Serena, que completará 41 anos no próximo mês, pretende deixar as quadras diante dos seus compatriotas no torneio onde levantou o troféu por seis vezes, o último deles em 2014. O anúncio foi feito no início do mês em artigo publicado na revista Vogue. Atual 608ª do mundo, ela já avisou que está longe da lista de favoritas. Mas disse se permitir sonhar com uma despedida perfeita, com o último título, aquele que a faria igualar o recorde de 24 troféus de Grand Slam, da australiana Margaret Court.
O primeiro desafio será contra Danka Kovinic, tenista de Montenegro que é a 80ª do mundo, já na segunda-feira, em Nova York. Serena poderá, portanto, encerrar sua vitoriosa carreira, de 73 títulos em simples e quase US$ 100 milhões em premiação, logo no primeiro dia de jogos do Grand Slam americano.
“Não há felicidade neste tópico para mim”, disse Serena, ao anunciar sua aposentadoria, no início de agosto. “Sei que não é uma coisa comum de se dizer, mas eu sinto muita dor. É a coisa mais difícil que eu poderia imaginar. Eu odeio isso. Eu odeio ter que estar nesta encruzilhada. Continuo dizendo a mim mesmo: gostaria que fosse fácil para mim, mas não é.”
O caminho poderá ser seguido por Nadal nos próximos meses. Apesar de entrar no US Open como um dos favoritos ao título e ter chances de terminar o torneio na liderança do ranking, o espanhol tem reiterado nesta temporada que está perto do fim. Ele foi campeão do Aberto da Austrália e de Roland Garros e abandonou Wimbledon antes das semifinais devido a uma lesão no abdômen. “A possibilidade de me aposentar ainda está em minha mente”, afirmou o recordista de títulos de Grand Slam, com 22 troféus, em Londres.
Aos 36 anos, Nadal é mais jovem que Serena e Federer, de 41. Mas foi quem mais sofreu com os problemas físicos ao longo da carreira. “Certeza que o Nadal pensa em aposentadoria a cada lesão porque ele sabe que pode ser sempre a última lesão de sua carreira. Recuperar-se de lesão com 22 anos é muito mais simples do que com 35”, atesta Bruno Soares ao Estadão.
O duplista brasileiro, de 40 anos, também está perto da aposentadoria. O mineiro evita prever datas ou despedidas, mas entende como poucos a situação vivida pelos medalhões. “Eles têm uma tranquilidade de dever cumprido, para eles mesmo, pelo que alcançaram. Eles sabem que jogaram o máximo, foram até o fim”, afirma o tenista, que estará no US Open também.
Soares explica por que é tão difícil para os medalhões abandonar o tênis. “Eles são super consagrados e têm dinheiro para sustentar várias gerações. Nesta situação, você elimina vários fatores de dificuldades que todo tenista enfrenta ao longo da carreira. E o que sobra é a parte mais legal do processo, que é a paixão pelo esporte. Por que Federer segue tentando voltar? Porque ele é apaixonado por isso aí.”
O suíço está fora do US Open mais uma vez. Ele não joga desde Wimbledon do ano passado. Após seguidas cirurgias no joelho direito, o suíço voltará ao circuito na Laver Cup em setembro como um teste para a próxima temporada, em clima de despedida. Se não conseguir jogar em alto nível, ele avisou que não estenderá a carreira. “Adoro vencer, mas, se você não é mais competitivo, é melhor parar”, declarou o ex-número 1 do mundo em julho.
“Acho que temos que ir nos acostumando com essa ideia de não ver mais Nadal e Federer em quadra. Está muito próximo. E eles vão deixar uma saudade gigantesca, por tudo o que representaram para o esporte nos últimos 20 anos. São dois ETs. O que Federer e Nadal fizeram é incrível”, comenta Soares.
O especialista em duplas prevê que o mundo do tênis deve preencher logo as lacunas deixadas pela dupla e por Serena. “Acho que vamos lembrar deles com uma saudade absurda e entender que tudo tem o seu fim. O que a história mostra é que o tênis está acima de todo mundo. Tem novos jogadores, pessoas com outros estilos, bem interessantes também, como o Alcaraz, que é o cara que tem todo o potencial para preencher esse vazio que o Nadal deixará na Espanha e no mundo.”
DJOKOVIC SEM VACINA
Novak Djokovic é o medalhão que menos fala sobre aposentadoria e indica que vai seguir por mais alguns anos no circuito em busca dos recordes que hoje pertencem a Federer e a Nadal. Aos 35 anos, o sérvio sofre menos com lesões do que o espanhol, mas já enfrenta dificuldades diante dos rivais das gerações mais jovens.
A principal meta de Djokovic é ser dono do recorde de títulos de Grand Slam. Atualmente, essa marca pertence a Nadal, com 22 troféus. O sérvio tem 21 – Federer tem 20. E, pela segunda vez na temporada, vai perder a oportunidade de disputar um torneio deste nível, mais uma vez por não ter se vacinado contra a covid-19.
Djokovic chegou a criar a expectativa de que o governo americano flexibilizasse as regras para a entrada de estrangeiros sem vacina no país. Mas a liberação não veio. Atual vice-campeão do US Open, ele deve perder posições no ranking por não defender os pontos conquistados no ano passado. Atualmente é o 6º do mundo.
Sem Djokovic, os principais favoritos ao título são Nadal, o russo Daniil Medvedev, atual número 1 do mundo e campeão do US Open de 2021, o grego Stefanos Tsitsipas e o espanhol Carlos Alcaraz. No feminino, o favoritismo cerca a polonesa Iga Swiatek, líder do ranking. Beatriz Haddad Maia, cabeça de chave número 15, tenta sua primeira vitória na chave principal em Nova York e tem chances de seguir surpreende.