Iniciativas na UFMT atuam para a equidade de gênero


O surgimento da data remonta o ano de 1908, quando elas foram às ruas da cidade de Nova York exigindo a redução das jornadas de trabalho, salários melhores e direito ao voto. Em 1975, a Organização das Nações Unidas (ONU) oficializa a data que marca um momento de reflexão, respeito e diálogo sobre o papel delas na formação da sociedade.

Na Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) elas são pouco mais de 49%, entre docentes, técnicas e terceirizadas, conforme dados da Secretaria de Gestão de Pessoas (SGP). Nos cursos de graduação elas somam 51% e 60% nas pós-graduações, além de projetos de extensão, conforme dados da Pró-reitoria de Planejamento (Proplan). 

Entre as ações desenvolvidas na Universidade, estão aquelas desenvolvidas pelo Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre a Organização da  Mulher (Nuepom), hoje chamado de Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre Relações de Gênero, como relata a professora do Departamento de Serviço Social e do Programa de Pós-Graduação em Política Social do Instituto de Ciências Humanas e Sociais (ICHS) da UFMT, Bruna Andrade Irineu.

“As ações feministas na Universidade são características de como o tema de gênero vai também fazer parte da agenda acadêmica, seja no Brasil e em outra parte do Mundo. Obviamente, que a UFMT não poderia ficar nessa seara, sem ter alguma história para contar. As ações com mulheres na UFMT, em meados do final dos anos 80 e início dos anos 90, especialmente relacionadas aos grupos de mães, eram bastante desenvolvidas pelo curso de Serviço Social no ICHS, e esse foi um dos motivadores para criação do Núcleo”, ressalta.

A professora conta ainda que, com tantas demandas latentes, o Nuepom se institucionaliza na UFMT em 1992. “De lá para cá já somam 30 anos de atuação em pesquisas e extensões fundamentais para a capilarização do feminismo na região Centro-Oeste, especificamente Mato Grosso, com ações como temas como violência de gênero, educação não secxista, violência LGBTifóbica, políticas públicas e enfrentamento à violência”, destaca.

Representações e discursos 

Somando os esforços do Nuepom para deixar ainda mais potente e necessária a demanda pela igualdade de gênero e respeito aos direitos das mulheres, nasce o projeto de pesquisa com título “Representações do feminino: a circulação de discursos sobre a mulher no contexto brasileiro”, de responsabilidade da professora Ana Carolina Nunes da Cunha Vilela Ardenghi do Programa de Pós-Graduação em Estudos de Linguagem (PPGEL) da UFMT.

“Esse trabalho foi desenvolvido entre 2018 e 2021, e visava descrever e analisar a circulação de discursos sobre a mulher no contexto brasileiro, especialmente nos âmbitos da política e da educação. Interessava descrever o modo como os discursos sobre “a mulher” – entre aspas porque uma tal categoria já tem uma série de nuances a serem consideradas–, são postos a circular, de que maneira eles operam a partir de certos estereótipos,ou não, com que outros discursos dialogam”, explica complementando que a pesquisa foi profundamente afetada pela pandemia de covid-19, considerando o volume intenso de produção discursiva acerca da mulher em muitas publicações.

A professora conta ainda que um dos aspectos que ganhou destaque na pandemia dizia respeito à condução das lideranças políticas femininas. “ Foi algo primeiro “percebido” e depois pesquisado efetivamente. Essas pesquisas ganharam o mundo e passaram a ser comentadas pelas mídias em geral. O que era interessante, discursivamente falando, era que associações dessas mulheres atuantes na política seguiam atreladas a papéis tipicamente associados ao universo feminino, como, por exemplo, o de mãe”, diz.

Em meio a pesquisa, Ana Carolina Nunes da Cunha Vilela Ardenghi conta que a matéria da Folha de S.Paulo, assinada por Ana Estela de Sousa Pinto e publicada em 26 de abril de 2020, apresenta um gráfico cujo título é “Mulheres ao volante”.  “A metáfora da “direção”, isto é, do “motorista”, do “condutor” é relativamente comum para tratar de política, mas a referência ao “volante” é particularmente interessante porque, por meio da memória, reavivamos o ditado popular segundo o qual “mulher ao volante… perigo constante”. E é justamente essa construção cristalizada que aparece no gráfico da matéria”, destaca.

Elas na mídia: uma luta em muitas frentes

Em atividades na UFMT, desde 2020, o Observatório de Comunicação e Desigualdades de Gênero (Pauta Gênero) é um projeto de extensão que se propõe  ser uma ferramenta de observação crítica dos meios e processos comunicativos para reflexão sobre as desigualdades de gênero da sociedade. A professora do curso de Jornalismo da UFMT,  Nealla Valentim Machado, integrante do grupo, conta que o projeto nasceu  de um monitoramento global de mídia sob coordenação da também professora da UFMT Tamires Coêlho.

“Fazemos análise de mídia no nosso blog, sempre com esse viés de crítica de gênero. Já realizamos oficinas online e presencial, bem como apresentamos em seminários nacionais e internacionais. Em relação a retração das mulheres na mídia podemos notar que existe uma melhora significativa, mas a figura das mulheres, principalmente as mulheres marginalizadas, ainda é explorada de maneira significativa”, conta a professora, complementando que na mídia regional esses recortes são vistos de forma bastante clara.

Para Nealla Valentim Machado ainda falta um treinamento da imprensa para pensar a pauta das mulheres e o tratamento delas para além do 8 de março, e a professora Ana Carolina Nunes da Cunha Vilela Ardenghi do PPGEL, por meio de sua pesquisa, caminha para esse mesmo pensamento.

“Ou seja, embora possa parecer tentador afirmar que a visão da mulher na política segue machista, é possível — considerando os dados coletados — dizer também, ou seja, não se descarta a possibilidade de manutenção da predominância de discursos machistas,  que há espaço para deslocamento no modo como nossa sociedade categoriza o universo feminino. Em síntese, o modo como enxergamos as mulheres, na política, por exemplo, ainda é fortemente atrelado a concepções históricas dos papéis a elas atribuídos, como de mãe, dona de casa, motoristas ruins”, conta a professora, complementando que isso não significa que esses papéis não possam produzir novos sentidos, inclusive sentidos que desloquem uma visão tradicionalmente promotora de desigualdades para novos caminhos. 

Nesse cenário, a professora Bruna Andrade Irineu, concorda que existem ainda muitos temas a serem discutidos no ambito acadêmico que compõe a agenda feminista. “Entre eles pensar a ciência em pé de igualdade, pensando especial como as carreiras acadêmicas se distinguem na vida de homens e mulheres, como as mulheres acabam tendo que vivenciar uma série de desafios e dificuldades particulares em função da maternidade, em função de serem mulheres e pesquisadoras”, diz a pesquisadora finalizando a urgência de pensar também o debate sobre o assédio, o assédio sexual, a violência nos Câmpus, e que para além de 8 de março, cabe a Instituição desenvolver ações que tenham uma agenda contínua e que seja responsável por ela. 

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Fonte: ufmt

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