No domingo (18), os nigerinos encheram as ruas da capital Niamey, para protestar contra as tropas francesas implantadas em seu país.
Os manifestantes teriam marchado da Praça Toumo para a Assembleia Nacional. Eles foram organizados pelo movimento M62, um grupo de ONGs que supostamente se descreve como “pacífico” e comprometido com “a dignidade e a soberania do povo nigerino”.
Alguns dos manifestantes carregavam bandeiras russas, enquanto outros seguravam faixas dizendo “Exército francês criminoso – saia” e “O exército colonial de Barkhane deve ir”.
“Existem slogans antifranceses porque exigimos a saída imediata da força Barkhane no Níger, que está alienando nossa soberania e desestabilizando o Sahel”, disse o coordenador do Movimento M62, Seydou Abdoulaye, à AFP.
Há 10 anos que tropas francesas estão localizadas no Mali para implementação da chamada Operação Barkhane, que visa, segundo autoridades francesas, combater o terrorismo no Sahel. Foi somente em agosto deste ano que as tropas francesas deixaram o país, encerrando o processo de retirada iniciado em dezembro de 2021.
© AFP 2022 / BOUREIMA HAMAUm homem segura um cartaz que diz “Limpar o exército francês criminoso” enquanto pessoas se manifestam contra a presença militar francesa no Níger, em Niamey, 18 de setembro de 2022
Um homem segura um cartaz que diz “Limpar o exército francês criminoso” enquanto pessoas se manifestam contra a presença militar francesa no Níger, em Niamey, 18 de setembro de 2022
© AFP 2022 / BOUREIMA HAMA
“Neste dia, às 13h00 [13h00 GMT], o último destacamento da força Barkhane presente em solo maliano atravessou a fronteira entre o Mali e o Níger”, afirmou o Ministério das Forças Armadas francês em um comunicado de imprensa.
Ao mesmo tempo, o fim da operação no Mali foi acompanhado pela acusação do Mali de que a França apoiava terroristas dentro do país africano.
No dia 15 de agosto, o ministro das Relações Exteriores do Mali, Abdoulaye Diop, afirmou em uma carta ao Conselho de Segurança das Nações Unidas (CSNU) que os franceses invadiram repetidamente o espaço aéreo maliano, usando drones, aeronaves de carga Casa C-295 e Airbus A400M, aeronaves de ataque Mirage 2000 e helicópteros de transporte Chinook.
“O governo do Mali tem várias evidências de que essas violações flagrantes do espaço aéreo maliano foram usadas pela França para coletar inteligência em benefício de grupos terroristas que operam no Sahel e lançar armas e munições sobre eles”, diz a carta.
© AFP 2022 / BOUREIMA HAMAUm homem segura um cartaz que diz “Viva a Rússia” enquanto pessoas se manifestam contra a presença militar francesa no Níger, Niamey, 18 de setembro de 2022
Um homem segura um cartaz que diz “Viva a Rússia” enquanto pessoas se manifestam contra a presença militar francesa no Níger, Niamey, 18 de setembro de 2022
© AFP 2022 / BOUREIMA HAMA
Nos últimos meses, várias manifestações antifrancesas ocorreram no Sahel. No dia 14 de maio, jovens nativos do Mali manifestaram-se em apoio ao Exército de seu país, cujos líderes estariam adotando uma estratégia que contrariava os interesses franceses.
No dia seguinte, estudantes no Chade protestaram contra a presença de tropas francesas no país, acusando os franceses de roubar seus recursos naturais e gritando “Chade é livre e França fora”.
Depois de retirar seus últimos soldados do Mali, o ministro francês das Forças Armadas, Sébastien Lecornu, disse que, apesar da retirada de suas forças do Mali, a presença da França no Sahel e a “cooperação reforçada com os países da região, por exemplo, o Níger”, iriam continuar.
Em abril, os parlamentares nigerinos votaram esmagadoramente a favor de um texto que autoriza o estacionamento de forças estrangeiras no território, em particular francesas, para “combater os terroristas”, o que, segundo o ministro das Relações Exteriores do Níger, Hassoumi Massoudou é um apoio essencial.
Por sua vez, as ONGs nigerinas descrevem a presença de soldados estrangeiros como “forças de ocupação”, “uma ameaça à soberania do país” e acusam-nos de um “apoio ativo” aos “jihadistas que espalham o terrorismo desde o Mali”, informa a AFP.