F1: 5 zebras inesquecíveis do Grande Prêmio do Brasil


O cronista Nelson Rodrigues, sempre que um imprevisto ocorria com seu Fluminense Football Club, tirava da cartola um de seus personagens mais icônicos: o Sobrenatural de Almeida. Mas não é só no esporte bretão que ele, o Imponderável, surge. No automobilismo ele também apronta das suas. Justamente por isso, listamos abaixo cinco zebras inesquecíveis da Fórmula 1 no Brasil.

São eventos absolutamente fantásticos, e inusitados, que ocorreram em etapas da maior categoria do automobilismo mundial realizadas em nosso país. O redator admite, inclusive, que foi difícil selecionar apenas cinco fatos. Isso porque os GPs do Brasil, no Rio de Janeiro ou em São Paulo, sempre trouxeram um quê de imprevisibilidade – um quê do Imponderável. Confira:

Kevin Magnussen na ponta

Essa é fresquinha, direto do GP de São Paulo de 2022. Desde 2016 na Fórmula 1, a norte-americana Haas jamais conseguiu chegar perto do pelotão da frente. Raramente briga com a “turma do miolo” e olhe lá.

No entanto, em 2022, durante a classificação para a corrida sprint de sábado, no Autódromo de Interlagos, a equipe aprontou uma baguncinha. E ela veio por meio do dinamarquês Kevin Magnussen.

K- Mag se aproveitou de uma bandeira vermelha causada por George Russell, da Mercedes, e de um dilúvio que começou a cair na capital paulista, para conquistar a primeira pole position da Haas na Fórmula 1. Anotou 1m11s674 e levou as arquibancadas à loucura. Tudo bem que foi para a corrida sprint, mas, mesmo assim, feito histórico do dinamarquês e da equipe de Kannapolis.

Pierre Gasly x Lewis Hamilton

Essa zebra é emocionante. Pierre Gasly iniciou 2019 na ascendente. Aos 23 anos, o francês chegava ao cobiçado posto de piloto da Red Bull Racing, uma das equipes de ponta do pelotão. No entanto, após uma primeira metade da temporada complicada, tomando surras e mais surras de seu companheiro (um certo Max Verstappen) o francês foi rebaixado ao “time B” da empresa de energéticos – à época a Toro Rosso.

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Muitos dos fãs e boa parte da imprensa especializada acreditavam que a carreira de Gasly se daria num tom melancólico, como uma música do Radiohead. No entanto, de volta à STR, o francês colocou um AC/DC para tocar e emendou uma série de bons resultados. Mas nada seria tão bom quanto o que aconteceu em Interlagos, na penúltima etapa do campeonato de 2019.

Gasly largou em sétimo e, pouco a pouco, foi escalando o pelotão. Consistente, se manteve entre os primeiros colocados até a volta 70. Aí, aproveitou um enrosco entre Alexander Albon (que “roubou” seu lugar na Red Bull) e Sir Lewis Hamilton para assumir a segunda posição.

O britânico da Mercedes, porém, logo se recuperou e foi à caça de Gasly. O francês, porém, segurou a posição e fechou a prova em segundo numa decisão nos últimos metros da reta dos boxes. Coisa linda de se ver. Aquele seria o primeiro pódio da carreira do piloto que, no ano seguinte, venceria de maneira espetacular o Grande Prêmio de Monza.

A primeira vitória de Fisichella

A primeira a gente nunca esquece, principalmente quando é uma loucura. Foi o que aconteceu na primeira vitória de Giancarlo Fisichella, no alucinante Grande Prêmio do Brasil de 2003. E o “Físico” ainda teve de esperar uma semana para levantar o troféu de vencedor. Vai vendo.

Rubens Barrichello, da Ferrari, largou na pole position. Em casa, Rubinho tinha um carro fantástico e a torcida a seu favor. Aquele parecia ser o dia do brasileiro. Apenas parecia.

Após sete voltas iniciais atrás do safety car por conta das condições climáticas, sempre um drama em Interlagos, a corrida começou “para valer” no oitavo giro. Já na relargada Barrichello perdeu a posição para David Coulthard, da McLaren.

O safety car entrou na pista mais três vezes e o brasileiro vinha bem, ganhando terreno. Até que, na volta de número 45, Rubinho levou a torcida brasileira ao êxtase ao ultrapassar Coulthard. Mas a alegria durou pouco. No giro 47, por pane seca, Barrichello abandonou a prova. Uma pena.

Enquanto isso, Fisichella fazia corrida discreta, porém acertada, com seu Jordan. Na volta seguinte à despedida de Rubinho tomou a terceira posição de Ralf Schumacher. Em seguida, após as paradas de Coulthard e Kimi Raikkonen, assumiu a improvável liderança. E aí as coisas ficaram esquisitas.

Na volta 54, Mark Webber não conseguiu segurar o ímpeto do seu Jaguar na subida da reta e bateu feio. Fernando Alonso, que vinha atrás do australiano, deu uma bela pancada na barreira de proteção após tentativa frustrada de desviar de um pneu.

Assim, na volta seguinte, a direção de prova optou pela bandeira vermelha. Fim de feira. Fisichella vencedor. Certo? Errado. Em um equívoco daqueles, a FIA deu a vitória a Raikkonen, mesmo com o italiano da Jordan tendo completado a volta 54 (última antes da bandeira vermelha) na liderança.

A equipe de Silverstone, contudo, não aceitou a derrota e a federação teve de abrir uma investigação. Após a apuração dos fatos, a direção de prova acabou notando a patacoada e deu a vitória a Fisichella, que recebeu o troféu do primeiro lugar na semana seguinte, no GP de San Marino. Loucura, loucura, loucura!

Pódio para Gugelmin

Imagine ser um bom piloto de Fórmula 1, mas sempre figurar em equipes medianas, sem chances de disputar com as grandes. Agora faça uma escolha: prefere pontuar de modo consistente na categoria ou um pódio em casa com poucas glórias depois disso? Tudo bem que Maurício Gugelmin não teve de selecionar uma das opções, mas passou por algo parecido.

Em 26 de março de 1989, foi disputado o último GP do Brasil no Rio de Janeiro. O britânico Nigel Mansell, da Ferrari, conquistou a vitória de maneira impressionante. Sobrando mesmo.

Maurício Gugelmin largou com seu Leyton House, chassi March, num tímido 12º lugar. No entanto, o bom 881, projeto do lendário Adrian Newey, foi se mantendo no pelotão da frente. E melhor: o problemático motor V8 Judd que empurrava o bólido segurava as pontas.

Em quarto, Gugelmin se viu encostando em Riccardo Patrese e Alain Prost. Em dado momento, o motor Renault do Williams de Patrese foi para o espaço, abrindo caminho para o brasileiro.

Já na terceira posição, Maurício Gugelmin resolveu manter a calma e jogar para a galera de casa. Isso porque a temperatura do propulsor Judd de seu carro já atingia níveis preocupantes. Assim, tocou, tranquilamente, até um brilhante pódio – o único da carreira do piloto que só pontuaria mais uma vez na Fórmula 1, com um sexto lugar na Bélgica.

Emerson e Copersucar-Fittipaldi nas nuvens

O Autódromo de Jacarepaguá viu, anos antes, outro pódio brasileiro improvável. Só que com um gostinho diferente. Em janeiro de 1978, Emerson Fittipaldi terminava o GP do Brasil num honroso segundo lugar a bordo do carro da única equipe nacional da história da Fórmula 1.

Pois é. O primeiro pódio da Copersucar-Fittipaldi foi justamente em casa, correndo em seu país de origem. Depois disso, a equipe conquistou mais uma trinca de top 3: dois com Emerson e um com Keke Rosberg, que viria a se tornar campeão mundial de pilotos em 1982 pela Williams.

Embora muitos brasileiros, na época e, até mesmo, hoje em dia desmereçam os feitos da Copersucar, não dá para descartar a história de luta da equipe. Além disso, nomes de peso passaram pelo time – Emerson e Keke são apenas dois deles.

Quer um exemplo? Você, certamente, conhece o “mago das pranchetas” Adrian Newey, já citado neste texto. Certo? Pois então. O primeiro emprego do engenheiro britânico, um dos maiores projetistas de todos os tempos, foi justamente na equipe brasileira. Vai rir ou prefere abraçar o Sobrenatural de Almeida?

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Fonte: direitonews

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