A origem do nazismo no Brasil
“Isso é fruto de diversos fatores. Eu diria que desde o contexto político nacional, que em alguma medida traz algumas possibilidades para o avanço de grupos neonazistas, mas, sobretudo, a utilização dos meios digitais. Esses grupos vão se formar por meio das plataformas digitais se inspirando nas referências internacionais, mas também, em alguma medida, buscando adaptar essas questões para a realidade brasileira.”
Brasil na rota do Terceiro Reich da Alemanha nazista
“Mario G. Losano [filósofo italiano] descreve a criação de ‘Estados vassalos’ como uma função estratégica na condução da guerra, concebendo-os como fortes aliados alemães. No caso da América do Sul, as relações da Alemanha com suas colônias na América do Sul serviriam como distração para os Estados Unidos, retirando deles o foco na ajuda ao aliado inglês na guerra na Europa, obrigando-os a focar no próprio continente americano.”
“‘Deus’ [nesse projeto] representa a inspiração divina para governar, e não um ungido; ‘Pátria’ representa o nacionalismo, com a defesa das riquezas e da cultura (moral e folclórica); e ‘Família’ seria a representação da família nuclear tradicional, na qual o pai representa a dimensão primeira do Estado, pois chefia o núcleo familiar, sendo ele o provedor […], [e] a mãe, no núcleo familiar, representa a mulher dedicada ao lar, à educação dos filhos e aos cuidados do esposo. Cabe dizer que a mulher integralista deve ser ativa militante, porém resguardando o lado feminino, de esposa e mãe, conforme o movimento assim determinava.”
Expansão do neonazismo como fenômeno global
“E no Brasil não é diferente. Então a gente vive atualmente esse clima de ódio, de violência, de armamentismo, de preconceitos, discriminação e, também, de crescimento das próprias células nazistas.”
Por que a região Sul é a mais afetada?
“Eu digo isso aqui pelo Sul do Brasil, onde a colonização alemã e a colonização italiana, apesar de a maior parte [dos imigrantes] ter chegado aqui antes do surgimento do fascismo e do nazismo, […] mantiveram profundas ligações com os países de origem e, portanto, [foram] permeáveis a essa troca de informações e, eu diria até, de formação”, explica a ex-ministra.
“É bom também sempre lembrar que o integralismo foi um partido muito forte no Brasil, mas principalmente aqui no Sul. Os maiores contingentes integralistas estiveram organizados, formados, instalados no Sul do Brasil, e em Santa Catarina em especial. E todos nós sabemos que o integralismo tem forte vinculação com a base ideológica do nazismo e do fascismo. Então é esse conjunto de elementos que acaba enraizando, em determinadas situações, em determinados núcleos da sociedade catarinense do Sul do país, essa vinculação.”
Internet como difusora do neonazismo
“O negócio das redes sociais são os likes e os próprios algoritmos construídos a partir da tal visualização — é muito mais fácil você ter o conteúdo que é violento, que é lacrador, que facilita, potencializa ainda mais a divulgação, a disseminação [de conteúdo extremista]. Aí você tem determinados instrumentos que foram comprados por pessoas que têm vínculo com a ideologia.”
Como combater o avanço do neonazismo
“Ainda mais nesses tempos de redes sociais, que não nos ajudam em nada a fazer esse trabalho. Mas é muito importante manter todos os trabalhos, as atuações de enfrentamento a essa ideologia de ultradireita, fascista, nazista, violenta, discriminatória”, explica.
“Não é uma terra de ninguém [a Internet]. Nada ali que seja criminoso no cotidiano, no dia a dia, no convívio, nas relações das pessoas, tudo aquilo que é caracterizado como crime, terá que ser também feito o equivalente nas redes sociais e na Internet. Então a regulamentação das big techs e das redes sociais é absolutamente imprescindível para a gente poder ter condições de fazer um enfrentamento [ao neonazismo].”
“Eu diria que a dificuldade maior, inclusive, atualmente é nos Legislativos, por conta da bancada, e eles acham que podem fazer o que querem, eles se escudam na liberdade de expressão, na impunidade — eu não diria mais imunidade, é impunidade parlamentar. Se dão até o direito de ir tramar contra o país nos Estados Unidos”, acrescenta.
“Nós amamos Santa Catarina, e todos nós amamos e reconhecemos este estado como um estado de solidariedade, um estado de lutas, um estado onde nós tivemos muitos avanços significativos. Temos personalidades nacionais e internacionais reconhecidas aqui de Santa Catarina, exatamente na visão humanista, como Dom Paulo Evaristo Arns, Dona Zilda Arns, o Bispo Dom José Gomes.”
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Fonte: sputniknewsbrasil