Grãos: Mercados centram foco nas condições de clima ao redor do globo para entender tamanho da oferta


Logotipo Notícias Agrícolas

As condições climáticas no Hemisfério Norte estão no centro dos mercados globais de grãos. Há preocupações em diversas regiões produtoras que estão com suas safras de verão em pleno desenvolvimento, gerando dúvidas sobre o tamanho das ofertas que entregarão ao cenário mundial e de que forma elas se equilibrarão com a demanda em andamento. Para os próximos dias, os alertas estão acesos sobre o calor intenso que pode chegar aos Estados Unidos, em especial na costa leste do país, segundo meteorologistas. Nos últimos dias, algumas localidades já registraram temperaturas acima dos 35ºC e subindo. 

Partes da Ásia e da África também tem sofrido, inclusive já registrando perdas de produção para algumas culturas, como é o caso do arroz e do milho na China, por exemplo. Segundo as informações do Commodity Weather Group (CWG), há cerca de um quarto das áreas de planícies da nação asiática que já registra problemas de stress hídrico para a polinização do milho com temperaturas acima dos 37ºC. 

Estudos apontam que 2024 deverá se encerrar como um dos cinco anos mais quentes da história. E informações como estas garantem que a volatilidade intensa seja constante entres os mercados futuros, em especial, os agrícolas. Somente neste ano, os futuros do café conilon negociados na Bolsa de Londres testaram máximas atrás de máximas diante de uma seca que assolou o Vietnã, maior produtor mundial, colocando em xeque a safra e a competitividade do país. O movimento refletiu em cheio no mercado do arábica negociado na Bolsa de Nova York. 

O mercado do arroz foi mais um produto que vem registrando uma trajetória de alta intensa nos preços, marcado, principalmente, pela desequilibrada relação entre a oferta e demanda em todo mundo. Os valores de um dos grãos mais consumidos do planeta estão altos para qualquer lugar que se olhe. Em abril, a China – maior produtora e consumidora mundial de arroz – foi acometida por chuvas muito intensas, que alcançaram lavouras do cereal que promoveram perdas importantes. Os desdobramentos chegaram aos mercados da Índia – segundo maior produtor global – e da Tailândia, onde – à época – as cotações testaram suas máximas em 15 anos. 

Lavouras de arroz na China
Lavouras de arroz na China – Foto: Qilai Shen/Bloomberg

Na Rússia, o país estava prestes a declarar estado de emergência em função dos prejuízos causados a mais de um milhão de hectares por geadas e pelo tempo muito seco, com o trigo sendo uma das culturas mais prejudicadas. As condições, todavia, melhoraram e os preços voltaram a ceder. No entanto, o CWG aponta, em seu reporte diário desta terça-feira (18), que um quarto das áreas que produzem trigo e milho no país deverão continuar ainda muito secas, com chuvas chegando apenas para o sul russo nos próximos dias. 

Em contrapartida, países da União Europeia deverão registrar condições melhores e carregam perspectivas de safras melhores, como a Romênia – que pode alcançar o recorde de 10,5 milhões de toneladas – e a Bulgária. Já na França, o excesso de chuvas preocupa os produtores rurais. Assim, o trigo da região do Mar Negro se mostra mais barato – e consequentemente, mais competitivo – em relação aos principais concorrentes, como mostra o gráfico abaixo, da agência internacional de notícias Bloomberg. 

Clima EUA (2)
Preços do trigo da França (linha preta), Rússia (vermelha) e países europeus do Mar Negro (azul)
Gráfico: Bloomberg

Na Bolsa de Chicago, os futuros do grão deram sequência às baixas intensas da sessão anterior e fecharam o pregaão perdendo entre 7,75 e 11 pontos nos contratos mais negociados, com o julho valendo US$ 5,80 e o dezembro, US$ 6,22 por bushel. Nesta segunda, “os futuros romperam o suporte técnico, estimulando um movimento de vendas. Os preços chegaram aos menores níveis em quase dois meses”, afirmam a Safras & Mercado. 

O mercado vem sendo pressionado pelo avanço da colheita da safra de inverno e o plantio do trigo de primavera nos Estados Unidos. As condições climáticas no país são, no momento, favoráveis aos trabalhos de campo para ambas as temporadas e também estão no radar dos agentes do mercado. 

Os preços da soja e do milho, por sua vez, encerraram o pregão desta terça-feira em campo positivo, porém, foram perdendo o ritmo do avanço durante o andamento dos negócios. Na soja, enquanto o julho subiu 14,75 pontos para voltar aos US$ 11,72 por bushel, o novembro – que é referência para a safra americana – teve apenas 1,75 ponto de alta, para US$ 11,32 por bushel. O movimento deixou bastante claro que as condições de clima melhores esperadas para o Corn Belt mantêm as cotações limitadas. 

“O mercado continua com fatores baixistas limitando os ganhos para a soja, incluindo a melhora do clima nos EUA e a fraca demanda nas vendas de exportação de soja”, explicaram os analistas da Agrinvest Commodities. 

Ainda de acordo com as informações do Commodity Weather Group, no final do mês, adversidades pontuais poderão ser registradas em algo como 10% a 15% da área de milho e soja nos Estados Unidos. Nas próximas duas semanas, as chuvas deverão ser mais intensas na região mais a noroeste do Meio-Oeste e, no período de 6 a 15 dias, as precipitações deverão se expandir. 

Clima EUA (3)
À esquerda, as previsões de chuvas para os EUA e à direita, as de temperatura
Mapas: Commodity Weather Group

“A queda de 2% nas condições de lavoura boas/excelentes da soja e do milho, divulgada ontem no Crop Progress, segue como atenção para os próximos relatórios da nova safra americana. Por exemplo, o estado de Illinois, perdeu 8% da soja em boas/excelentes condições e 9% do milho. As previsões continuam apontando altas temperaturas para os próximos dias, com máximas entre 30ºC e 34º C para o sul e leste do Corn Belt, influenciados por um ridge de alta pressão”, afirma o analista de mercado e diretor geral do Grupo Labhoro, Ginaldo Sousa.

Assim, o mercado segue acompanhando os modelos climáticos, as divergências que eles ainda poderão apresentar e garantir bastante volatilidade para os próximos meses. Nesta semana, os mercados entraram em seu período de maior especulação climática, com o plantio concluído no milho, praticamente finalizado na soja, e o desenvolvimento das culturas no foco central dos mercados. 

Clima EUA (1)
Mapas: Grupo Labhoro

Para o produtor brasileiro, as atenções, portanto, são redobradas, uma vez que essa especulação climática pode ser combustível importante para a movimentação das cotações, inclusive de alta, dando oportunidades importantes de comercialização. 

“O padrão climático norte americano é a principal informação no radar dos players, com o alerta em relação queda da qualidade das lavouras de soja e milho. Nesta terça-feira (18), o Serviço Nacional de Meteorologia dos EUA informou que, nesta semana, muitas cidades estão quebrando recordes de temperaturas, à medida que uma onda de calor se estende das regiões central e leste do país”, afirma Sousa.

Fonte: noticiasagricolas

Anteriores Governo publicará MP da “taxa das blusinhas” para não impactar medicamentos
Próxima "Máquinas para a paz", FederUnacoma na Cúpula agrícola do G7