Jeep Compass Blackhawk é mais rápido que Volkswagen Jetta GLi? Testamos


Alcançar a fase mais madura da vida adulta pode significar também ter que encarar uma crise de meia idade daquelas. O termo, criado há quase 60 anos, define insegurança e incerteza que vêm ao descobrir que a juventude se foi e a velhice se aproxima. Encontrar atividades que tragam prazer é uma das saídas apontadas por especialistas. Se dirigir for uma delas, trocar de carro pode ser um caminho. Jeep Compass Blackhawk (R$ 279.990) e Volkswagen Jetta GLI (R$ 245.390) são excelentes candidatos para espantar qualquer crise.

Achou estranho compararmos um SUV com um sedã? Recomendo que siga a leitura, pois estamos falando de ótimos esportivos civilizados para quem busca fugir de qualquer rotina. Antes de tudo, são carros de família, com espaço suficiente para levar os filhos (ou netos) à escola e fazer tranquilas viagens de final de semana. Mas não se engane. Estamos falando também de veículos que não fazem feio na faixa da esquerda.

No caso do Jetta, o sobrenome GLI é uma apresentação das credenciais. A versão é a única remanescente do sedã no Brasil e chega importada do México com o conhecido motor 2.0 TSi turbo a gasolina da família EA888. São 231 cv de potência e 35,7 kgfm de torque, gerenciados pelo conhecido câmbio DSG automatizado de dupla embreagem com sete marchas e caixa banhada a óleo.

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Passando para o Compass, o nome da nova versão Blackhawk não entrega qualquer indicação de que esse é o SUV médio mais rápido do país. Mas basta observar as duas saídas de escape para descobrir que esse Jeep carrega o motor 2.0 Hurricane 4 turbo a gasolina da Ram Rampage, consideravelmente mais novo e potente que o rival alemão, apesar de trazer a mesma receita de turbocompressor, quatro cilindros, 16 válvulas e injeção direta de combustível.

São 272 cv de potência e 40,8 kgfm de torque, exatos 41 cv e 5,1 kgfm adicionais na comparação direta com o 2.0 TSi do Jetta. A vantagem está em um projeto mais novo e com parâmetros diferentes de dimensionamento e pressão do turbo.

Mas a vantagem clara do Compass Blackhawk some quando consideramos outros fatores. Ainda que seja menor e mais potente, o Jeep pesa 244 kg a mais que o Jetta GLi. É como andar sempre com três adultos de 80 kg a mais. Parte dessa massa adicional é explicada pelo sistema de tração 4×4, que exige componentes como diferencial traseiro e cardã, por exemplo. No Volkswagen, as rodas motrizes são as da frente e a plataforma MQB é mais leve que a Small Wide da Jeep.

Além disso, a carroceria de SUV, por si, desfavorece o Compass no fator aerodinâmico. Seu coeficiente de arrasto é de 0,35 Cx, contra 0,30 Cx do Jetta GLi. Parece pouco, mas estamos falando de uma diferença de quase 15% em favor do sedã.

Por isso, mesmo com os 41 cv a mais, o Compass Blackhawk vai de 0 a 100 km/h oficialmente em 6,3 segundos, segundo a Stellantis, contra 6,7 s do Jetta GLi, diferença de apenas 6,35%. Mas esses são os números oficiais. Levamos os dois à nossa pista de testes para ver como é essa diferença na prática. Contaremos os resultados logo abaixo.

Antes, outro ponto importante: por ser um sedã, o Jetta GLi é um esportivo mais “natural” que o Compass, por assim dizer, mas o Jeep tem como grande vantagem poder encarar terrenos difíceis graças à tração nas quatro rodas com seletor de terrenos. Mas, curiosamente, não há um modo Sport e o ronco do escapamento é bastante discreto. Bem que a Jeep poderia ter adotado o sistema de escape da Ram Rampage R/T, com a qual compartilha o motor.

No Jetta, o modo Sport não apenas existe, como permite que o motorista ajuste, individualmente, parâmetros de direção, câmbio e escapamento. Afinal, há momentos em que você quer apreciar um bom jazz. Em outros, curtir o som do motor, ainda que o ruído que chega na cabine seja reforçado pelas caixas de som. Truque válido, assim como esconder de forma artificial alguns fios brancos do cabelo.

Antes de trazer dados de desempenho e impressões ao dirigir, vamos seguir falando de estilo. A bordo de Compass Blackhawk ou Jetta GLi, você vai parecer mais jovem. A dupla lança mão da cor vermelha como sinônimo de esportividade. Ambos trazem as capas das pinças de freio nessa tonalidade.

O Jetta vai além e aplica a cor também em um filete na grade e no contorno das tomadas de ar no para-choque dianteiro. Nada muito exagerado e longe de parecer um traje do cantor Falcão. Afinal, na maior parte do tempo, esses carros também devem cumprir compromissos de família.

Apesar do apelo esportivo, não dá para exatamente definir Compass ou Jetta como modelos “jovens”. A atual geração do sedã foi lançada em 2018, com um facelift aplicado em 2022 e outro recém-apresentado na América do Norte. Nesse meio tempo, a marca alemã já mudou pelo menos duas vezes a identidade visual, mas de (muito) longe, você consegue perceber que é um Volkswagen.

O mesmo vale para o Compass, só que com um agravante. O SUV está na mesma geração desde 2016, tendo passado por discretas reestilizações. A mais recente deu ao Compass uma nova grade, com barras mais verticais. Talvez seja necessário um par de óculos para perceber. A versão Blackhawk adiciona ainda alguns elementos escurecidos, como as molduras da grade e das janelas e os emblemas com o nome da marca e do modelo.

Mas é no interior que o Compass se destaca perante o rival. Os dois apelam para temas escuros, mas a reestilização de 2021 colocou o Jeep como referência nesse aspecto. Quase todas as superfícies são emborrachadas e há uma variedade interessante de materiais, como suede e couro. O visual é moderno, com ergonomia adequada.

No Jetta, bem… Temos um padrão típico da Volkswagen. Tudo funciona bem e está onde deveria, mas o visual parece uma vestimenta dos anos 2010, já meio ultrapassada. Além disso, há grandes painéis de plástico duro onde se espera um material de melhor aspecto.

O sedã compensa qualquer vacilo no acabamento com uma dirigibilidade melhor, como era de se esperar, por conta da menor massa e do centro de gravidade mais baixo. À parte das questões da física, o Jetta é um carro mais bem acertado. Ainda que o câmbio DSG entregue saídas morosas, por conta do acerto para a legislação de emissões Proconve L8, as demais trocas são realizadas na hora certa. O mapa do acelerador é mais bem ajustado que o do oponente e a suspensão rígida garante menores movimentações laterais da carroceria.

No Compass, a impressão que fica é de que há um motor muito potente, mas os retrabalhos de calibração do acelerador e maior firmeza na suspensão ficaram aquém do que se espera em um esportivo, mesmo com adoção de barras estabilizadoras mais firmes que as das demais versões do SUV.

Ao volante, parece que a potência é entregue de forma simples e direta, sem um compromisso com uma dinâmica de condução esportiva. Isso fica evidente com as maiores oscilações laterais de carroceria, difíceis de conter em um SUV com carroceria mais alta e suspensão traseira mais simples (tipo McPherson, contra um jogo multilink do Jetta). E nem estamos falando de curvas fechadas, mas em simples movimentos de trocar de faixa.

Em nossos ensaios no Rota 127 Campo de Provas, mesmo com 41 cv e 5,1 kgfm extras, o Compass não conseguiu ser mais rápido que o Jetta. Os dois levaram os mesmos 6,6 segundos para ir de 0 a 100 km/h. Assim, decidimos recorrer ao photochart (aposto que você, de mais de 40 anos, pegou a referência), quebrar o protocolo e incluir mais uma casa decimal para ver qual deles foi mais rápido de gfato.

Vamos aos números. O Jeep Compass Blackhawk fez o 0 a 100 km/h em exatos 6,63 segundos, apenas 0,06 s mais lento que o Volkswagen Jetta GLi, que cumpriu a prova em 6,57 s.

Nas demais provas, não há margem de dúvidas: o Jetta é mais rápido em acelerações mais longas e retomadas. Uma das explicações, além das questões aerodinâmicas e de peso, está na entrega de potência e torque a rotações mais baixas. Ou seja, o motor demora menos para “encher”. No caso do torque, a diferença é significativa, de 1.500 rpm para 3.000 rpm no Jeep.

Nas frenagens, o padrão se repetiu, com o Volkswagen parando antes em dois dos três ensaios (em um deles, houve empate). Por fim, nem mesmo no consumo o Jeep Compass Blackhawk conseguiu resultados melhores, ainda que as marcas de 8,8 km/l na cidade e 14,5 km/l na estrada sejam respeitáveis. A questão é que o Jetta GLi fez 9,8 km/l na cidade e 16,4 km/l na estrada.

De forma geral, o confronto é muito equilibrado. Os dois rivais indiretos se equivalem na lista de equipamentos, com pacotes completos de assistência à condução (frenagem automática de emergência, alerta de saída de faixa com correção no volante e centralização, controlador de velocidade adaptativo) disponíveis em ambos.

O Compass Blackhawk tem teto solar maior, saída de ventilação no banco traseiro e melhor aproveitamento de espaço para ombros e cabeça. O Jetta se defende com um porta-malas consideravelmente maior (veja os números na ficha técnica logo abaixo). Nos custos pós-vendas, um ponto para cada. As peças da Volkswagen são muito mais baratas.

Porém, a Jeep se sai melhor com revisões mais amigáveis em dois aspectos. Primeiro, porque as manutenções são feitas a cada 12 mil km ou um ano. Ou seja, se alguém roda muito, não vai precisar encostar o veículo antes do tempo. Segundo, porque, ainda que as três primeiras revisões da Volkswagen estejam incluídas no preço do veículo, há itens pagos de substituição obrigatória para que a garantia do veículo seja mantida. Em abril, a marca disse que isso seria alterado no site, mas a informação segue lá. Dessa forma, consideramos esses custos na ficha.

No fim das contas, o que pesou na decisão do comparativo foram os números de desempenho, a dirigibilidade e o preço de compra. Afinal, alguém que pode sofrer com a crise de meia idade procura um carro para se divertir, certo? Nesse aspecto, o Volkswagen Jetta GLi entrega mais que o Jeep Compass Blackhawk. E o melhor de tudo, custando muito menos que o concorrente.

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Fonte: direitonews

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