“São diferentes formas de luta e de resistência aos mecanismos de dominação colonial construída ao longo dos séculos, mas especificamente ao colonialismo moderno, relacionado a essa história de construção da Europa moderna, […] quando a gente pensa na formação do Estado-nação, do sistema capitalista, todos esses elementos estão vinculados a esse passado colonial da Europa e seus efeitos bastante perversos, principalmente na periferia do sistema internacional”, evidenciou Hoff.
“A gente teve, por exemplo, uma conferência, se não me engano, no ano passado, em Moscou, a conferência Rússia e África, em que a aliança e a diplomacia militar foram muito ressaltadas”, destacou Alvarenga ao citar a Cúpula Rússia-África, que aconteceu em São Petersburgo em julho de 2023.
“Esses países passaram a cooperar no que diz respeito à assistência mútua para o fornecimento de combustível, de eletricidade, desenvolvimento de infraestruturas de transporte, comércio regional, exploração de recursos naturais e, principalmente, uma grande demanda desses países, o desenvolvimento das suas agriculturas”, elencou ele, ao salientar que não adianta ser independente formalmente se ainda existe dependência pós-colonial.
Nova Caledônia e os recentes protestos
“Por um lado, você tem a França querendo manter determinado controle sobre essa ilha, que agora desponta com vasta reserva de níquel, ainda mais no mundo onde se fala muito sobre a produção de carros elétricos. E, do outro lado, você tem o povo da Caledônia, uma população nativa, que vem buscando a sua independência”, pontuou Alvarenga.
“Acho que a gente tem ali um caso muito clássico que mostra um pouco da complexidade de você manter um território colonizado, como é o caso da Nova Caledônia, mas também das lutas de independência, porque esses laços econômicos e as estratégias utilizadas pelos países para colonizar esses estados muitas vezes dificultam os processos de independência”, avaliou Hoff.
Descolonização e violência andam juntas?
“Então a gente vê essa ingerência muito grande da França nessas regiões, e, obviamente, isso vai facilitando a percepção tanto na população quanto no mesmo uso da insatisfação da população por outros grupos locais dessa ingerência externa”, disse Hoff.
“Você pode descolonizar por um processo um pouco mais pacífico, mas, em muitos casos, a força, a utilização da violência se aplica. Ela é, na verdade, a regra que a gente tem observado no mundo. Quando a gente fala também de independência, de soberania, a gente também está falando de controle de território, de deter o monopólio do uso da força, de defesa, de segurança da própria população civil, e isso passa pelo controle dos meios de coerção”, acrescentou Alvarenga.
“Você vai criando todo um sistema capaz de legitimar as violências que muitos povos sofrem e a posição que esses povos e que essas populações encontram dentro de um contexto [que] vai naturalizando essas violências”, afirmou Hoff.
“O que ocorre na região do Sahel, com a população de alguns países apoiando golpes de Estado, justamente a partir de um discurso anticolonial, seria uma reação a essa violência perpetrada pelo Ocidente durante séculos”, completou.
“Isso passa por uma construção de instituições, de aparatos políticos, mas também por instituições de defesa, como Exército e Marinha. Isso tem um custo, isso não é fácil. A Guiana Francesa é um território ultramarino francês. Para alcançar a sua independência, ela vai precisar desenvolver algumas capacidades materiais para fazer valer esse interesse.”

Fonte: sputniknewsbrasil