Israel: um governo em ‘crise existencial’
“Este momento crítico permitiu que as políticas de deslocamento forçado e reconfiguração demográfica, parte integrante da agenda sionista desde a criação do Estado de Israel, fossem intensificadas sob o pretexto de segurança nacional e resposta a supostas ameaças existenciais. Tal contexto reflete a continuidade de um paradigma colonial que visa à consolidação territorial e, em especial, à homogeneização populacional, reforçando as dinâmicas de poder e dominação que caracterizam o conflito israelense-palestino.”
Revisionismo sionista como cerne da coalizão de Netanyahu
“Ambos são responsáveis por esta situação dramática que ora vivemos. Os trabalhistas foram responsáveis pela Nakba de 1948; as correntes de direita fazem assentamentos na Cisjordânia desde 1967, ampliando o escopo da tomada das terras palestinas. Sendo assim, ambos têm as mesmas práticas.”
“Os assentamentos na Cisjordânia, com 800 mil colonos, são uma base eleitoral fantástica e se formaram em sua maioria nos governos do Likud mais partidos aliados. A eventual derrota destes apenas retiraria a pressão da política interna e internacional que se avolumou com as imagens da política social genocida […]. Se ele cair, passaríamos, de novo, a viver o ‘sionismo normal’ e não o ‘sionismo radical’ de Netanyahu e seus aliados.”
Por que Netanyahu se permite dobrar a aposta?
“Em 2022, ele [Netanyahu] trouxe para a sua coligação política forças de extrema-direita para garantir apoio ao seu objetivo de se tornar primeiro-ministro […]. Foram feitos acordos com os extremistas para se manter no poder e evitar a punição por acusações de fraudes e subornos que Netanyahu vem enfrentando. Ele por si só já representa a ala mais à direita em Israel, mas a entrada no governo de elementos como Itamar Ben Gvir e Bezalel Smotrich torna tudo muito mais dramático”, explica.
Desconfiança e fundamentalismo entre os lados é obstáculo para a paz
“A questão da integridade territorial e o histórico de conflito na região é um dos elementos que contribuem para que uma postura mais moderada seja mais difícil de ser alcançada. Porém há um entendimento bastante amplo na comunidade internacional de que a integridade territorial de Israel depende, em alguma medida, do reconhecimento do Estado palestino, retirando parte dos elementos que motivam a violência contra judeus e israelenses. Porém alguns segmentos políticos dentro do país, principalmente associados a movimentos religiosos mais extremistas, não concordam com essa postura e temem que o reconhecimento do Estado palestino aumente o risco para o Estado israelense.”
“Um governo mais moderado poderia se encaminhar para estabelecer negociações para que o cessar-fogo fosse alcançado e os reféns retornados e a busca de um novo equilíbrio na região. Porém enquanto grupos terroristas forem financiados por governos extremistas e grupos religiosos fundamentalistas, a paz no Oriente Médio sempre será instável.”
Fonte: sputniknewsbrasil