A Fiat Automóveis é a última das montadoras brasileiras a lançar um sistema eletrônico de injeção de combustível (SPI). Ao contrário de suas concorrentes, a S.P.I. é oferecida em modelos médios de sua linha de veículos, como o Fiat Prêmio, em vez de equipar apenas os carros mais caros (caso da Autolatina) ou mais modernos (caso da GM).
O novo sistema de injeção é totalmente digital, e o primeiro do tipo “elo fechado”, ou closed loop, apresentado em nosso país, isto é, avalia seus próprios gases de exaustão para saber como anda o trabalho de despoluição do resto do sistema, e manda ajustar a regulagem instantânea e constantemente.
Uma grande vantagem deste sistema Fiat-Marelli-Weber é o fato de que dispensa a utilização de catalisador (até 1997). O sistema chama-se SPI G6, do tipo tecnicamente conhecido como speed density (densidade de velocidade), que mede a quantidade de ar aspirado pelo motor e sua velocidade – por assim dizer, a massa de ar que está sendo instantaneamente admitida. A unidade de comando eletrônico recebe e processa todas as informações transmitidas pelos vários sensores e comanda conjuntamente os sistemas de injeção e ignição.
Como o E.F.I. da GM, a S.P.I. da Fiat utiliza-se de apenas um bico injetor, montado na mesma posição ocupada anteriormente pelo carburador convencional. O sistema de injeção com comando eletrônico, mesmo com injetor único para todos os cilindros, se auto ajusta de modo a adequar-se às variações instantâneas de temperatura, pressão, tendência à auto ignição, solicitações do motorista e diversos outros parâmetros.
Incorpora sensores de pressão absoluta, de posição da borboleta, do ar ambiente, de temperatura do líquido de arrefecimento do motor, de rotação do motor (que também informa à unidade de comando o momento em que cada pistão atinge seu ponto morto superior), além da bomba elétrica de combustível (que fica dentro do tanque).
O sensor lambda – uma espécie de fiscal do trabalho de todo o resto do sistema de injeção e também de ignição – fica instalado no tubo de escapamento, onde detecta a quantidade de oxigênio nos gases em relação ao ar ambiente, e avisa à central sobre quaisquer variações excessivas, corrigindo a relação ar/combustível.
Esse sistema digital também controla a ignição, determinando o momento exato e o tempo de centelhamento das velas de acordo com um mapa contido na memória da central. Assim, o ponto de ignição estará sempre certo, mesmo após milhares de quilômetros de uso e desgaste.
Os Fiat equipados com a S.P.I. são também os primeiros carros brasileiros, desde os DKW, a dispensar o distribuidor. Em seu lugar estão duas bobinas, fixadas sobre a tampa de válvulas, cada uma alimentando dois cilindros.
O motor Fiasa 1.5 ganhou quase 6 cavalos de potência, 1 mkgf de torque e ficou bem mais redondo de funcionamento. Inicialmente concebido para veículos comerciais leves, ainda assim não chega a ser elogiável do ponto de vista de maciez operacional: abaixo de 1.500 rpm e acima de 3.500 ainda é áspero, embora bem menos do que anteriormente.
O que o motor agora faz extraordinariamente bem é ‘funcionar’: frio ou quente, pega imediatamente, dispensando manobras de acelerador e eliminando o famigerado afogador. Em nenhum momento sente-se qualquer hesitação de funcionamento: o 1.5 tornou-se absolutamente previsível e confiável.
A surpresa é quanto melhorou o comando da caixa de mudanças. Ainda não é perfeito, com ocasionais dificuldades em quinta e em ré, mas apresenta uma característica curiosa: as marchas ‘de cima’ (1ª., 3ª. e 5ª.) têm menor curso de alavanca do que as ‘de baixo’ (2ª., 4ª. e ré). A nova alavanca de mudanças é pequena, e a manopla em borracha poderia ser menos dura, para maior conforto. Mas, no conjunto, comparado aos anos anteriores, chega a ser extraordinário.
A caixa de mudanças continua utilizando uma primeira marcha curtíssima, dentro da filosofia da fábrica italiana. O sistema de direção, por pinhão e cremalheira, é normalmente leve e suficiente para não necessitar de assistência hidráulica. Há momentos, porém, em que a tração dianteira transfere carga sobre o sistema de direção, tornando-o menos dócil do que o desejável. Os freios são muito bons, permitindo desacelerações fortes e controladas, com ótimas possibilidades de modulação.
O que realmente não chega a agradar são as suspensões, tanto dianteira como traseira: duras demais para um sedã familiar de quatro portas. Se, por um lado, isso é bom em curvas, por outro leva os ocupantes do carro a sentirem cada irregularidade do terreno; nosso piso típico dispensa comentários. Especialmente em curvas, os buracos geram escorregadas indesejáveis.
Em termos de design e espaço interno, ninguém, no Brasil, chega perto da Fiat. O próprio acesso é muito bom, tanto para o compartimento dianteiro como para o traseiro – e isso apesar de os ângulos de abertura das quatro portas não serem os melhores existentes.
O espaço útil para bagagens é extraordinário. O acesso aos órgãos mecânicos, que já foi o pior do Brasil (no 147), hoje é dos melhores, O acabamento dos Prêmio básicos (S, duas portas, e SL, quatro) é aceitável. Entre os recursos úteis estão os pontos de ancoragem dos cintos, que são deslizantes.
Outra grande vantagem dos Fiat injetados é o baixíssimo consumo de combustível: em nosso circuito urbano, o SL fez nada menos de 11,53 km/lde gasolina! Não acreditamos, e refizemos todo o teste que dura duas horas e meia – e o resultado se confirmou. Na estrada, foram igualmente ótimos 15,75 km/l.
A S.P.I. incorpora também uma função ‘volta para casa’: se houver pane, ainda assim o carro será utilizável. Uma luz de advertência avisa o motorista, que terá tempo de levar o carro a uma concessionária.
O SL 1.500 i.e. não anda muito: 15 segundos para ir de 0 a 100 km/h não é razão para elogios, assim como 35,77 segundos para completar 1.000 metros partindo da imobilidade.
Já as retomadas são bastante razoáveis (e bem mais importantes): 40 a 80 km/h, em terceira marcha, 8,21 segundos; 60 a 100 km/h, em quarta, 12,46 segundos, e 80 a 120 km/h, em quinta, 19,37 segundos são adequadas para um pequeno sedã, especialmente com mais de 500 km de autonomia rodando na cidade, ou mais de 700 km na estrada, e toda garantia de confiabilidade dos comandos eletrônicos.
Publicado originalmente na edição 324, de maio de 1992
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Fonte: direitonews





