemia”.
“O Brasil tem uma taxa de consumo [de medicamentos para dor] per capita que é um décimo da taxa per capita dos europeus. Nossos pacientes morrem com dor. Isso é desumano. Então, acompanhar não só o que se produz, mas quanto do que se produz está sendo consumido é importante para entender como é essa questão do ciclo da atenção à saúde dos pacientes brasileiros”, defende Vecina.
Fonte: sputniknewsbrasil