Herança ianque: Iraque foi ‘um dos países mais prósperos do Sul Global’ até ser arruinado pelos EUA


Em entrevista ao Mundioka, podcast da Sputnik Brasil, Amanda Marini, doutoranda em ciências militares, pesquisadora do Núcleo de Avaliação da Conjuntura (NAC) e autora do livro “Quando a guerra não tem fim”, descreve que o Iraque — objeto de análise do livro dela — foi “um dos países mais prósperos do Sul Global”.
O país do Oriente Médio, remonta a analista, tinha relações comerciais sólidas com o Brasil antes de ser invadido pelos EUA.

“O Iraque era um dos nossos principais parceiros. Os nossos carros iam para o Iraque, a gente tinha engenheiros que saíam daqui e iam para o Iraque… A gente tinha uma relação muito boa”, recorda.

Mundioka #628 - Sputnik Brasil, 1920, 29.05.2025

Entretanto, tudo desmoronou após 2003, e os anos dourados dessas relações não voltaram.
Apesar de ser um Estado complexo em sua origem — o Iraque como se conhece hoje nasce do Acordo Sykes-Picot, quando, após a Primeira Guerra Mundial, a Inglaterra fundou o território por meio de fronteiras artificiais —, o país, dono de uma população multicultural, após muitas instabilidades, gozou de um período de desenvolvimento durante as décadas de 1970 e 1980.
Nesse contexto, a nação era liderada por Saddam Hussein, que primeiro viria a ter relações pontuais com os EUA, mas depois seria caçado pelos norte-americanos, o que deixaria um vácuo de poder.

“[Saddam era] O bastião que segurava a questão de defesa do Estado iraquiano. Com esse vácuo de poder, o tecido social vai ruir. Os Estados Unidos vão promover a ‘desbaathização’, eles vão marginalizar tudo o que estava em voga no Estado, no governo, na institucionalização e na burocracia iraquianas. Com a falta dessa mão que vai deter esse monopólio legítimo da força, o tecido social rui”, explica a especialista.

Marini ressalta que não se trata da defesa do ex-líder iraquiano, mas de entender os impactos gerados pela forma como os EUA agiram na região. Segundo ela, Washington teria ido a Bagdá inclusive sem conhecer o que enfrentaria.

“Analistas de defesa que trabalhavam para o Departamento de Estado dos EUA falam: tudo aquilo que a gente planejou para ocorrer não aconteceu de fato por essa falta de clareza do oponente”, ressalta.

Bandeira dos EUA serve de pano de fundo para a decoração de entrada de uma residência na manhã seguinte a um tornado mortal em Valley View, Texas. EUA, 26 de maio de 2024 - Sputnik Brasil, 1920, 30.10.2024

O legado norte-americano no Iraque foi de desordem econômica e psicológica em um país arruinado.
Do ponto de vista econômico, um país sancionado há mais de uma década começa a sofrer com a fuga da população, o que freia a possibilidade de crescimento do país. Isso reverbera também do ponto de vista psicológico, uma vez que, “por causa das sanções econômicas, não estavam chegando alimentos básicos, vacinas. Para ter uma ideia, eu estava vendo relatos sobre sanções tão pesadas, que não entrava tratamento odontológico. Vamos supor, se você queria tirar um siso, não tinha anestesia, por causa dessas sanções que os Estados Unidos estavam colocando há tantos anos no Iraque“, explicou.
Após essa ocupação ilegal pelo direito internacional, sem aval do Conselho de Segurança das Nações Unidas (CSNU), conforme a pesquisadora, o Iraque tem um governo que não consegue controlar todo o território.
Atualmente, segundo Marini, o Iraque lida com muitos conflitos étnicos — que remontam à fundação do país —, além de abrigar diferentes grupos armados. “Até hoje a gente tem centros de refúgio das populações do próprio Iraque, pessoas que perderam suas casas e não conseguiram nunca mais retomar […]. A gente está vendo um barril de pólvora. Ou a população civil senta para conversar e repensar os rumos do país ou a tensão de instabilidade vai ser cada vez mais reinante e vai ficar cada vez mais essa concepção, que a gente já tem hoje, de Estado falido“, arremata.
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Fonte: sputniknewsbrasil

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