Exploração de petróleo na foz do Amazonas acende debate sobre interesse estrangeiro de ONGs no país


Em entrevista aos jornalistas Melina Saad e Marcelo Castilho, do podcast Mundioka, o internacionalista e cientista político Victor Oliveira entende que a exploração na região que inclui tanto a costa brasileira quanto a região de Essequibo, é um ponto sensível.
Oliveira destaca a crítica do Greenpeace ao interesse de exploração brasileira no local, mesmo sendo financiado pela Fundação Rockefeller, criada pela ExxonMobil, que já atua na mesma região equatorial.
Oliveira explica que, entre 2000 e 2008, a empresa investiu mais de US$ 1 milhão (R$ 5,4 milhões) no Greenpeace via Fundação Rockefeller.
Segundo ele, a transparência é crucial não apenas para as autoridades, mas também para garantir que a atuação dessas instituições esteja em conformidade com a soberania e os interesses nacionais.

“Eu tenho conhecimento de um aumento expressivo de organizações não governamentais que trabalham em questão da Amazônia aqui e muitas delas são verdadeiras propagandas de outros países aqui na região”, afirma.

O professor de geopolítica do petróleo na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Marcelo Simas, também ressalta que o papel das ONGs na Margem Equatorial pode ser ilustrado pela atuação do Greenpeace.
“É intrigante notar que o Greenpeace não se posiciona contra a exploração de petróleo na Guiana, onde a ExxonMobil é a maior produtora. Porém, a organização critica intensamente a possibilidade de exploração na Margem Equatorial brasileira”, aponta.
Simas exemplifica que a Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID, na sigla em inglês) e a Fundação Nacional para a Democracia (NED, na sigla em inglês), foram denunciadas por apoiar grupos de oposição em países como Venezuela, Bolívia e Equador.
Isso, em sua visão, reforça a tese de que muitas ONGs atuam como extensões das agendas políticas e econômicas de seus países de origem. “Essas organizações oferecem recursos para países em desenvolvimento, que acabam endividados e, consequentemente, cedendo seus recursos naturais ou seguindo as diretrizes políticas dos financiadores.”
A complexidade de diferenciar ONGs sérias das que defendem interesses inconfessáveis é um desafio, diz. “Existem ONGs movidas por propósito genuíno de conservação ambiental. No entanto, muitas acabam se deixando levar pelo discurso de outras ONGs mais poderosas, que têm interesses geopolíticos e econômicos.”

“A Petrobras, ao se tornar uma grande produtora na região, se posicionaria como concorrente da ExxonMobil. O Greenpeace, financiado pela Fundação Rockefeller, parece estar sendo utilizado para impedir essa exploração, favorecendo interesses estrangeiros.”

Qual é o papel das ONGs?

Oliveira ressalta que, embora a presença dessas ONGs possa ser benéfica em termos de conservação e desenvolvimento sustentável, há uma necessidade urgente de investigações detalhadas para verificar suas verdadeiras motivações.
A proximidade da COP-25, que será realizada em Belém (PA), deve ser vista de forma crítica no que tange sobre o papel das ONGs em eventos internacionais.
Ele ressalta a importância de que a sociedade brasileira participe ativamente desses debates, evitando que interesses estrangeiros dominem a pauta. “Nós precisamos ocupar esses espaços, e aí falo não só como um acadêmico aqui da região amazônica, mas sobretudo como uma pessoa interessada na sociedade, isso também tem a ver com o nosso futuro.”
O pesquisador defende que deve-se distinguir ONGs comprometidas com causas genuínas das que podem estar seguindo outros interesses. “Pelo fruto, conhecemos as árvores e além, o fruto não cai longe do pé.”
“As ONGs internacionais, principalmente, não deveriam optar nas decisões econômicas dos países”, afirma.
Segundo ele, o Brasil precisa entender melhor sua importância internacional e os desafios que enfrenta, principalmente em relação à intromissão de ONGs que podem estar influenciando a política interna do país. “O primeiro passo é que a gente, como nação, entenda o papel do Brasil.”
Para ele, esse reconhecimento é o ponto de partida para fortalecer a soberania nacional. “Precisamos fazer valer a nossa soberania, ninguém entende mais e melhor sobre o nosso território do que os brasileiros.”
Oliveira reconhece a importância de ONGs brasileiras, especialmente em regiões de difícil acesso, onde muitas vezes preenchem lacunas deixadas pelo Estado. No entanto, ele defende que “precisamos estimular o Estado a ocupar esses lugares”, o que inclui legislações claras e atuação pública efetiva.
Ele exemplifica essa questão com a andiroba, um produto natural utilizado localmente como anti-inflamatório, cujas propriedades são frequentemente estudadas por indústrias farmacêuticas estrangeiras.
Ele critica o fato de que “muitas vezes esse produto é usado para a comunidade local e depois a gente compra de uma forma muito mais cara, produtos feitos a partir de uma matéria-prima que abunda aqui”.
Para ele, a chave para enfrentar essas questões está na conscientização da população e na implementação de políticas de Estado que assegurem a soberania e o desenvolvimento sustentável do Brasil. “Isso só é possível a partir do momento que nós entendermos que o Brasil não é um player qualquer no cenário internacional.”
Simas afirma que acusações específicas, como as feitas pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) contra ONGs, apontando-as como causadoras de incêndios na Amazônia, são notícias falsas. Ele argumenta que essas histórias foram amplificadas nos últimos anos sem provas concretas, destacando que “os indígenas teriam tocado fogo nas terras”, algo que ele considera ilógico, já que tais comunidades dependem diretamente da terra para sua subsistência.
Em visita a São Gabriel da Cachoeira (AM), ele diz ter observado falta de recursos e dependência dos yanomamis das Forças Armadas do Brasil para suprimentos básicos em épocas de escassez.
Em locais como o Equador, onde houve problemas com a Chevron, ele afirma que ONGs funcionam como uma espécie de soft power estrangeiro.

O que é hard power e soft power?

Ponto crucial também levantado por Oliveira é a forma como ONGs estrangeiras podem influenciar a política brasileira através do soft power. Ele cita Joseph Nye, ao explicar que a influência de um país não se dá apenas pelo hard power, como mobilização militar, mas também por meios mais sutis e sofisticados, como a propaganda.
Oliveira alerta que “essas ONGs fazem propaganda para outros países que tentam influenciar a política nacional“.
Simas diz que o protagonismo das ONGs na defesa de questões ambientais remonta ao início do século XX, especificamente com a criação da Commonwealth em 1931.
“O Império Britânico, em decadência após a Primeira Guerra Mundial, utilizou as ONGs como instrumento para manter o controle sobre os recursos naturais, sem a necessidade de domínio territorial direto.”
Com o fim da Segunda Guerra Mundial, os EUA e o Reino Unido fortaleceram essa simbiose, segundo ele, utilizando ONGs como ferramenta de soft power, como forma de conquistar prestígio e influência sem recorrer ao uso da força. “ONGs, juntamente com instituições como o Banco Mundial e o FMI, se tornaram braços importantes dos EUA e Reino Unido, influenciando políticas em países em desenvolvimento.”
Simas enfatiza a necessidade de uma compreensão mais profunda das interligações geopolíticas.

“As ONGs muitas vezes atuam na linha de frente defendendo os interesses dos países fundadores. Essa realidade não é transparente, sendo perceptível apenas para aqueles que pesquisam e compreendem as complexas interligações e interesses envolvidos.”

Para ele, exploração de petróleo na Margem Equatorial, portanto, não é apenas uma questão ambiental, mas também envolve um jogo interesses geopolíticos, onde ONGs podem desempenhar papéis estratégicos, nem sempre alinhados com os interesses nacionais dos países onde atuam.
Ele acrescenta que muitas ONGs atuam de forma “subliminar” sob a influência de países poderosos, como os EUA e membros do sistema de vigilância “Five Eyes”, composto também por Reino Unido, Austrália, Canadá, Nova Zelândia e Israel.
Muitas vezes, diz, “essas ONGs defendem os interesses dos seus países” com métodos não transparentes e muitas vezes influenciando a legislação local para atender seus objetivos.
“Poderia haver realmente uma legislação [brasileira] sobre isso, mas a quem interessa?”, questiona.
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Fonte: sputniknewsbrasil

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