Com promessa de produção local desde antes do início das vendas no Brasil, a Omoda Jaecoo ainda não decidiu onde fará seus modelos em solo nacional. Mas o cenário parece um pouco mais claro. A marca chinesa, parte do grupo Chery, dificilmente vai usar as instalações de Jacareí (SP), atualmente divididas entre Caoa e Chery.
Um executivo da fabricante afirmou haver “grandes problemas” que dificultam um acordo para a utilização da fábrica no Vale do Paraíba.
Mas o noticiário sobre a fábrica tem um novo capítulo. Isso porque a Prefeitura de Jacareí pediu para que a Caoa Chery devolva sua fábrica no munícipio ou desenhe plano de retomada das atividades da unidade — encerradas em 2022 — em até 45 dias.
Antes de esmiuçar a questão com a prefeitura, é preciso contextualizar a desistência da Omoda Jaecoo em ocupar o local. O mesmo executivo disse que a fábrica fechada há três anos, e construída há mais de uma década, demandaria pesados investimentos para ter a produção retomada.
Fora isso, também afirmou que “parcerias são cruciais para se ter uma unidade de produção considerada estável no Brasil”.
O executivo frisou que a indecisão na política nacional, em todos os âmbitos, deixa pairar no ar muitas incertezas para a companhia. Se dependesse da Omoda Jaecoo, completou a fonte, a empresa já teria fábrica local em 2026. Afirmou também que o maquinário necessário para iniciar a produção local já está designado, na China. “Quando decidirmos, é só trazer”, disse.
Ainda questionado sobre a possibilidade de utilizar a unidade da Toyota em Indaiatuba (SP), que fechará as portas em meados do próximo ano, o executivo de alto escalão da Omoda Jaecoo também tratou de afirmar que trata-se de operação “complicada”.
Além de considerada um tanto ultrapassada, a planta tem questões logísticas, como limitações de produação e eventuais expansões. Algo que é considerado imperativo pela Omoda Jaecoo, que já anunciou investimento de quase R$ 2 bilhões em nosso país e utilizará, claro, parte do montante para se estruturar localmente.
A questão da fábrica de Jacareí está se tornando uma novela. Caoa e Omoda Jaecoo, inclusive, selaram em fevereiro passado acordo que envolveu a doação de um terreno de 436 mil m² dentro da área total de 1 milhão de m² da unidade do interior paulista. A área, contudo, não tem edificações, ou seja, não inclui a estrutura fabril existente.
Voltando ao imbróglio entre a prefeitura e a Caoa Chery, a administração municipal garante que a unidade recebeu “significativos investimentos públicos, tanto municipais quanto estaduais”. Em nota oficial enviada a Carlos Alberto de Oliveira Andrade Filho, presidente do Grupo Caoa, e a Cláudio Guowei Xu, general manager da Chery International no Brasil, a administração aponta que aplicou R$ 46 milhões na fábrica em infraestrutura e incentivos fiscais.
Segundo laudo de avaliação técnica, a Secretaria de Finanças estima que as benfeitorias no imóvel estão atualmente estimadas em R$ 63,7 milhões. Desse modo, a Prefeitura, quer, ao fim dos 45 dias de prazo, desapropriação do imóvel e pagará por tal indenização no valor de R$ 17,7 milhões, caso a Caoa Chery não apresente um plano de retomada da produção. Vale frisar que Celso Florêncio (PL), prefeito do município, reiterou em suas redes sociais que tentou negociar com a companhia; sem sucesso.
Procurada por Autoesporte, a Caoa Chery disse que não comentaria o caso.
A administração diz que enviou, primeiramente, ofício ao presidente da Caoa Chery acerca do tema em junho. No dia 10 do mesmo mês, a empresa sino-brasileira registrou o recebimento do documento, “mas não apresentou informações concretas quanto ao futuro da planta industrial de Jacareí”.
Em julho, a Prefeitura enviou dois novos ofícios, nos dias 4 e 21. O primeiro contava com o seguinte título: “Inatividade da planta industrial da Caoa Chery em Jacareí – Solicitação urgente de reunião e esclarecimentos”. Já o segundo, enviado ao presidente da supracitada companhia, e a Cláudio Guowei Xu, general manager da Chery International no Brasil, aponta para “notificação de possível reversão de doação / desapropriação”.
À época do encerramento das operações em Jacareí, a Caoa Chery garantiu que iria reformar a unidade para focar na produção de carros eletrificados. A ideia era de que a fábrica retomasse suas atividades de dois a três anos depois.
Inaugurada em 2014, a unidade de Jacareí produziu, por exemplo veículos como Celer, QQ e Tiggo 2. O último a deixar a linha foi o Tiggo 3X. Havia a expectativa de que, em 2025, o iCar, que sumiu das lojas ao fim de 2024, fosse o responsável por reinaugurar a planta. Algo que, ao menos por enquanto, ainda não ocorreu.
Autoesporte entrou em contato com a Caoa Chery, mas, até o momento da publicação desta reportagem, não obteve quaisquer retornos. Também falamos com a Prefeitura de Jacareí, que nos enviou os ofícios e também nota oficial, que pode ser lida abaixo:
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Fonte: direitonews