A enorme plataforma de gelo perde área de sua parte submersa à medida em que o planeta fica mais quente e, embora a velocidade de seu derretimento hoje seja menor que 2,1 km ao ano, identificar como ela se comportou no passado ajuda a prever como se comportará no futuro. A descoberta indica, portanto, que a Thwaites pode estar perto de passar novamente por uma mudança em ritmo acelerado.
Análises de relevo feitas pelos pesquisadores mostram o recuo rápido de uma cordilheira próxima da geleira, o que sugere que grandes mudanças podem começar a acontecer em questão de meses, caso a zona de aterramento (a parte submersa, pela qual ela se fixa no fundo do mar) comece a se desprender. A perda de gelo na Geleira Thwaites é, segundo o estudo, “uma grande incerteza para futuras projeções do nível do mar”. Águas quentes têm fornecido calor para a atual cavidade da plataforma de gelo, derretendo-a por baixo e tornando-a suscetível a um recuo descontrolado.
Os cientistas chegaram a essas conclusões estudando uma faixa de gelo mais saliente, submersa a 670 metros. Ela revelou ser uma antiga porção da zona de aterramento, que se desprendeu. A taxa de recuo de 2,1 km a 2,3 km foi identificada nessa saliência, e se torna mais impactante quando comparada com a de outras geleiras. As do mar de Amundsen, por exemplo, mantêm uma taxa que não ultrapassa os 2 km por ano há três décadas.
Para coletar os dados sobre a saliência, os cientistas utilizaram um veículo subaquático autônomo, que registrou marcas no gelo causadas pelo avanço das marés. São justamente essas marcas, chamadas por eles de “costelas”, que permitem afirmar que recuos acelerados têm ocorrido nos últimos dois séculos na plataforma de gelo. Segundo o estudo, as marcas deixadas pela ação da água no manto de gelo submerso são um exemplo raro de ser encontrado.
“Com base na amplitude comum das costelas (aproximadamente 0,1 m a 0,4 m) e assumindo taxas diárias de recessão de 6 m a 8 m por dia, estimamos que a taxa diária de perda de gelo exceda 1.000 kg por dia por metro da zona de aterramento. Um fluxo de calor superior a 600W por metro quadrado é necessário para derreter essa quantidade de gelo”, diz a publicação.
Os cientistas pontuam que, a partir das marcas encontradas, é possível prever a evolução do manto de gelo de agora em diante por meio do processo desafiador de construir modelos que repliquem a sequência precisa dos movimentos da linha de aterramento ao longo da saliência, incluindo a ação das marés e a formação de planícies de gelo nas análises.
Compreender a história recente da Geleira Thwaites e os processos que interferem em seu ritmo de derretimento é, de acordo com a pesquisa, fundamental para projetar as contribuições da Antártida para a futura elevação do nível do mar. Esse processo têm o potencial de ameaçar comunidades e ecossistemas costeiros.