Jogando futebol, eles tiveram a ideia de um negócio de energia que já tem R$ 1 bilhão em contratos


A união entre Miguel Segundo e Plauto Neto começou pelo futebol e logo perceberam que o esporte não era o forte, mas foi na área de energia que aconteceu a sinergia entre os dois. O engenheiro civil e o economista, respectivamente, são os sócios-fundadores da Gedisa, uma empresa que atua no setor de geração distribuída de energia e que faturou 16 milhões em 2022, mas cujos planos miram cifras bem mais audaciosas. 

A empresa tem 40 megawatts operacionais, volume que deve chegar a 315 megawatts considerando a entrada no sistema de usinas contratadas e em construção. Nos cálculos dos sócios, esses números permitirão alcançar o primeiro 1 bilhão de reais em 2027. Comparando com a receita projetada para este ano, 52 milhões de reais, o resultado equivale a uma expansão de 1.823% em um período de 4 anos.

Com amigos em comum, os dois se conheceram em 2014 e, antes da Gedisa, criaram a Platta, uma plataforma de crowdfunding para financiar a construção de usinas fotovoltaicas e hidrelétricas. A ferramenta disponibilizava cotas dos projetos e permitia que pequenos investidores adquirissem fatias em troca de retorno financeiro. O negócio foi vendido em 2019 e está nas mãos do fundo de investimentos Bossa Nova.  

Antes mesmo de saírem da empresa, os dois já miravam a criação de outro negócio. A experiência mostrou que a tese na Platta carecia de um ente adicional na cadeia de negócio: o comercializador da energia gerada pelos produtores. A Gedisa surge para suprir essa lacuna, com a proposta de conectar as pontas entre os produtores de energia e os consumidores no mercado de geração de energia distribuída.  

  • O modelo teve a sua primeira resolução pela agência regulatória do setor de energia, a Aneel, em 2012
  • Foi a partir de 2016, porém, que o mercado começou a se movimentar mais ativamente
  • Entre as motivações para o avanço do setor,  redução das contas, consciência ambiental, receio de crises hídricas e variações tarifárias recentes

Como a Gedisa entra em operação

Para viabilizar a empresa, os dois jovens empreendedores levaram o projeto, ainda na base do powerpoint e Excel, para o Grupo Ergon. Em operação desde 2004, a holding é conhecida no Paraná e parte de Santa Catarina pela atuação na comercialização de GLP, o gás de cozinha, e nos últimos anos tem diversificado a estrutura com investimentos em energia. 

A procura por um investidor com capilaridade e proximidade com o consumidor fazia parte da tese. Sem os canais adequados, o modelo poderia não vingar. A negociação andou e a Ergon adquiriu 80% de participação. Entrou com o capital para erguer o negócio e ainda compartilhando as estruturas financeiras, administrativas, RH e de marketing.

“Nós ficamos uma empresa bem enxuta e a utilização da base de clientes de gás foi bem importante quando iniciamos no Paraná e Santa Catarina”, afirma Miguel Segundo, cofundador e CEO da Gedisa. “A operação já começou muito bem posicionada no mercado e com uma carteira de clientes considerável para o mercado do sul que não existia em 2019”.

No negócio, os sócios se dividem na atuação. Miguel Segundo, engenheiro com especialização em engenharia de recursos hídricos e ambientais, cuida da parte técnica dos projetos. Com formação em economia, Neto olha para o aspecto mais econômico da operação, a viabilidade financeira dos projetos e proposta aos geradores de energia.

Com o modelo, a Gedisa aproveitou o portfólio de clientes para apresentar os serviços e apresentar pacotes combinados de ofertas, unindo gás e GD, como a geração de energia distribuída é conhecida. Diferentemente de outras opções no mercado, a GD não demanda investimentos com a instalação de placas solares. 

Os clientes, sejam eles residenciais, industriais ou comerciais, recebem a energia diretamente na rede, como acontece no modelo atuala das concessionárias. A diferença está na origem da energia, com o uso de fontes renováveis como pequenas hidrelétricas, fotovoltaica, solar, eólica e biomassa, entre outras.  

De acordo com a Associação Brasileira de Geração Distribuída (ABGD), a predominância na GD é de energia solar, respondendo por 98% de todo volume disponibilizado. 

Na Gedisa, com 50% da operação ainda concentrada no sul do país, a distribuição fica:

  • 50% da energia é gerada por pequenas Centrais Geradoras Hidrelétricas (CGHs) 
  • 40% por energia fotovoltaica
  • 10% por usinas de biogás, com rejeito suíno, e biomassa, a partir de cavaco de madeira

Essa energia da Gedisa vem desde criadores de suínos, no caso do biogás, que optaram por pegar parte da fazenda e usar para a geração de energia, quanto de empresários que têm na produção de energia a sua atuação principal. 

Qual é o momento do negócio

Para o acesso à energia, os sócios alugam a usina e rentabilizam os produtores de acordo com o volume de energia gerado. Hoje, contam com 43 usinas parceiras em funcionamento que atendem pouco mais de 4.000 clientes nos três estados do sul do país e ainda Espírito Santo, Mato Grosso do Sul e uma pequena parte de São Paulo. 

Os clientes da Gedisa são pequenos e médios negócios com contas de energia  em torno de 2.500 reais por mês. Como atrativo para a adoção da GD, a empresa promete descontos que variam entre 10% e 20%, a depender das bandeiras tarifárias em vigor no país. Pior a bandeira, maior redução o cliente vai sentir no bolso.  

Um próximo passo é avançar para os consumidores residenciais, um mercado em que concorrentes como a Raízen já atuam. O movimento  mira o crescimento do setor, previsto para avançar exponencialmente nos próximos anos com a entrada em vigor de novas regulamentações e autorizações que permitirão aos consumidores o acesso ao mercado livre de energia. 

Qual o tipo de investidor que a Gedisa procura

“Nós entendemos que as empresas que tiverem melhor posicionadas na geração distribuída, que é de baixa tensão, serão aquelas que estarão com a faca e o queijo na mão para serem os players mais relevantes no mercado de varejo”, afirma Plauto Neto.            

Para garantir essa posição, a empresa está procurando expandir a operação e está entrando no nordeste, a partir do Ceará e do Maranhã. Em paralelo, acaba de abrir uma rodada de investimentos para captar 20 milhões. 

Além do capital, a ideia é encontrar um parceiro com capilaridade comercial nacional e que sirva como cartão de visita para a empresa, assim como o papel desenvolvido pelo grupo Ergon regionalmente no início da empresa.

“A gente vai ter uma quantidade de energia muito grande nos próximos anos”, afirma Segundo. “Precisamos ter um parceiro que nos dê essa chancela e traga o reforço da capilaridade comercial pra gente poder atender e ter consumidor para toda essa energia disponível”, afirma. 

Fonte: exame

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