Laboratório de IA é nova aposta da Força Aérea para aprimorar poder de combate


A Força Aérea Brasileira (FAB) assinou neste mês um convênio para a criação do primeiro laboratório de inteligência artificial da força, a ser executado pelo Centro de Computação da Aeronáutica de São José dos Campos (CCA-SJ), em São Paulo.
Segundo a FAB, a capacidade de processar grandes volumes de dados da inteligência artificial será utilizada para questões logísticas, como manutenção de aeronaves, manejamento da frota e análise de imagens, assim como treinamentos de combate, automação de processos e segurança cibernética.
O projeto, chamado de LabIA, contará também com a participação da sociedade civil. De acordo com a força, serão disponibilizadas vagas para pesquisadores e bolsistas com o objetivo da “elevação acadêmica e técnica” desses profissionais.
Em entrevista à Sputnik Brasil, o chefe do CCA-SJ, coronel aviador Rodrigo Araújo Freire, destacou que o laboratório contará com tecnologia nacional totalmente inédita, que permitirá maior segurança em relação a ataques cibernéticos.

“Serão utilizadas soluções próprias desenvolvidas de forma controlada no Laboratório de Inteligência Artificial, utilizando ferramentas de código aberto, as quais serão disponibilizadas exclusivamente na infraestrutura interna da Força Aérea, mantendo-se com isso a salvaguarda das informações.”

Araújo Freire também reforçou que a utilização de soluções de inteligência artificial dará a possibilidade de explorar capacidades operacionais atualmente inexistentes para a FAB. Durante o processo de aquisição dos equipamentos para o desenvolvimento da IA, técnicos receberão aulas tanto para operação quanto manutenção de hardware.

“Com isso, a equipe do CCA-SJ será capaz de manter o laboratório funcionando em sua máxima disponibilidade e desempenho, com o intuito de melhor atender às demandas do sistema de tecnologia da Aeronáutica, bem como do comando como um todo.”

Apesar de o projeto ser liderado pela equipe em São José dos Campos, estarão envolvidos especialistas do Instituto de Logística da Aeronáutica (ILA), dos centros de Computação da Aeronáutica do Rio de Janeiro (CCA-RJ) e de Brasília (CCA-BR), do Centro de Defesa Cibernética da Aeronáutica (CDCAER) e do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA).

“Quanto ao treinamento em IA, a Diretoria de Tecnologia da Informação planejou trilhas de capacitação para os militares que vão atuar no Sistema de Tecnologia da Informação da Aeronáutica (STI) com tais tecnologias, multiplicando esse conhecimento ao CDCAER e também aos outros centros de computação, tanto de Brasília quanto do Rio de Janeiro.”

IA é indispensável para defesa, avalia especialista

Se processos utilizando inteligência artificial já estão presentes no dia a dia civil, não seria diferente na realidade militar, incluindo combates. Em entrevista à Sputnik Brasil, Márcio Rocha, professor do Instituto de Estudos Estratégicos da Universidade Federal Fluminense (Inest/UFF), explicou que as ações de uma IA em campo podem ser o grande diferencial em uma operação.
De acordo com o docente, as funções da inteligência artificial podem partir da compilação de dados militares para gerar recomendações de alvos com precisão e velocidade não antes vistas e chegar à reunião de informações de diferentes fontes, como imagens de satélite, para criar mapas em tempo real de deslocamento das tropas inimigas em campo. Como exemplo de IA com aplicação em defesa, Rocha cita o radar da famosa Cúpula de Ferro de Israel.

“O radar da Cúpula de Ferro detecta o lançamento de foguetes, e seus algoritmos, que incorporam o aprendizado de máquina, calculam a trajetória em tempo real. A inteligência artificial então toma uma decisão crítica: determina se o foguete está em rota para atingir uma área povoada ou um local estratégico. Se a ameaça for real, o sistema lança um interceptador. Se o foguete cair em uma área desabitada, o sistema ignora para economizar munição. Essa capacidade de discriminação é uma função-chave da inteligência artificial nesse sistema.”

Para Rocha, investimentos desse tipo são fundamentais para a manutenção da independência nacional e para que a FAB consiga cumprir sua missão constitucional de proteger o país. O professor reforça também que só é possível a continuidade desta soberania se o Brasil não depender de tecnologia internacional e conseguir construir uma capacidade própria.

“O uso de softwares e tecnologia de inteligência artificial estrangeiras, embora muitas vezes seja inevitável e até benéfico para acelerar o desenvolvimento, resulta em implicações e restrições significativas que podem comprometer a autonomia e a segurança de um país. […] Espero que [a iniciativa da FAB] seja seguida por diversos outros setores estratégicos do Estado brasileiro.”

Segundo Rocha, o investimento militar em inteligência artificial já ultrapassa cifras bilionários em alguns países. O Departamento de Defesa dos Estados Unidos, por exemplo, solicitou a Washington US$ 3,3 bilhões para desenvolvimentos na área de IA. A França, por sua vez, pretende aportar US$ 2,4 bilhões até 2025 no setor.
O professor da UFF explica que um investimento coletivo do governo federal, não só no campo militar, pode acelerar a expertise brasileira na ferramenta e impulsionar tanto a indústria nacional qualificada quanto a mão de obra.

“O investimento e a busca de capacitação em inteligência artificial permitirá alcançar uma adequada soberania nesse campo, customizar a tecnologia para a nossa realidade, capacitar recursos humanos valiosos para o desenvolvimento dessas tecnologias, fomentar a base industrial e gerar inovações que possam atender tanto ao setor militar quanto ao setor civil. Ou seja, um investimento estratégico que contribuirá para uma nova geração da tecnologia e para a questão da soberania. Para a nossa capacitação e o futuro tecnológico do Brasil.”

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Fonte: sputniknewsbrasil

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