Helicópteros em queda: está mais perigoso voar no Brasil? (VÍDEO)


Especialistas consultados pela Sputnik Brasil ressaltam que o fator determinante para tais ocorrências é a ação humana.
Se por um lado a aviação comercial desperta confiança e segurança dos passageiros, aeronaves de pequeno porte geram preocupações.
Ainda assim o piloto, especialista em aviação e proprietário do canal de YouTube Aero – Por Trás da Aviação, Fernando De Borthole, ressalta que não há aumento significativo de acidentes nos últimos anos. “A diferença reside na frota de aviões de pequeno porte, que é muito maior do que a frota de aviação regular.”
Ele destaca as operações diferenciadas entre a aviação regular e a geral. Enquanto a aviação regular é altamente fiscalizada, seguindo manuais e roteiros específicos, a aviação geral oferece mais flexibilidade, com pilotos tomando decisões próprias durante o voo.

“A aviação geral inclui a aviação executiva, táxi aéreo, entre outros. As decisões são tomadas de maneira diferente, mas, principalmente, o número de aeronaves particulares é muito maior, operando em locais diversos, inclusive em locais não preparados para operações aéreas.”

Quando questionado sobre a relação entre o aumento do táxi aéreo e os acidentes, De Borthole opina que o crescimento da frota não implica necessariamente em mais acidentes.
Ele destaca os avanços tecnológicos, os treinamentos constantes e as melhorias na segurança das aeronaves como fatores que contribuem para a diminuição dos acidentes. “A tendência é que o número de acidentes diminua ao longo do tempo, mesmo com o crescimento da frota. A segurança é uma prioridade constante na aviação.”
Ao abordar como evitar acidentes, De Borthole ressalta que a fiscalização das aeronaves já é rigorosa, mas a ênfase deve ser dada à operação e às decisões dos pilotos. Ele destaca a importância de os pilotos pensarem na própria segurança, para além da fiscalização, e considerarem fatores como condições meteorológicas e adequação da aeronave.
“A responsabilidade de decidir decolar ou não é do piloto. A fiscalização é constante, mas a cultura de segurança dos pilotos é crucial.”

Onde caiu o helicóptero da PRF?

Um helicóptero da Polícia Rodoviária Federal (PRF) caiu na última segunda-feira (8) no município de Belo Horizonte, nas proximidades do bairro Vista Alegre. A aeronave transportava uma vítima de outro acidente, de carro. Mesmo com a colisão, ninguém se feriu.
Esse foi o segundo caso em sete dias envolvendo aeronaves em Minas Gerais. Na semana anterior, outro modelo caiu no lago de Furnas, em Capitólio, e matou uma pessoa. Trata-se da aeronave EC 120B, prefixo PP-MMA, que caiu no município da região sul de Minas Gerais.
Fora o território mineiro, outras aeronaves caíram nesse mesmo período: uma no litoral paulista, em 31 de dezembro de 2023, e um helicóptero agrícola no interior do Maranhão, no dia 2.
Ao abordar o recente desaparecimento da aeronave que saiu do aeroporto Campo de Marte (SP) na véspera do Ano-Novo, De Borthole destacou a falta de respostas imediatas. Ele diz que as operações aéreas são seguras e que os pilotos estão comprometidos com a segurança.
“É importante entender que, mesmo com tecnologias avançadas, imprevistos podem ocorrer. A investigação é minuciosa, e devemos aguardar os resultados para tirar conclusões.”
Em nota, a Associação Brasileira de Pilotos de Helicóptero (Abraphe) expressou pesar e solidariedade às vítimas socorridas e familiares dos passageiros que morreram. Também informou à Sputnik Brasil que acompanha os incidentes ocorridos e que há tendência de queda nos números de acidentes nos últimos cinco anos.
Em relação à aeronave que caiu no litoral norte de São Paulo, um helicóptero Robinson 44 (R-44), prefixo PR-HDB, o foco é localizar o veículo e a tripulação.
Por fim, em Santa Luzia, no Maranhão, o acidente com o helicóptero agrícola também aguarda esclarecimentos. “A entidade recebe com pesar a ocorrência, ressaltando que a investigação conduzida pelo Cenipa [Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos, vinculado à Força Aérea Brasileira, FAB] determinará a causa do acidente.”

“A Abraphe assume o compromisso de acompanhar os relatórios de segurança, compartilhando os resultados com os mais de 2 mil pilotos de helicópteros no país. Além disso, a associação destaca os requisitos e responsabilidades dos pilotos, incluindo a constante atualização da licença e o cumprimento de padrões de segurança”, disse a associação, em nota.

A reportagem tentou contato com o Cenipa, que ressaltou ter o objetivo de “investigar as ocorrências aeronáuticas, de modo a prevenir que novos acidentes com características semelhantes ocorram”.

Quantos helicópteros caem por ano no Brasil?

Segundo o Cenipa, foram 15 acidentes de helicóptero em 2023, com dez mortes. O número é menor do que os 20 acidentes de 2022, que também somaram dez mortes. Nos últimos dez anos foram 167 ocorrências, com 136 óbitos.
Entre os incidentes com tais aeronaves, a principal causa está relacionada à perda de controle em voo, que responde por mais de 30% das ocorrências. Nas demais, o fator predominante são as falhas no motor.
São Paulo lidera o ranking das ocorrências, concentrando cerca de 20% dos acidentes aéreos no Brasil — são 343, dos quais 43 com helicópteros.
Na sequência estão Mato Grosso (186), Rio Grande do Sul (166) e Minas Gerais (147).
Os dados mostraram que 15% dos acidentes de helicóptero ocorrem no táxi aéreo e 44% em operações privadas.
O Rio de Janeiro registra o maior número de acidentes aéreos entre municípios, com 24 casos, seguido por São Paulo (20) e Belo Horizonte (12).
Para De Borthole, tais estatísticas não se devem à fragilidade do helicóptero, mas sim à complexidade de sua operação. “O helicóptero é mais complexo de pilotar, mas não é mais frágil.”

“Ele possui vantagens em termos de segurança, como a capacidade de pousar em espaços reduzidos. Entretanto as estatísticas não indicam que seja uma aeronave mais perigosa; há mais operações e, naturalmente, mais ocorrências.”

Qual foi o maior acidente aéreo brasileiro?

Um voo realizado em 17 de julho de 2007, em São Paulo, deixou 199 mortos. Com 187 pessoas a bordo, a aeronave não conseguiu pousar na pista do aeroporto de Congonhas, atravessou a avenida Washington Luís e bateu no prédio da TAM Express, atingindo outras 12 pessoas.

É arriscado andar de avião?

Estatisticamente, viagens aéreas são mais seguras do que trajetos feitos por veículos terrestres, como carros ou ônibus.
Com mais de 25 anos de experiência na aviação, o professor da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas) Kerley Oliveira ressalta que com o aumento da frota é natural esperar um crescimento no número de ocorrências, e que a prevenção é a chave para reverter essa tendência. “Os meios de transporte aéreo são seguros, mas a prevenção é fundamental.”
Segundo ele, vários fatores geram acidentes, incluindo condições meteorológicas, e é preciso aguardar as investigações para definir o que aconteceu nos últimos incidentes. “Se a gente entender que os procedimentos de prevenção não vão mudar de forma radical, a tendência natural é o número de ocorrências acompanhar essa curva de aumento do número de aeronaves.”

“O ideal seria que isso não acontecesse, mas para isso a gente tem que trabalhar muito firme, diretamente, com a prevenção. A prevenção é muito importante em todos os aspectos […]. É impossível a ANAC [Agência Nacional de Aviação Civil] estar em todos os aeroportos, em todas as aeronaves que estão circulando ali. Mas a gente precisa trazer a responsabilidade para os operadores aéreos e profissionais da aviação.”

Ele ressalta que a legislação para táxi aéreo é diferente da legislação para aviação comercial, refletindo na estatística de ocorrências. “A legislação internacional e nacional é robusta, mas a questão é o cumprimento dessas normas. A segurança existe, mas podemos torná-la ainda mais eficaz, com uma abordagem focada na prevenção e educação.”

Fonte: sputniknewsbrasil

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