Jeep coloca carros novos e clássicos na terra para provar que perdeu a vergonha de seu passado


Logo depois de voltar a produzir veículos no país, em 2015, a Jeep do Brasil passou a chamar os clientes da marca de “Jeepers”. A ideia, possivelmente gestada em uma sala de agência de publicidade com ar-condicionado e mobília descolada, era justificada com uma declaração do tipo “alinhamento global” ou algo do gênero.

Assim, a Jeep do Brasil acabou separando seus fãs e consumidores em dois blocos. “Jeepers” seriam os clientes dos modelos novos, como Renegade, Compass e afins, enquanto os “Jipeiros” representavam o grupo de pessoas que têm ou admiram os modelos (bem) mais antigos, como o Jeep Willys, a Rural, a F-75 e outros. O que tornava, de certa forma, o “Jeeper” um “Jipeiro Gourmet”.

Vale lembrar que a Jeep no Brasil viveu um longo hiato como fabricante nacional. Saiu em 1983, quando a Ford interrompeu em São Bernardo do Campo a produção do Jeep tradicional (o CJ-5, então chamado Jeep Ford), herdado da Willys, empresa que detinha os direitos da marca Jeep por aqui, e só retornou a esta condição 33 anos depois, com a inauguração da fábrica da FCA (Fiat Chrysler Automobiles) em Goiana, Pernambuco, quando iniciou a produção local do Renegade.

Alguns flashes ocorreram nesse intervalo, como a importação de modelos a partir de meados dos anos 1990, mas nada realmente impactante. É importante registar que nesse período a Chrysler, dona da Jeep, também viveu momentos conturbados na matriz, nos Estados Unidos, como durante a crise financeira global de 2008, que atrapalharam ou atrasaram planos para o mercado nacional.

Mas agora estamos em 2023, a Chrysler foi adquirida pela Fiat e depois entrou para o grupo Stellantis, um dos atuais gigantes mundiais da indústria automobilística, dona de uma infinidade de marcas – entre elas, a Jeep.

Finalmente, a Jeep do Brasil acertou os ponteiros com seu passado – e, felizmente, abandonou o termo “Jeeper”. Agora todos os clientes e admiradores da marca são considerados jipeiros – o que faz o maior sentido: a Jeep é a única que pode se gabar da existência de uma expressão popular tão íntima e carinhosa para definir a relação da marca com seu público.

Não existem “volkseiros”, “fiateiros”, “chevroleiros”, “renaulteiros”, “landroveiros”; só mesmo jipeiros. Isso reforça ainda a conotação de que o nome da marca representa por si só um segmento inteiro: todos os veículos com alguma capacidade fora de estrada são comumente chamados aqui como “jipes” ou até “jipinhos”, algo que certamente incomoda a concorrência.

Para provar que finalmente perdeu a vergonha de sua origem, a Jeep realizou na quinta-feira, 23/11, o evento Jeep Legacy, onde reuniu modelos clássicos lado a lado com os modernos para aventuras off-road. O local escolhido foi o Hotel Fazenda Primavera da Serra, em Brotas, no interior de São Paulo, que conta com vários roteiros e pistas para atividades 4×4, da mais simples “estrada de chão” a trilhas apertadas em meio à mata, passando por tanques de lama e obstáculos naturais e artificiais, com vários níveis de dificuldade.

E assim vários modelos antigos, das décadas de 1950 a 1970, como os CJ-2 (CJ é abreviação de “Civilian Jeep”, ou seja, Jeep para uso civil), CJ-3, CJ-5 e CJ-6 dividiram espaço, sem rusgas, com seus “primos” modernos, como Wrangler, Gladiator, Compass e a nova Grand Cherokee 4xe (com motorização híbrida).

Quatro destaques da mostra: um CJ-6 “Bernardão” (apelido da época) quatro portas 1966, com pouco menos de 70 mil quilômetros rodados e totalmente original; um Wrangler 1992 com faróis quadrados e configuração mecânica de motor quatro cilindros e câmbio manual, bastante rara por ter sido um fracasso comercial nos Estados Unidos; um Grand Cherokee V8 Limited 1995 em ótimo estado de conservação, originária de importação independente; e um Willys 1950 equipado com um inusitado porta-malas, vendido como acessório original na época.

Apresentações feitas, todos saíram para passear na terra, lugar onde os Jeeps (particularmente os antigos) se sentem bastante à vontade. Em que pese o óbvio avanço tecnológico e de conforto que décadas de evolução automotiva são capazes de proporcionar, todos voltaram ao fim da tarde sujos e felizes – inclusive algumas pessoas que jamais haviam dirigido um Jeep Willys na vida.

Para não deixar nenhuma dúvida de que realmente desejava se reconectar com seu passado perdido, mais do que carros a marca levou ao evento Jeep Legacy também personagens importantes da história da Jeep por aqui, como representantes do Jeep Clube do Brasil (casa dos jipeiros mais raiz que você poderá conhecer), da Agromotor, tradicional revenda paulistana de modelos e peças para carros antigos da marca, o jornalista especializado em fora de estrada e aventureiro Nelson de Almeida Filho, e até um dos integrantes da “Operação Abacaxi”, como ficou conhecido grupo de três jovens escoteiros que foram do Brasil ao Alasca a bordo de um Jeep em 1955.

A marca Jeep, assim, conseguiu promover em Brotas uma reunião familiar daquelas que ninguém mais espera que ainda possa ocorrer, após décadas e décadas de tios e primos separados por rusgas do passado. Ao menos para essa turma, a reunião natalina desse ano promete!

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Fonte: direitonews

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