Lula participa do G7 na Europa, mas evita debater guerra na Ucrânia para não desagradar a Rússia


O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) participa nesta semana como convidado da Cúpula de Líderes do G7, em Borgo Ignazia, na Itália, mas vai ter que lidar com uma saia justa diplomática: tentar evitar ao máximo se envolver na principal discussão do evento, que é a guerra na Ucrânia. Isso porque o governo brasileiro já assinou um tratado na China apoiando a proposta chinesa de cessar-fogo que inclui a anexação de cerca de um quinto dos territórios da Ucrânia pela Rússia.

O principal ideia em pauta na cúpula é que as democracias ocidentais usem os cerca de US$ 325 bilhões da Rússia, que estavam em bancos ocidentais e foram congelados, para gerar uma renda anual de US$ 50 bilhões (R$ 269 bilhões) para a Ucrânia se defender de Moscou. Como o dinheiro congelado não pode ser simplesmente repassado a Kyiv por restrições legais, a ideia, de forma genérica, é aplicá-lo em investimentos financeiros e usar os rendimentos para pagar empréstimos que estão sendo feitos à Ucrânia.

Dificilmente Lula apoiaria tal propostas, pois a assinatura do plano de paz russo encampado pela China em maio oficializa a posição pró-Moscou do governo Lula em relação à guerra. Assim, o presidente programou sua viagem de forma a evitar esse debate e priorizar a divulgação de seu plano para taxar os super ricos internacionalmente.

Os principais debates no encontro do G7 são sobre as guerras na Ucrânia e na Faixa de Gaza e estão ocorrendo nesta quinta-feira (13) na Itália. Eles incluem os presidentes dos Estados Unidos, Joe Biden, e França, Emmanuel Macron, e os primeiros-ministros Olaf Scholz, da Alemanha, Rishi Sunak, da Grã-Bretanha, Giorgia Meloni, da Itália, Fumio Kishida, do Japão.

Mas Lula foi para a Suiça, priorizando a participação no evento Coalizão Global por Justiça Social, que ocorre na Organização Mundial do Trabalho, onde discursou. O Brasil é co-presidente dessa iniciativa e Lula usou o evento para atacar o bilionário Elon Musk e divulgar sua agenda de aumentar os impostos globalmente para os chamados super ricos.

Lula deve chegar na cúpula do G7 apenas na sexta-feira, quando os temas em debate tendem a se voltar para a Inteligência Artificial e outros assuntos. Parte dos chefes de Estado e de governo devem deixar o evento nesse dia para voltar a seus países ou ir para a Suíça, onde se inicia a Cúpula da Paz. Trata-se de um evento promovido por suíços e ucranianos para apoiar a proposta de cessar-fogo que demanda à Rússia que devolva os territórios da Ucrânia conquistados desde fevereiro de 2022. Lula não voltará à Suiça para participar da cúpula.

A guerra entre Rússia e Ucrânia tem sido um ponto de impasse entre os países-membros do G7 e o Brasil. O presidente fez declarações de aceno ao ditador Vladimir Putin nos últimos meses e tem evitado uma interlocução maior com a Ucrânia. Por outro lado, o petista também tem apostado em uma aproximação política com Moscou sob a justificativa da parceria que os países mantêm nos Brics (acrônimo para Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, que também inclui Arábia Saudita, Egito, Etiópia, Emirados Árabes Unidos e Irã)

No ano passado, durante a cúpula Celac-União Europeia, que aconteceu na Bélgica, o Brasil foi um dos países que se opôs à uma declaração conjunta que declarasse total apoio à Ucrânia diante a guerra contra a Rússia.

O petista também tem se esquivado de encontros com Zelensky. Em entrevista exclusiva à Gazeta do Povo, o embaixador da Ucrânia no Brasil, Andrii Melnyk, afirmou que buscou intermediar uma visita de seu chanceler ou do presidente ao país. Melnyk, contudo, não obteve retorno positivo da diplomacia brasileira para um encontro. Na última Cúpula de Líderes do G7, que ocorreu em maio de 2023 no Japão, o presidente ucraniano solicitou um encontro com Lula que não ocorreu por “incompatibilidade de agendas”.

Lula ainda fez declarações controversas sobre o conflito e chegou a afirmar que a Ucrânia seria tão culpada pela guerra quanto a Rússia, que iniciou a invasão em 2022. O brasileiro também acusou as nações do Ocidente, sobretudo as que formam o G7, de “patrocinarem” a guerra na Europa. Em maio, o Brasil decidiu apoiar uma iniciativa chinesa para a pacificação entre Rússia e Ucrânia. O documento atende aos anseios russos e implica ainda na anexação de ao menos um quinto do território da Ucrânia.

China e Rússia ainda têm tentado utilizar-se dos Brics para angariar mais apoio ao documento. Durante encontro de Chanceleres do bloco, que aconteceu nesta semana na Rússia, o governo chinês e russo afirmaram que mais países têm interesse em apoiar a iniciativa sino-brasileira para a paz na Ucrânia. Moscou e Pequim, que se veem escanteados pelo Ocidente, tentam apresentar os Brics como uma alternativa à hegemonia política internacional das democracias ocidentais.

Fora da Cúpula da Paz, Lula reforça seu apoio ao “bloco alternativo” formado por Rússia e China

Apesar de estar na Europa quando as discussões da Cúpula da Paz têm início, Lula não participa das reuniões. De acordo com o petista, não é do interesse do Brasil participar de cúpulas como essa em que a Rússia não está presente. Ou seja, a posição brasileira é que as discussões para uma solução pacífica na Europa conte com conversas entre Rússia e Ucrânia, invasor e invadido.

No documento promovido pela China e Brasil, um dos pontos oficializa esse anseio. “A China e o Brasil apoiam uma conferência internacional de paz realizada num momento adequado que seja reconhecida tanto pela Rússia como pela Ucrânia, com participação igual de todas as partes, bem como uma discussão justa de todos os planos de paz”, diz a declaração.

Em participação na Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (Creden) do Senado Federal, Mauro Vieira chegou a insinuar que as cúpulas para a paz na Europa seriam injustas por não incluírem a Rússia. “Eu acho que, para que haja um entendimento, para que se possa chegar a alguma coisa, é preciso sempre estarem os dois lados presentes”, disse Vieira.

Fonte: gazetadopovo

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