Há intelectuais que já enxergam o declínio do império norte-americano com base na experiência de seu antecessor hegemônico: o Reino Unido do período entre guerras, polvilhado por conflitos bélicos, pandemia (da gripe espanhola) e crises econômicas na primeira metade do século 20 — tal como, hoje, se desenha no horizonte dos EUA.
O que os avanços dos EUA sobre aliados chineses indicam?
“Os Estados Unidos sabem que a China é o principal polo de poder desafiante, que é um país que está erodindo as bases da hegemonia americana e, portanto, os Estados Unidos traçam uma estratégia para tentar interditar, dificultar e criar graves problemas ao desenvolvimento e à ascensão geopolítica da China”, apontou.
É possível isolar a China na região?
“Qual o problema? O problema é que a China é muito diferente da União Soviética em vários aspectos. Por isso, a Nova Guerra Fria corre o risco de naufragar. Algumas diferenças substantivas. Primeiro é que a União Soviética só conseguia ombrear e rivalizar com os Estados Unidos no campo estratégico-militar, em algumas tecnologias estratégicas, por exemplo, a missilística e a aeroespacial. Já a China não. A China não só rivaliza como está à frente num conjunto muito significativo de tecnologias: energia solar, motores elétricos, baterias, supercomputadores, produção de eletroeletrônicos. Há um conjunto muito grande de tecnologias que a China está à frente.”
“O Produto Interno Bruto [PIB] chinês já é superior em poder de qualidade de compra, deve ultrapassar em dólar e a projeção para as próximas décadas é que venha a ser o dobro do PIB estadunidense. Então isso tem um impacto geopolítico extremamente grande. Os aliados americanos da Guerra Fria praticamente não tinham relações com a União Soviética, sobretudo os principais. Hoje, os principais aliados americanos, inclusive na Ásia, inclusive no Indo-Pacífico (Japão, Coreia do Sul, Índia, Austrália, entre outros), têm nas relações com a China o seu principal mercado”, elencou.
A presença como um problema
“O que os americanos têm a oferecer, por exemplo, àqueles países como Camboja e o Laos, que hoje recebem grandes investimentos chineses em infraestruturas? O que os americanos podem entregar para Filipinas e Indonésia?”, questionou. “Eu não vejo nada. A não ser o discurso de instituições, democracia, como foi na Cúpula das Américas, em que os países latino-americanos ficaram ansiosos com um possível discurso do Biden oferecendo um grande pacote de investimentos em infraestruturas na região e o que veio foi discurso de democracia e instituições. Enfim, os americanos não tem nada a oferecer ao mundo faz tempo, não é? Cá entre nós”, concluiu.
Fonte: sputniknewsbrasil