Sempre que a Apple lança um novo iPhone, grandes filas se formam em frente às lojas de todo o mundo. Os fãs que fazem questão de ter as novidades em primeira mão são chamados early adopters. Isso também acontece no mundo dos carros, quando as pessoas fazem uma reserva, dão um sinal e compram um carro antes mesmo de vê-lo. Definitivamente esse não é o caso da Caoa e do Hyundai Kona.
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A versão elétrica do SUV compacto foi lançada em 2018 e recebeu um facelift em 2021. No final do ano passado, uma nova geração foi apresentada no exterior. Mas só em março de 2023 a importadora oficial da Hyundai resolveu trazer o primeiro Kona elétrico para o Brasil.
Sim, o carro que está à venda por R$ 219.990 já mudou radicalmente em boa parte do mundo. E olha que o cenário poderia ser pior. Isso porque na apresentação do Kona, o preço era R$ 70 mil mais alto: R$ 289.990. Antes de seguir com a avaliação, um spoiler. Se você não for um early adopter, o pequeno SUV poderá te surpreender.
Chamar o Kona de pequeno SUV não é exagero. Com 4,20 metros de comprimento, ele é 10 cm mais curto que um Creta, uma espécie de “primo distante”. Mas os balanços relativamente curtos fazem com que a distância entre-eixos seja semelhante, 2,60 m. Assim, as pernas não sofrem, mesmo com motoristas mais altos.
O mesmo não pode ser dito do espaço para ombros e cabeça. Ou do porta-malas, que acomoda apenas 332 litros. Como referência, são cerca de 100 litros a menos do que no Creta e só 17 litros a mais do que em um Citroën C3.
O estilo também lembra mais um hatch do que um SUV — tanto que na Europa ele é conhecido como crossover. Por ser sido lançado há três anos, o desenho não segue a linha mais recente da marca coreana. Esqueça as formas pouco convencionais, vincos pronunciados e de gosto duvidoso. O Kona oferecido no Brasil é mais arredondado e se parece com a geração anterior do Tucson.
As maiores ousadias estilísticas são faróis e lanternas divididos em duas peças. Na traseira, a parte superior tem as luzes de freio, abaixo, direcionais e ré. Na frente, o conjunto principal fica abaixo e acomoda as luzes baixa e alta. Acima, um estreito filete para o DRL.
A grade é fechada e acomoda o bocal de carregamento. Em um aparelho caseiro de 7 kW, são necessárias pouco menos de seis horas para uma carga completa. O tempo cai para cerca de 50 minutos em carregadores rápidos de 50 kW. Parece pouco, mas o segredo está no tamanho das baterias: apenas 39,2 kWh. Como comparação, o Chevrolet Bolt EUV tem um pacote de 66 kWh.
Kit menor de baterias também significa duas coisas: menor peso, mas autonomia mais limitada. Começando pelo primeiro, o Kona tem exatos 1.610 kg — cerca de 140 kg mais pesado que um Jeep Renegade. Já o alcance, segundo o Inmetro, é de 252 km. Na vida real, motoristas mais comedidos conseguirão cerca de 100 km adicionais, considerando uso majoritariamente urbano.
O motor elétrico é dianteiro, assim como a tração. A potência é só um pouco mais do que a de um carro com motor 1.0 turbo ㅡ 136 cv. Mas os 40,3 kgfm de torque conferem a agilidade necessária para o Kona vencer os desafios do trânsito carregado das grandes cidades.
Há quatro modos de condução: Normal, Sport, Eco e Eco+. O último provavelmente será usado de forma emergencial, quando as baterias estiverem acabando. Com ele, o desempenho é limitado e funções como o ar-condicionado são desativadas. Nos demais, há alterações nas respostas do acelerador e na direção.
Outra mudança é no layout do quadro de instrumentos digital. No Sport, o fundo cinza simula fibra de carbono e os arcos dos marcadores são pintados de vermelho. Mais comportado, o mapa Normal tem fundo branco e caracteres escuros. No Eco, as cores se invertem. Se o motorista preferir, pode escolher um deles, independente do modo escolhido.
Em todos os modos, o Kona mostra mais refinamento que o “primo” brasileiro Creta. Ao volante, o pequeno SUV se mostra bastante acertado em termos de suspensão e direção. Filtra bem as irregularidades e não entrega batidas secas ao passar em buracos. As rodas de 17 polegadas têm o mesmo diâmetro das de um Renegade básico. Mas parecem menores no Hyundai. Os pneus 215/55 da Nexen não são específicos para carros elétricos, mas também não comprometem o isolamento acústico na cabine.
Mas o que mais me surpreendeu foi a excelente modulação dos pedais, o ponto mais sensível no ajuste dos carros elétricos, na minha modesta opinião. Não é raro encontrar modelos a bateria com freios borrachudos e aceleradores com respostas desproporcionais. O Kona é bastante linear na entrega de torque e nas respostas dos freios — esse último, algo que o próprio Creta precisa melhorar.
E olha que o motorista pode até esquecer o pedal da esquerda na maior parte das situações cotidianas. Apesar de não ser um carro elétrico de última geração, o Kona possui ajuste automático da regeneração em frenagens e desacelerações. O SUV usa informações dos radares e da câmera no para-brisa para medir a distância do veículo à frente e assim aumentar ou diminuir a recuperação de energia cinética. Se preferir, o condutor ainda pode selecionar manualmente três intensidades para a função ou mesmo desativá-la.
Os ajustes são feitos por meio de aletas atrás do volante, exatamente onde ficam as teclas de mudança de marcha em carros a combustão com câmbio automático. Falando em volante, a peça é exatamente a mesma do HB20 produzido em Piracicaba (SP). E essa não é a única similaridade com um Hyundai nacional.
A central multimídia com tela de 10,25 polegadas é idêntica a do Creta, bem como as alavancas de seta e comandos dos limpadores. Mas a qualidade do acabamento é melhor, ainda que o visual não seja dos mais modernos. Em relação à versão híbrida, o console central é elevado, monocromático em cinza e dispensa a alavanca de câmbio convencional. No lugar, as teclas para selecionar a marcha.
Nesse mesmo nicho, botões para aquecimento e ventilação dos bancos, seletor dos modos de condução e acionamento das câmeras. E já que estamos falando em itens de série, vale ressaltar que o Kona é muito bem equipado.
Além dos recursos já citados, há ar-condicionado digital, banco do motorista com ajustes elétricos, alerta de saída de faixa com correção do volante, controlador de velocidade adaptativo, frenagem automática de emergência, carregador de celular por indução, retrovisores aquecidos e com rebatimento, head-up display, faróis de LED com acendimento automático, sensor de chuva e quadro de instrumentos digital.
Sim, é verdade que o Kona chegou anos atrasado ao Brasil. A incerteza sobre o futuro do SUV e o acirrado mercado de elétricos podem acabar espantando possíveis compradores. Nessa mesma faixa de preços, o cliente pode escolher projetos mais modernos, como o Peugeot e-2008 ou o BYD Dolphin.
Mas isso não significa que o Kona seja uma opção ruim. A não ser que você realmente faça questão do que há de mais novo no mercado, o SUV da Hyundai conquista por ser um carro elétrico econômico, bem equipado e bom de dirigir. Porém, se a síndrome do early adopter já te pegou, melhor esperar a nova geração ser lançada daqui alguns anos.
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Fonte: direitonews