“Um verdadeiro cabo de guerra.” Foi isso que me veio à cabeça quando assumi o comparativo entre Fiat Pulse Drive 1.3 e Volkswagen Tera MPI, ambos integrantes do disputado segmento de SUVs compactos. Nas páginas a seguir, terei a missão de definir qual desses modelos com câmbio manual é a melhor opção na faixa de R$ 100 mil. Então vamos ao duelo!
O Tera é o novato da história, mas já levou o prêmio de melhor custo/benefício da categoria no Qual Comprar 2025. Desde a estreia, causou incômodo nos rivais, tanto que sua versão mais barata, a MPI, de R$ 105.890, tem até fila de espera nas lojas.
Do outro lado, vem a resposta estratégica da Fiat: trazer de volta a versão Drive 1.3 do Pulse para fisgar o comprador apostando no convidativo preço de R$ 99.990. Ou seja, a fabricante fez com que um carro 1.3 ficasse mais barato que um 1.0. Mas… calma, falaremos de desempenho mais à frente.
Apesar de o visual ser subjetivo, vale dizer que o Fiat Pulse recebeu um facelift na linha 2026, trocando elementos como para-choque e grade. Na versão mais barata, vem de série com faróis de LED e rodas de aço de 16 polegadas com calotas.
Para os mais observadores, o SUV aparece nas imagens com rodas de liga leve, mas elas fazem parte de um pacote opcional, que inclui câmera de ré e sensor de estacionamento traseiro por R$ 2.990, o que eleva o preço para R$ 102.980 — ainda sim, mais barato que o rival.
No embate, o que faz o Tera ter mais fôlego é justamente o frescor, já que estamos falando de um carro inédito no mercado. Como o rival, traz faróis de LED, mas as rodas são menores, de 15”. Nesse caso, as calotas escurecidas tentam, sem sucesso, disfarçar a simplicidade.
Em seguida vem o tópico porta-malas, que é sensível para a Fiat. Explico o porquê. No padrão VDA, que usa blocos para definir o volume, o Tera entrega 350 litros de capacidade. Mas a marca italiana divulga o bagageiro do Pulse apenas com volume em litros de água, e são 370 l. Porém, é aí que vem o “plot twist”. A Volkswagen teve a sacada de medir o porta-malas do Tera da mesma maneira. E adivinha? Ganhou do Pulse! Com água, vão 407 litros no SUV.
O Pulse perde também no espaço da segunda fileira. Com 4,10 metros de comprimento e 2,53 m de entre-eixos, basicamente o mesmo do Argo, o Fiat é mais apertado para as pernas. Com meus singelos 1,60 m de altura, me acomodo de forma confortável, mas pessoas mais altas vão ficar incomodadas. No entanto, oferece uma saída USB para quem vai no banco de trás.
Do outro lado da corda, o Tera herda o entre-eixos de 2,57 m do Polo e tem 4,15 m de comprimento. Na prática, a diferença é pouca, mas o espaço acaba sendo mais generoso, mesmo que a altura para a cabeça deixe a desejar. Porém, a falta de uma porta USB atrapalha na questão da comodidade.
A essa altura, é importante lembrar que ambos são carros de entrada, portanto têm acabamento simples, com plástico rígido. Contudo, não podemos esquecer que esses modelos partem de R$ 100 mil, então alguns itens são esperados por clientes mais exigentes.
Exemplo disso é uma boa central multimídia. O Volkswagen Tera oferece a VW Play de 10,1”, com conexões sem fio para Android Auto e Apple CarPlay. Eu gosto desse sistema, que é intuitivo e fácil de mexer. Se seu celular descarregar, há portas USB do tipo C ao lado da alavanca de câmbio. Fora isso, o painel de instrumentos é totalmente digital.
No Pulse, a central é menor (8,4”), mas ainda tem bom tamanho. E, como no rival, a conexão é feita sem necessidade de cabo. Como pontos positivos, a quantidade de portas USB é maior, três, assim como a variedade: são duas do tipo C, aquela de plugue menor, e uma do tipo A. Apesar de oferecer ar-condicionado digital (com comandos físicos), o peso do tempo fica no cluster analógico.
Se a comodidade é ponto positivo, é no acabamento que a dupla deixa a desejar. Então, detalhes fazem a diferença. Com soluções mais criativas que as do Polo, a Volkswagen aposta em materiais de texturas diferentes na cabine, mesmo com aparência discutível. Já a Fiat escorrega no Pulse com um visual simplório, além de peças desalinhadas — o que incomoda até em um carro de entrada.
Agora, é na lista de equipamentos que o Tera recupera força. O SUV compacto é completo para a categoria. De série, vem com seis airbags, ponto de destaque em relação ao Pulse, que tem apenas quatro. Há ainda sensor de estacionamento traseiro, volante com ajustes de altura e de profundidade, assistente de partida em rampa e recursos de segurança como detector de fadiga e frenagem automática de emergência.
No Pulse, relembrando, o sensor de estacionamento é opcional. E falta o ajuste de profundidade no volante. De série, além do ar-condicionado digital, já mencionado, tem controlador de velocidade e assistente de partida em rampa.
Motores ligados. Mesmo sendo inédito, o Tera traz um conjunto conhecido dos brasileiros: o 1.0 MPI aspirado de até 84 cv e 10,3 kgfm, aliado ao câmbio manual de cinco marchas. É o mesmo motor usado em Gol, Fox, Polo, Up… Com o 1.0 aspirado mais potente do Brasil, o Tera é um carro ágil.
Porém, no Rota 127 Campo de Provas, levou longos 15,3 segundos para ir de zero a 100 km/h. Mas devo dizer que esse está longe de ser o pior resultado. O Polo Track, por exemplo, fez o trajeto em 16 s, e o Citroën Basalt fez em quase 17 s.
Já o Fiat Pulse encontra forças (literalmente) no seu motor, maior e mais potente. Estamos falando do 1.3 Firefly, de 107 cv e 13,7 kgfm, também aliado a um câmbio manual de cinco marchas. Com esse conjunto, o SUV é 3 s mais rápido: 12,3 s no zero a 100 km/h.
Devo dizer que o câmbio manual é um diferencial neste teste. Afinal, no Tera, a caixa é um verdadeiro trunfo. O motivo? A Volkswagen sabe, como nenhuma outra marca, proporcionar engates precisos e curso curto. A sensação é de que o funcionamento perfeito compensa a lentidão, entregando uma direção mais confortável.
Ao contrário do rival, o Fiat Pulse tem no câmbio um calcanhar de aquiles. Apesar de ele ser um carro fácil de dirigir, os engates do câmbio não são tão precisos, dando a impressão de uma alavanca molenga. Em contraponto, algo interessante a falar do Pulse é que esse motor de duas válvulas por cilindro prioriza a entrega de torque em rotações mais baixas, mostrando sua vocação urbana e entregando boa performance, especialmente entre 1.500 rpm e 4.000 rpm. Por outro lado, a velocidade máxima é sacrificada.
Fato é que o Fiat é mais esperto na direção. Na estrada, sente menos que o Tera nas retomadas, destacando-se na prova de 60 km/h a 100 km/h com diferença de 2 s. É notável que o Volkswagen sofre mais para fazer ultrapassagens, sendo necessário trabalhar o câmbio para ganhar mais impulso.
O Tera traz um conjunto mais firme de suspensão, que proporciona estabilidade nas curvas e firmeza no volante. No Pulse, o conjunto é menos rígido e consegue transmitir mais conforto, ainda que com maior oscilação lateral da carroceria.
Já em relação ao consumo, em nossos testes, com gasolina e o ar-condicionado ligado, ambos fizeram 12,6 km/l no ciclo urbano. No rodoviário, o Fiat levou a melhor, alcançando 16,1 km/l, enquanto o Volkswagen marcou 14,7 km/l. Méritos para o Pulse, que, com um motor maior e, em tese, mais beberrão, conseguiu superar o rival.
Você, consumidor, já deve saber que não é só o valor de tabela que conta, mas também o custo de propriedade. O Pulse cobra R$ 3 mil a mais pela cesta de peças. Por outro lado, o Tera exige mais do bolso nas revisões, pois a Volkswagen cobra à parte itens de troca obrigatória para manter a garantia. Por fim, o SUV da Fiat tem seguro levemente mais caro.
Embora fique atrás quanto ao desempenho e ao preço, o Volkswagen Tera é mais gostoso de dirigir, além de ser mais equipado, seguro e espaçoso do que o rival. Vale dizer que a disputa foi acirrada, pois o Fiat Pulse cobra um pouco menos e tem motor 1.3, mais potente. Mas isso não foi suficiente para fazer com que o SUV veterano se destacasse. Ficou atrás do rival em outros aspectos.
Contra fatos não há argumentos. O motor 1.0 MPI do Volkswagen Tera o deixa para trás em desempenho. Porém, o SUV entrega boa dirigibilidade e ótimo espaço, além de um câmbio manual mais acertado. Fora isso, cobra pouco mais por uma lista de equipamentos completa e por itens de segurança que surpreendem para uma versão de entrada.
Quer ter acesso a conteúdos exclusivos da Autoesporte? É só clicar aqui para acessar a revista digital.
Fonte: direitonews