Via @portalg1 | A Justiça concedeu liberdade provisória ao advogado Luciano Ferreira de Oliveira, preso nesta terça-feira (5) em Bebedouro (SP) após matar três capivaras a tiros com a justificativa de evitar a propagação da febre maculosa.
Oliveira foi solto em audiência de custódia horas após a prisão. Apesar da liberdade, o advogado foi submetido a uma série de condições, entre elas a suspensão do porte de arma e proibição de frequentar lugares com consumo de bebidas alcoólicas.
Veja todas as medidas:
- Comparecimento mensal em juízo, para justificar suas atividades;
- proibição de acesso e frequência a bares, restaurantes, boates, danceterias, e todos os demais locais onde haja consumo de bebidas alcoólicas;
- proibição de se ausentar da Comarca de Bebedouro até a sentença ser proferida no processo criminal;
- suspensão do porte de arma, suspensão do registro de caçador (CR), colecionador e atirador esportivo (CAC), e entrega para a Autoridade Policial de Bebedouro de todas as demais armas que estiverem em seu poder;
- proibição de o autuado fazer lives, e de se manifestar em redes sociais, por quaisquer formas, sendo Facebook, Instagram, ou qualquer outro meio que possa causar revolta na população;
- fiança arbitrada no valor equivalente a dez salários mínimos;
- proibição de o autuado deixar a sua residência entre 22h e 6h.
A defesa de Oliveira disse que ainda não obteve acesso à íntegra do inquérito, mas ressaltou que ele apresentou crise de ansiedade e está hospitalizado em uma clínica.
Na terça, a Polícia Civil esteve na casa do suspeito para cumprir um mandado de busca e apreensão expedido pela Justiça.
O delegado João Vitor Silvério informou que foram encontradas duas pistolas calibre nove milímetros e um rifle calibre 22, um deles com um silenciador, o que é proibido por lei. Por esse motivo, Luciano foi preso em flagrante por porte ilegal de arma.
Pedido de desculpas
Em uma transmissão por meio de um perfil na rede social antes da prisão, Luciano afirmou que tinha boa intenção, mas que tem ciência de que a atitude não foi correta.
“Eu quis de alguma forma trazer um resultado, mas usei uma forma que talvez eu vá me arrepender pelo resto dos dias. O que eu tenho que fazer é pedir desculpas para todos aqueles que eu ofendi, do fundo do meu coração. Contribuo muito com a causa animal, inclusive juridicamente, de várias formas. O que eu tenho a pedir a toda comunidade é desculpa”, afirmou.
Ao g1, uma médica veterinária do Controle de Vetores e Zoonoses (CVZ) destacou que a medida, além de ser considerada crime, é ineficaz para o controle da doença (veja abaixo).
As capivaras foram mortas a tiros no final de agosto no entorno do Parque Municipal de Bebedouro, próximo a um lago. As imagens dos animais feitas por um morador e compartilhadas nas redes sociais provocaram revolta.
Capivaras foram mortas a tiros em parque de Bebedouro — Foto: Arquivo pessoal
Luciano disse que se embasou em pesquisas apresentadas por um biólogo, a quem ele não identificou, de que o abate de alguns exemplares resultaria no afastamento do bando do local. Ele também afirmou que, por ser dono de um petshop, recebeu muitos relatos de pessoas que caminharam pelo parque e pegaram carrapatos durante o trajeto.
“Eu tenho pessoas que caminhando no lago, voltaram tomadas por carrapatos. Começaram a aparecer muitas pessoas relatando que tinham medo de andar no lago. A minha decisão não foi a melhor possível, mas eu penso que temos que encontrar uma solução. Elas [capivaras] não podem ficar a 50 metros de onde crianças estão brincando e que hoje é um dos pontos turísticos mais bonitos da cidade.”
Parque Municipal de Bebedouro, SP, fica ao lado de lago que é habitat natural de capivaras — Foto: Luciano Tolentino/EPTV
Por que matar capivaras é ineficaz contra a maculosa?
O responsável por transmitir a febre maculosa é o carrapato-estrela. As capivaras, por sua vez, são apenas as hospedeiras e com quem os carrapatos pegam “carona” para se locomover.
Beatriz Freitas, médica veterinária do Controle de Zoonoses de Bebedouro, explicou que o vetor também pode se hospedar em outros animais, por isso matar as capivaras não eliminaria o risco da doença.
Além disso, destacou que esse tipo de ação é considerado crime, com pena que pode chegar a um ano de detenção e multa.
“A gente tem que pensar que todos os animais são possíveis hospedeiros de carrapato, temos as capivaras, os bovinos, os equinos e até mesmo os cães podem ser hospedeiros dos carrapatos que transmitem a febre maculosa. E para a doença ser transmitida, é somente pela picada do carrapato contaminado.”
A médica veterinária do Controle de Zoonoses de Bebedouro, SP, Beatriz Freitas — Foto: Luciano Tolentino/EPTV
Outra hipótese descartada pela especialista é de que os disparos afugentariam as capivaras do local onde elas estavam.
“Dizer que fez isso para afugentar o restante não tem nenhum sentido, não tem teoria científica que fale isso, mesmo porque, por conta dos estalos dos tiros, pode até ser que o bando que esteja por perto se afaste, mas ele acaba voltando”, cita.
Para a protetora Luciana Martins dos Santos de Paula, nada justifica a atitude do advogado. “A capivara está no habitat dela e aí vem uma pessoa e abate três animais em via pública, com arma de fogo, algo que é proibido por lei. elas não estavam oferecendo risco nenhum”.
O que pode ser feito?
Segundo a Prefeitura de Bebedouro, cinco suspeitas de febre maculosa chegaram a ser investigadas na cidade, mas elas não foram confirmadas. Também informou que a bactéria responsável pela doença não foi encontrada nas amostras acolhidas até o momento.
A veterinária diz que há trabalhos preventivos periódicos para evitar a proliferação do carrapato-estrela.
“Nós fazemos o controle químico do ambiente, captura dos carrapatos, coleta, todo material enviado para análise para ver se está contaminado ou não com a bactéria transmissora da doença. Também existe o controle das capivaras em relação ao manejo. Foi colocado cerca no lago para impedir a passagem delas para dentro do parque, porém elas acabam estourando a estrutura.”
A doença infecciosa é transmitida através do carrapato-estrela infectado e para a qual não há vacina — Foto: G1
Febre maculosa
A febre maculosa é uma doença infecciosa causada por uma bactéria transmitida através da picada de uma das espécies de carrapato (carrapato-estrela), ou seja, ela não é transmitida diretamente de pessoa para pessoa pelo contato e seus sintomas podem ser facilmente confundidos com outras doenças que causam febre alta. Há no estado duas espécies da bactéria causadora da doença.
📌 Quais são os sintomas?
- Febre
- Dor de cabeça intensa
- Náuseas e vômitos
- Diarreia e dor abdominal
- Dor muscular constante
- Inchaço e vermelhidão nas palmas das mãos e sola dos pés
- Gangrena nos dedos e orelhas
- Paralisia dos membros que inicia nas pernas e vai subindo até os pulmões, causando paragem respiratória
📌 Como prevenir?
- Usar roupas claras
- Usar calças compridas
- Passar um elástico na calça
- Se passar em área de risco, fazer uma busca pelo carrapato e removê-lo imediatamente do corpo
Por EPTV
Fonte: @portalg1
