GWM Haval H6 x Toyota Corolla Cross: novato chinês desafia o SUV híbrido mais vendido do Brasil


Toyota não quebra” e “não confio em carro chinês” são frases ainda populares no meio automotivo. A confiabilidade construída ao longo de décadas pela Toyota e os problemas de qualidade dos primeiros importados da China certamente ajudam na atribuição dessas imagens.

Corta para o Brasil do final de 2023. Um desafiante indigesto surgiu no caminho do Corolla Cross e já começa a fazer sombra no retrovisor do SUV japonês. É o GWM Haval H6, lançado em março com um conjunto mecânico competente e preços para lá de competitivos. Ora, esse não é um belo convite para colocar escolas tão distintas frente a frente em um comparativo?

Vamos aos fatos. O GWM Haval H6 Premium HEV (esse é o nome oficial) custa R$ 214 mil, portanto é mais caro do que o Toyota Corolla XRX Hybrid, que parte de R$ 210.990 e pode alcançar R$ 213.320 conforme a cor escolhida. Convenhamos, para quem paga mais de R$ 200 mil por um automóvel, a diferença é nula.

Principalmente porque o Haval entrega mais que seu concorrente — começando pela considerável diferença de porte: com 4,46 metros de comprimento, o Corolla Cross é um típico SUV médio. Tem praticamente o mesmo tamanho de Jeep Compass e VW Taos.

Já os 4,68 m do H6 fazem dele não apenas 22 cm mais comprido que o rival como também maior que o RAV4. Ou seja, está mais próximo de um utilitário esportivo grande. Isso se reflete no espaço interno. O entre-eixos de 2,74 m supera o do Corolla Cross (2,64 m) e ainda os 2,71 m do Caoa Chery Tiggo 8, que tem sete lugares. A diferença é que o GWM só leva cinco pessoas. No porta-malas, adivinhem? Nova vantagem para o SUV chinês. São bons 530 litros, exatos 90 litros mais que o concorrente.

Agora convido você a abrir as portas e embarcar nos SUVs. Um ponto em comum é que nenhum tem alavanca de freio de mão. Mas calma! No H6, o sistema eletrônico é controlado por um dos poucos botões da cabine.

E no Corolla? Bom, a Toyota achou que o Brasil não merecia algo do tipo e, ao contrário do modelo vendido nos Estados Unidos, adotou o ultrapassado freio por pedal posicionado do lado esquerdo do assoalho, rente à caixa de roda. Essa não é a única piora técnica do Corolla Cross brasileiro em relação ao norte-americano. Mas falaremos disso mais adiante.

De forma geral, o interior dos dois modelos reflete um pouco da proposta de cada um. O Haval H6 tem visual moderno e minimalista, com a menor quantidade possível de botões. Essa característica acaba incomodando em razão de algumas falhas de ergonomia.

A porta USB fica em posição pouco prática e o quadro de instrumentos digital tem um único layout. Mas há recursos interessantes, como a possibilidade de ver a quantos centímetros o carro está de um obstáculo na hora das manobras e um sistema que não apenas memoriza os últimos metros percorridos pelo veículo como pode fazer o percurso reverso de forma autônoma.

a cabine do Corolla Cross é o retrato da Toyota. Visual mais conservador, botões físicos para uma série de funções e ótima ergonomia. Tudo está onde deveria estar. A central multimídia é de 10 polegadas, medida acima da média para o segmento. Contudo, o funcionamento ainda fica aquém da concorrência.

E olha que houve um gigantesco salto em relação à versão anterior. O quadro de instrumentos também tem uma tela, só que a superfície de 7 polegadas não contempla todas as informações. Marcadores de combustível, temperatura do motor e o status do sistema híbrido são exibidos de forma analógica nas laterais.

No Haval, a conectividade é um dos pontos fortes. O quadro de instrumentos é totalmente digital e tem 10,25 polegadas. Ainda maior é a central multimídia, de 12,3 polegadas. A possibilidade de atualização remota do software (over the air) e as conexões Android Auto e Apple CarPlay sem fio do H6 fazem o Corolla Cross parecer um carro de uma década atrás.

A GWM ainda tratou de eliminar quase todos os botões físicos em nome de um visual mais contemporâneo. Mas há um porém, nesse caso. Se o celular está conectado via Android Auto ou Apple CarPlay, é preciso dar ao menos três comandos para ajustar a ventilação, já que não há teclas físicas para a temperatura ou intensidade do ventilador do ar-condicionado. Olha o conservadorismo da Toyota ajudando o motorista.

A dupla de SUVs híbridos é bem equipada. Os dois têm sensor de chuva, faróis de LED com acionamento automático, acesso por chave presencial, partida por botão, teto solar, bancos de couro com ajustes elétricos para o motorista, controlador de velocidade adaptativo, alerta de saída de faixa com correção no volante, frenagem automática de emergência, câmera de ré, sensores de estacionamento e ar-condicionado de duas zonas com saídas para o banco traseiro.

Mas o Haval vai além: é o único a oferecer porta-malas com abertura automática, wi-fi nativo, head-up display e carregador de celular por indução. A única vantagem do Corolla Cross é o airbag de joelho para o motorista. Assim, a vitória incontestável nesse quesito é do SUV chinês.

O conjunto mecânico mostra outro abismo entre os dois híbridos, ainda que cada fabricante divulgue os números de uma forma. Vamos a eles. Aliando um motor 1.5 turbo com injeção direta a um elétrico, o Haval H6 entrega 243 cv e 54 kgfm. A marca chinesa não revela a potência apenas do propulsor a gasolina nem o torque de cada motor.

De todo modo, o H6 HEV tem quase o dobro da potência do rival. O Corolla Cross aposta no conjunto mecânico usado há mais de uma década em outros modelos da fabricante. Tem um motor elétrico de 72 cv e 16,6 kgfm e um 1.8 aspirado de 101 cv e 14,5 kgfm de ciclo Atkinson (que prioriza eficiência em vez de potência, aumentando o tempo de abertura das válvulas). A potência combinada é de 122 cv, mas a Toyota não informa a combinação do torque. A grande sacada é que esse propulsor pode ser abastecido também com etanol, o que reduz ainda mais as emissões.

Apesar de ter sido a primeira fabricante a ter um sistema híbrido flex, a Toyota — mais uma vez — deixou o Corolla Cross brasileiro inferior às versões estrangeiras. No Japão, esse conjunto já entrega 140 cv. Nos EUA, as configurações eletrificadas do SUV usam um motor 2.0. Nesse caso, a potência combinada é de 199 cv.

Para surpresa de ninguém, o Corolla Cross foi mais lento em nossa pista de testes. Exatos 3,3 segundos separam os dois SUVs na aceleração de zero a 100 km/h, larga vantagem para o Haval H6. A vitória do SUV chinês se repetiu em todas as provas de aceleração, retomada e frenagem. O Toyota só levou a melhor no consumo. Faz 17,8 km/l na cidade, contra 13,8 km/l do rival.

Ao volante, o Corolla Cross se mostra mais adequado tanto ao gosto do brasileiro como às nossas ruas esburacadas. Apesar de ter suspensão traseira inferior tecnicamente, o Toyota transmite maior sensação de conforto do que o H6. Rodar com o SUV feito em Sorocaba (SP) significa não ter incômodos auditivos ou dores de cabeça com eventuais pancadas secas dos amortecedores.

O acerto do Haval é mais firme, o que proporciona uma tocada mais esportiva, ainda que essa não seja a prioridade de quem compra um híbrido. A vantagem é que, nas curvas, sente-se a carroceria rolando menos no modelo importado. Nos dois casos, a direção é leve e direta, talvez com um pouco mais de precisão no Corolla Cross. O empate fica de bom tamanho.

A única grande vantagem do Corolla Cross está no pós-venda. As três primeiras revisões da Toyota são mais baratas. Mas vale um adendo: as manutenções do Haval devem ser feitas a cada 12 meses ou 12 mil km.

Portanto, se você roda muito, a situação se inverte e o GWM passa a ser mais vantajoso. Só que na cesta de peças não teve jeito. O Corolla Cross ganha de lavada. Nosso kit padrão é 46% mais caro na rede GWM. Só um farol do Haval custa R$ 8.330, mais do que o dobro dos R$ 3.767 cobrados pela Toyota.

Quanto à desvalorização, por sua vez, o Haval se sai melhor. Partindo de abril, a Mobiauto calculou que o H6 passou a valer 1,5% mais do que na época do lançamento. No mesmo período, o Corolla Cross perdeu 9,8% do valor.

Considerando o porte e os equipamentos extras, não só desaparece a percepção de que o H6 é mais caro como fica evidente a sensação de que o Corolla Cross cobra demais pelo que entrega. Também é preciso lembrar que o Toyota é um veículo nacional e que o Haval precisa atravessar o planeta para chegar ao Brasil, ou seja, tem custos logísticos bem mais elevados — o que nos deixa a impressão de que a GWM não está necessariamente lucrando nesse início de operação.

Deixando as finanças de lado, o que importa é que o consumidor pode ter acesso a um veículo moderno e tecnológico pelo mesmo preço de similares. E por mais que o Corolla Cross carregue a aura da Toyota, a imagem dos chineses mudou a ponto de milhares de pessoas comprarem o Haval sem nem sequer terem visto o carro. A GWM ainda terá de construir sua jornada no Brasil, mas o início é promissor, pelo menos do ponto de vista dos produtos. Por isso, a vitória do H6 nesse duelo é incontestável.

*Cesta de peças: Retrovisor direito, farol direito, para-choque dianteiro, lanterna traseira direita, filtro de ar (elemento), filtro de ar do motor, jogo de quatro amortecedores, pastilhas de freio dianteiras, filtro de óleo do motor e filtro de combustível.

**Seguro: O valor é uma média entre as cotações das principais seguradoras do país com base no perfil padrão de Autoesporte, sem bônus. O levantamento foi feito pela Minuto Seguros. *** A desvalorização foi calculada pela Mobiauto.

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Fonte: direitonews

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