Maio Amarelo prega a paz em um dos países que mais matam no trânsito


No momento em que as imagens do 911 Carrera GTS colidindo em alta velocidade contra o Sandero começavam a ser divulgadas, no início de abril, os organizadores do Movimento Maio Amarelo estavam reunidos aprovando uma das peças da campanha. A cena do Porsche se chocando na traseira do Renault em São Paulo impressionou a todos pela violência e levou o idealizador do movimento, José Aurelio Ramalho, a uma reflexão: “estamos enxugando gelo”.

O desânimo momentâneo de Ramalho, fundador do Observatório Nacional de Segurança Viária e um dos mais ativos especialistas em segurança no trânsito do país, fazia sentido. Campanhas como a do Maio Amarelo são necessárias para alertar, orientar e despertar consciências sobre determinados temas — a mortandade no trânsito, no caso. Mas caem no vazio sem o suporte: o poder público.

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“A questão do trânsito é estrutural e sofre forte influência do ambiente político”, afirma Ramalho. “A educação para o trânsito, um dos pilares para um trânsito civilizado, ainda não se tornou disciplina nas escolas por questões políticas, embora devesse ter sido implantada há 25 anos, quando foi prevista como matéria curricular no Código de Trânsito Brasileiro.” Há quatro anos o observatório produziu e doou para a Secretaria Nacional do Trânsito, órgão máximo da área, o conteúdo pedagógico para as aulas de 1ª a 9ª séries. O material foi aprovado. E engavetado.

Enquanto nada se resolve, o Brasil se mantém entre os quatro países que mais matam no trânsito, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS). O desonroso ranking é liderado pela China (1,4 bilhão de habitantes, frota de 500 milhões de veículos e 248 mil mortes em acidentes de trânsito em 2022). Depois vem a Índia (1,4 bi, 326 milhões e 205 mil) e, em terceiro, a Nigéria (140 milhões, 12 milhões e 36,7 mil). Até o fechamento desta coluna, o Ministério da Saúde não tinha consolidado os dados de mortes por lesões no trânsito brasileiro em 2023, mas calcula-se que preliminarmente foram 29.753 óbitos, número ligeiramente menor que as 33.894 mortes em 2022.

Em agosto de 2023, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) apontou que entre 2010 e 2019 o Brasil registrou, em números absolutos, aumento de 13,5% nas mortes no trânsito, taxa muito aquém da meta estabelecida pela ONU em 2010, redução de 50% nesse tipo de mortalidade. Jovens de até 15 anos representam 1/3 das vítimas fatais e são maioria nos acidentes com motos. Os idosos morrem atropelados.

Poderia ser pior, observou a pesquisa: iniciativas como a Lei Seca, a expansão dos radares de velocidade e a obrigatoriedade dos recursos de segurança nos carros contribuíram para a redução de acidentes e a consequente matança. Mas quando vemos um jovem abastado de 24 anos, com antecedentes de irresponsabilidade ao volante, abandonar a cena do crime sob benevolência da polícia depois de estraçalhar seu Porsche contra um Sandero e matar um senhor de 52 anos, concluímos que estamos regredindo — como motoristas e como seres humanos.

“Vivemos em uma guerra”, compara, fazendo analogia ao tema do Movimento Maio Amarelo 2024. A campanha entra em seu décimo ano. Dez anos enxugando gelo.

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Fonte: direitonews

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