Eddie Jordan era uma figura tão emblemática quanto controversa. Irlandês apreciador de rock’n’roll, tocava bateria e gostava de deixar sempre um cavanhaque para destacar sua verve requeira.
O ex-dirigente de uma das mais emblemáticas equipes da F1 dos anos 1990 e 2000, a Jordan Grand Prix, ajudou a formar diversos pilotos vencedores e campeões nas categorias de base e alguns na própria F1. E tinha a velocidade nas veias, apesar de ter descoberto um tanto tardiamente seu amor pelo universo do automobilismo.
Nascido em Dublin, capital da Irlanda, em 1948, Jordan chegou a trabalhar como bancário e contador logo após atingir a maioridade. Já aos 22 anos, começou a correr de kart e foi campeão irlandês da modalidade em 1971. Passou a querer, então, ser piloto profissional e demonstrava até certo talento para o ofício.
Nos anos seguintes, Eddie Jordan correu temporadas de categorias como Fórmula Ford e Fórmula 3 irlandesa. Na Fórmula Atlantic de seu país, conquistou vitórias e até o título de 1978. Também competiu na Fórmula 3 Britânica e chegou a disputar uma etapa da Fórmula 2, então a categoria mais próxima da F1 entre os campeonatos de base. Também participou das 24 Horas de Le Mans em 1981.
Contudo, sem dinheiro nem patrocínios fortes o suficiente para bancar a carreira, Jordan resolveu deixar a carreira de piloto para lá sem sair do mundo do automobilismo. Fundou, então, a Jordan Racing, para disputar campeonatos regionais no Reino Unido.
No fim de 82, foi Eddie Jordan que convidou Ayrton Senna, na época recém coroado campeão de Fórmula Ford, para seu primeiro teste com um Fórmula 3. Senna foi muito bem e recebeu do chefe da equipe um cartão com a mensagem: “Espero que tenha gostado. Nós ficamos muito impressionados”.
Jordan era visto como uma figura com bom faro para novos talentos. Nas Fórmula 3 e 3000, ajudou a formar pilotos como Damon Hill, que se tornaria campeão mundial de F1 em 1996, além de Jean Alesi e Thierry Boutsen, vencedores de corridas na categoria.
Em 1991, Eddie decidiu dar um passo adiante e fez a Jordan Racing virar Jordan Grand Prix, uma equipe de F1. A estreia foi um sucesso, com um excelente quinto lugar no campeonato de construtores, resultado excepcional para uma operação novata. Naquele mesmo, sua escudeira seria responsável pela estreia de Michael Schumacher, em condições das mais adversas.
Antes do GP da Bélgica de 1991, um dos pilotos titulares da equipe, o belga Bertrand Gachot, foi preso após se envolver em uma briga de trânsito com um taxista em Londres (Reino Unido), na qual usou um spray de pimenta para se defender. Como o uso do artefato por civis era proibido no país, Gachot foi condenado a 18 meses de prisão (dos quais cumpriu seis em regime fechado) e não pôde disputar o restante daquela temporada.
Jordan, negociador sagaz, fez um acordo com a Mercedes-Benz, que na época apadrinhava Schumacher, e recebeu 200 mil dólares da fabricante para ter o piloto alemão em seu carro na etapa belga. Sem nunca ter corrido em um F1 nem andado na pista de Spa-Francorchamps, Schumacher surpreendeu a todos com um brilhante sétimo lugar no grid de largada, mas abandonou a corrida logo na primeira volta por um problema de embreagem.
O talento de Schumi chamou a atenção da Benetton, que o contratou para ser seu piloto titular a partir dali, em um caso que levou Eddie Jordan a procurar a justiça, alegando que tinha direito de ter o debutante de ouro em sua equipe até o fim daquele campeonato.
Jordan ficou sem Schumacher, mas seu time evoluiu ao longo dos anos. Foi por ele que o brasileiro Rubens Barrichello disputou suas quatro primeiras temporadas de F1, entre 1993 e 96, conquistando sua primeira pole position (GP da Bélgica de 94) e seus dois primeiros pódios no certame (GP do Pacífico de 94 e do Canadá de 95).
Em 98, a Jordan fez história ao conquistar uma dobradinha com Damon Hill e Ralf Schumacher na conturbada corrida da Bélgica, marcada por muita chuva e acidentes. Seria o primeiro de um total de quatro triunfos da esquadra na categoria.
O ano seguinte seria o melhor da história da Jordan Grand Prix. Mais duas vitórias e um terceiro lugar no campeonato de construtores, com o alemão Heinz-Harald Frentzen chegando a disputar o título por pilotos até a penúltima etapa.
Dali em diante, a Jordan entrou em declínio. Sem apoio oficial de um montadora e com dificuldades financeiras, foi decaindo até virar uma das piores equipes do grid e ser vendida para o grupo financeiro Midland no começo de 2005. Era o fim da escuderia marcada por seus carros amarelos.
Após se aposentar enquanto chefe de equipe, Eddie Jordan virou comentarista de TV e colunista de jornais. Ainda influente no ambiente da F1, foi ele quem noticiou pela primeira vez o retorno de Michael Schumacher à categoria com a Mercedes, no fim de 2009, e a saída de Lewis Hamilton da McLaren para correr na mesma Mercedes, no final de 2012.
Eddie Jordan faleceu a 10 dias de completar 77 anos, em Capetown (África do Sul), onde residia nos últimos anos, em decorrência de um câncer agressivo de próstata, descoberto no fim de 2024. Divorciado de um casamento com a jogadora de basquete irlandesa Marie McCarthy, deixa quatro filhos.
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Fonte: direitonews