A Fórmula 1 ficou em pauta até longe dos autódromos da categoria. Em um raro fim de semana livre, Max Verstappen foi ao mítico Nürburgring Nordschleife para disputar uma etapa da NLS (Nürburgring Endurance Series) e avançar no processo de obtenção da licença especial da DMSB — a “Permit Nordschleife” — exigida para provas maiores como as 24 Horas. O caso, porém, ganhou contornos de polêmica: para Ralf Schumacher, o fato de não haver qualquer exceção ao quatro vezes campeão da F1 é “embaraçoso”.
Verstappen correu neste sábado com um Porsche 718 Cayman GT4 da classe CUP3(G), versão “detuned” (com cerca de 300 cv) exigida para estreantes no traçado completo da Nordschleife. A opção pelo GT4, e não pelo Ferrari 296 GT3 que ele testou em maio sob o pseudônimo “Franz Harmann”, decorre do protocolo que limita o equipamento de quem ainda não possui a Permissão A. Um dia antes, o holandês já havia cumprido o passo inicial e obtido a Permissão B nos treinos.
A missão de sábado era clara: completar 14 voltas válidas de corrida para satisfazer um dos requisitos rumo à Permissão A. Mesmo com o carro mais contido, Verstappen mostrou velocidade de sobra: cravou a pole da classe com folga — “um giro” 25s mais rápido do que o segundo colocado — e, ao lado do companheiro Chris Lulham, venceu a CUP3(G), terminando em sétimo entre os carros da própria classe e em 27º no resultado geral.

Do ponto de vista esportivo, objetivo cumprido. Do ponto de vista político, nem tanto. Ralf Schumacher criticou a ausência de um “bom senso” institucional diante de um piloto do calibre de Verstappen. “Eu teria dado (a licença) a ele imediatamente, é claro”, afirmou o alemão, defendendo ao menos um procedimento abreviado. “Ou poderia ter sido feito um briefing específico sobre a Nordschleife e suas particularidades”, disse, classificando a rigidez do processo como “vergonhosa” para a imagem do automobilismo alemão.
A DMSB, no entanto, segue um protocolo tradicional no “Inferno Verde”: independentemente do currículo, o candidato precisa cumprir etapas graduais até chegar à Permissão A — entre elas, prova teórica, quilometragem de pista e corridas com carros de menor performance para consolidar leitura de tráfego, bandeiras e pontos críticos do traçado de 20,8 km. Foi o que Verstappen fez: treinou na sexta, correu no sábado com o Cayman da CUP3(G) e entregou exatamente o que pediam os requisitos.
O episódio coloca em choque duas visões de segurança e meritocracia. Para os defensores do procedimento, a Nordschleife é um ambiente singular, onde a experiência específica vale tanto quanto qualquer título. Para críticos como Ralf, a ausência de flexibilidade diante de um piloto de elite mundial arranha a percepção pública — sobretudo quando o mesmo cumpre o protocolo com facilidade, dominando a classe mesmo “capado” a 300 cv.
Resultados à parte, a passagem de Verstappen reforça a relação de estrelas da F1 com a Nordschleife, muitas vezes usada como laboratório de sensações e leitura de aderência em condições reais. O holandês completou as 14 voltas exigidas e somou quilometragem essencial para pleitear a Permissão A, etapa necessária para sonhar com as 24 Horas de Nürburgring no futuro.
Também chama atenção o contexto técnico do fim de semana. A escolha do Porsche 718 Cayman GT4 na faixa CUP3(G) não foi casual: a classe é concebida para nivelar performance, tráfego e aprendizado de gestão de stint, exatamente o que a DMSB espera de quem está “subindo a escada” para carros de GT3. Ainda assim, os tempos de Max deixaram claro que a adaptação foi rápida. E, no box, a parceria com Chris Lulham fechou o pacote com vitória e execução limpa — sem incidentes e com o checklist cumprido.
Schumacher, por sua vez, insiste que haveria espaço para calibrar a régua sem comprometer a segurança. “Pelo menos um procedimento especial, uma instrução aprofundada sobre os perigos e as diferenças da pista”, sugeriu o ex-piloto, na linha de que nem todo currículo deveria começar do mesmo ponto. O debate deve continuar: tradição e segurança do lado da DMSB; espetáculo, marketing e reconhecimento de competência do lado dos que pedem maior maleabilidade.
Para Verstappen, o saldo é positivo: experiência acumulada, vitória na classe, requisito de voltas cumprido e o próximo degrau à vista para obter a Permissão A. Para a F1, ganha-se mais uma narrativa em torno do campeão e sua busca por desafios fora do calendário. E para Nürburgring, reforça-se a mística: ali, até os melhores do mundo precisam “carimbar o passaporte” como qualquer outro — com briefing, provas, voltas cronometradas e, claro, respeito absoluto ao “Templo” que fez história no automobilismo.
Fonte: f1mania