Representantes da indústria se reuniram nesta quarta, 16, na 27ª Conferência do Clima da Organização das Nações Unidas (COP27), para discutir as contribuições do setor para a conservação florestal.
Mediador do painel, Gustavo Pinto Coelho de Oliveira, presidente da Federação das Indústrias no Estado de Mato Grosso (FIEMT), começou a conversa dizendo que a COP é o palco de discussões sobre sustentabilidade do mundo, e por isso o Brasil precisa estar lá, levar as contribuições da indústria brasileira para a descarbonização, e também ver bons exemplos em economia verde.
“A gente tem que sempre trabalhar com a ideia de que temos que compartilhar o que estamos fazendo”, comentou Jefferson de Oliveira Gomes, diretor de Inovação e Tecnologia do SENAI. Para ele, o desenvolvimento de projetos que levam a uma indústria mais sustentável é feito à base de muita pesquisa e criatividade, “pessoas que pensam profundo novas formas de desenvolver novos produtos”.
Os exemplos que são mostrados ao mundo, ele diz, sempre precisam de auditoria, “mostrar os números, mostrar o ‘tracking’ do dinheiro – seja ele público ou privado”. “Esse mesmo dinheiro tem que servir para aumentar a capacidade de gestão do conhecimento. A gente tem que comunicar o que faz de bom pela biodiversidade”, afirmou Gomes.
Para o executivo do SENAI, a inovação é mais efetiva quando feita em rede, unindo pontos de vista e expertises diferentes.
Suzano: net zero e metas de reflorestamento
No encontro, Mariana Lisbôa, líder global de Relações Corporativas da Suzano, comentou que a companhia lançou junto com outras empresas no último dia 12, durante a COP17, a Biomas, uma organização focada em conservação e restauração florestal. Segundo a executiva, serão 4 milhões de hectares de florestas restaurados nos próximos 20 anos, fruto dessa iniciativa conjunta.
A Biomas, ela explica, só foi possível pelo surgimento do mercado voluntário de carbono, e é preciso agora, na visão da executiva, que haja políticas públicas adequadas que permitam à iniciativa privada agir no caminho de uma jornada mais sustentável.
“Acreditamos que teremos um mercado de regulação de carbono no Brasil que nos permitirá escalar a Biomas da forma como a gente deseja e da forma que o mundo merece”, afirmou.
Para Mariana, iniciativas como essa só são possíveis quando iniciativa privada, sociedade civil e academia andam juntas para combater as mudanças climáticas, e o poder público precisa estar alinhado a tudo isso. A executiva citou a modernização da lei de concessões florestais como um bom exemplo nesse sentido.
Ela destacou, ainda, que a Suzano já é net zero, neutraliza todas as suas emissões, e assumiu compromissos públicos em 2020 para “renovar a vida”. “São 15 compromissos ligados aos ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU]”, explicou. Um deles, disse, prevê remover 40 milhões de toneladas de CO2 da atmosfera até 2030 e reduzir em 15% as emissões da companhia até 2025. “Isso tudo só é possível pela inovação a favor da sustentabilidade.”
O que é inovabilidade?
A executiva afirmou que na Suzano, que só planta em áreas anteriormente degradadas ou antropizadas, usa-se, internamente, o termo inovabilidade, que é a inovação a serviço da sustentabilidade. Para promover essa inovação, a companhia tem um centro de inovação em Israel e está fazendo outro na China.
“A empresa se comprometeu, em 2020, a oferecer ao mercado, até 2030, 10 milhões de toneladas de produtos de base renovável em substituição ao plástico e outros produtos derivados do petróleo. A gente só consegue isso através da inovabilidade, investindo em tecnologia e em novas formas de fazer os mesmos produtos. Estamos imbuídos desse propósito.”
Hoje, ela afirma, se paga mais IPI em produtos feitos de papel do que similares de plástico, o que afeta o preço final do produto. “O estado precisa permitir ao consumidor essa capacidade de escolha, e que os bioprodutos possam competir de forma mais igual com os produtos de origem fóssil.”
Fundo JBS pela Amazônia: R$ 60 milhões em investimentos
Também presente no painel, Joanita Maestri Karoleski, presidente do Fundo JBS pela Amazônia, comentou que a JBS definiu o atingimento do net zero até 2040 e, dentro dessa plataforma, explicou a executiva, há uma plataforma de rastreamento da pecuária.
“A JBS entendeu que a Amazônia é extremamente importante não só para o Brasil, mas para o mundo, e por isso a criação do Fundo JBS pela Amazônia em setembro de 2020”, disse.
Joanita, que foi CEO da Seara até 2020, quando assumiu a liderança do Fundo, disse que a instituição vem trabalhando para reduzir áreas degradadas e ampliar a conservação da floresta. “O Fundo foi criado para ajudar a resolver esses dois problemas”, disse.

Joanita Maestri Karoleski, presidente do Fundo JBS pela Amazônia: dos R$ 250 milhões iniciais propostos pelo Fundo para investimentos em projetos na região da Amazônia, R$ 60 milhões já estão alocados em 18 iniciativas (JBS/Divulgação)
Para isso, a iniciativa trabalha em três eixos, explicou. O primeiro deles é ciência e tecnologia, e nessa frente ela diz ser importante trabalhar de forma cooperativa com mundo acadêmico, iniciativa privada, governo e organizações sociais, “para que realmente se consiga, através da ciência e tecnologia, levar soluções com a agregação de valor aos produtos da Amazônia”.
A executiva da JBS destacou que o Fundo olha a ciência e a tecnologia por dois aspectos: os bioprodutos da Amazônia e resolver questões estruturantes de mobilidade, conectividade e energia. “Não dá para se estabelecer lá, começar a criar negócios se não tiver essas questões estruturantes resolvidas”, afirmou.
Retomando os eixos pelos quais o Fundo JBS Pela Amazônia atua, a executiva disse que o segundo são cadeias produtivas e o terceiro, bioeconomia, olhando tanto as questões estruturantes como geração de negócios, com mentoria e investimentos. “A gente quer trabalhar em pecuária de baixo carbono e sistemas agroflorestais”, disse. “O maior projeto do Fundo, até agora, é um sistema agroflorestal de cacau”, exemplificou.
Na questão da bioeconomia, Joanita mencionou dois projetos. Um é o do bioplástico, para reduzir a participação do polipropileno usando resíduos da Amazônia, como aparas de madeira, ouriços de castanha e o caroço do açaí, e o outro é levar internet para as comunidades. “Vamos levar internet por satélite a mais de 4 mil comunidades até 2025”, disse.
A executiva citou uma pesquisa recente do Instituto Ipê que perguntou aos jovens o que os levaria a ficar na Amazônia interiorana, e não deixar a região. Os jovens deram como primeira resposta a internet. “Criar em cada comunidade para levar educação, saúde e acesso ao mercado e à cadeia. Os bioprodutos já são uma realidade na Amazônia interiorana, mas precisam de acesso ao mercado.”
Segundo Joanita, dos R$ 250 milhões iniciais propostos pelo Fundo para investimentos em projetos na região da Amazônia, R$ 60 milhões já estão alocados em 18 iniciativas.
Cuidado com o greenwashing
Em sua fala, José Luis Gordon, diretor-presidente da Embrapii (Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial), reforçou a importância de a indústria ter um sistema de inovação orientado à sustentabilidade. “A gente precisa que os atores da indústria tenham a agenda de inovação como prioridade, que a coloquem como eixo estratégico”, disse.
Segundo ele, a Embrappi tem buscado esse papel. Hoje, 67% da carteira de projetos da instituição já tem relação com algum ODS, afirmou, dizendo que foi uma primeira métrica que a instituição definiu.
Mas Gordon reforçou a importância de se tomar cuidado para não caminhar para o “greenwashing”, quando as empresas promovem o discurso da sustentabilidade sem ter ações nesse sentido de fato. Nesse sentido, ele disse que a Embrapii está definindo os critérios para classificar inovações que sejam realmente de sustentabilidade.
Gordon comentou, ainda, que a instituição lançou quatro centros de pesquisa ligados à bioeconomia na região Norte do Brasil. “Hoje são 89 centros de pesquisa ligados à Embrapii”, disse.
Oliveira reforçou ainda a importância do apoio à inovação. “É uma agenda de sustentabilidade, mas é uma agenda de tecnologia também.”