A média da movimentação financeira real das pequenas e médias empresas brasileiras (PMEs) em fevereiro permaneceu estável em relação ao mesmo período do ano anterior (0%), mostra o Índice Omie de Desempenho Econômico das PMEs (Iode-PMEs).
Com isso, o índice interrompe a trajetória de queda observada entre dezembro de 2022 e janeiro deste ano, mas ainda segue limitado pelo ambiente econômico permeado por incertezas. Na comparação direta com janeiro de 2023, o indicador também permaneceu estagnado (-0,01%), mesmo com um volume de dias úteis menor em fevereiro.
O Iode-PMEs funciona como um termômetro econômico das empresas com faturamento de até R$ 50 milhões anuais, consistindo no monitoramento de 692 atividades econômicas que compõem cinco grandes setores: Agropecuário, Comércio, Indústria, Infraestrutura e Serviços.
Quais setores mais cresceram?
As aberturas setoriais do Iode-PMEs em fevereiro trazem um quadro diverso entre o desempenho dos principais segmentos do mercado. A movimentação financeira real média voltou a avançar tanto no Comércio (+5,8%) quanto no setor de Serviços (+2,9%).
No Comércio, o avanço observado no Iode-PMEs, em fevereiro, foi condicionado pelo crescimento da movimentação financeira real média do segmento atacadista (+10% ante fevereiro de 2022). Em contrapartida, as PMEs do setor varejista viram o desempenho econômico recuar ligeiramente no período (-0,7%). É importante destacar que o desempenho agregado dos últimos meses mostra importante desaquecimento do segmento frente aos resultados observados até o terceiro trimestre de 2022.
Segundo Felipe Beraldi, gerente de indicadores e estudos econômicos da Omie, o consumo das famílias se mostra bastante dependente das condições financeiras atuais e das expectativas de curto prazo.
“O elevado nível de endividamento das famílias e a trajetória de queda da confiança dos consumidores prejudicam o desempenho dos negócios das PMEs atualmente, sobretudo aquelas voltadas para a venda de bens para consumidores finais [segmento varejista]. O índice de confiança do consumidor da FGV [ICC-FGV] voltou a recuar em fevereiro [-1,3 ponto], diante da piora da percepção dos agentes com a situação econômica atual. Soma-se a isso a elevada taxa básica de juro da economia [Selic], que também age no sentido de desestimular o consumo”, explica.
De toda forma, o índice apontou o crescimento da movimentação financeira real das PMEs do setor de Serviços em fevereiro, puxado pelo bom desempenho de segmentos como:
- Atividades artísticas, criativas e de espetáculos
- Transporte terrestre
- Atividades de serviços financeiros
“Apesar do avanço no mês, diante do cenário conturbado para a sustentação do consumo, ainda é cedo para considerar uma inversão da trajetória enfraquecida que o setor como um todo vinha mostrando”, reforça Beraldi.
Quais setores mais recuaram?
Por fim, as PMEs da Indústria já parecem sentir os efeitos negativos, especialmente, da manutenção de taxas de juro mais elevadas no país, diante dos fracos resultados apresentados pelo Iode-PMEs do setor desde o quarto trimestre de 2022. Especificamente no primeiro bimestre deste ano, os resultados das PMEs industriais dos setores de alimentos e bebidas afetaram negativamente o desempenho do setor como um todo.
“Em linhas gerais, o mercado de PMEs mostra certa volatilidade nos últimos meses, diante do grau elevado de incertezas no ambiente de negócios. Ainda assim, os resultados do Iode-PMEs nos setores de Comércio e Serviços chamam a atenção ao mostrar certa resiliência da atividade econômica doméstica neste início de ano, diante de condicionantes deteriorados. Contudo, é relevante considerar o papel que a recuperação do mercado de trabalho no decorrer do ano anterior exerce sobre a evolução da renda real do trabalho das famílias — a qual apresentou significativa trajetória de retomada no segundo semestre de 2022”, diz o gerente.
Fonte: exame