Europa insiste em sanções contra a Rússia por carecer de política externa própria, diz especialista


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Prevista para esta segunda-feira (10), em Washington, EUA, a reunião anual entre o Banco Mundial (BM) e o Fundo Monetário Internacional (FMI) será marcada pelo temor diante da iminente recessão que se avizinha da Europa.
Na reunião, a previsão de crescimento global será atualizada em meio a uma conjuntura econômica global nada otimista. Para o presidente do Banco Mundial, por exemplo, o risco de recessão é alto, levando em conta a crise de energia na Europa desencadeada pela política de sanções contra a Rússia, implementada pelos EUA e adotada por seus aliados europeus, em retaliação à operação militar especial.
Tal política, no entanto, até o momento surtiu mais danos que benefícios, especialmente aos países da União Europeia (UE). Para entender que motivos levam os países europeus a insistir na política de confronto com a Rússia, a Sputnik Brasil conversou com Charles Pennaforte, professor da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) e coordenador do Laboratório de Geopolítica, Relações Internacionais e Movimentos Antissistêmicos (LabGRIMA).
Passageiros observando painel de informações de partida do Terminal 2 do Aeroporto Roissy-Charles de Gaulle, na periferia nordeste de Paris, mostrando múltiplos voos cancelados em meio a uma greve dos controladores de tráfego aéreo, França, 16 de setembro de 2022 - Sputnik Brasil, 1920, 29.09.2022

Pennaforte argumenta que a insistência europeia reflete a carência de uma política externa própria para grandes temas internacionais, que leva o continente a seguir atrelado à visão dos EUA. Segundo ele, isso explica a manutenção da política de sanções por parte da União Europeia, mesmo que isso leve o bloco a ter sérios problemas.
“Do ponto de vista lógico e prático, quem mais perde com essa confrontação com a Rússia são os próprios europeus. Os EUA têm muito mais a ganhar estimulando essa confrontação, porque eles conseguem sair ilesos de todas essas sanções. A Rússia é a principal fornecedora de gás para a Europa, não para os EUA. A Europa carece de uma política externa própria, que leve em conta os seus interesses, e não os interesses dos EUA”, explica Pennaforte.
Questionado sobre o que os países do continente europeu conquistaram com a politica de sanções até o momento, Pennaforte é categórico ao afirmar que “absolutamente nada. Pelo contrário, vêm perdendo”. Isso, segundo ele, desde 2014, com a reintegração da Crimeia.
“Os EUA impuseram sanções que influenciaram negativamente em vários projetos que França e Alemanha tinham com a Rússia. Não existe uma eficácia nesse sentido, e os europeus, infelizmente, caíram nesse conto dos EUA, de que as sanções seriam a solução para tudo. Infelizmente, não são e nunca foram”, explica o especialista.
Ele acrescenta que “as sanções têm pouca efetividade prática, e penalizam muito mais a população”. “Como, por exemplo, agora, com a aproximação do inverno europeu. Ela [a população] vai sentir o preço do combustível, o preço do gás natural, do aquecimento, muito mais alto”, destaca Pennaforte.
Ele alerta que os efeitos econômicos negativos da política de sanções podem não ficar restritos à Europa, extravasando para outros países.
“A economia global entra dentro desse processo porque nós temos uma economia totalmente interligada. Aspectos que existam em qualquer lugar do mundo vão ter impactos generalizados sobre a economia. Infelizmente, a tendência é que esses impactos levem a economia mundial a sentir algum tipo de recessão, desemprego. Lamentavelmente, nós veremos aí uma piora dos indicadores macroeconômicos globais”, destaca Pennaforte.
Loja de sorvetes e bolos destruída quase um ano depois que a região foi devastada por inundações, em Altenahr, Alemanha, 11 de julho de 2022 - Sputnik Brasil, 1920, 19.09.2022

O especialista aponta para o risco de endividamento dos países europeus, e ressalta que tudo aponta para uma piora econômica entre o final de 2022 e início de 2023.
“O endividamento certamente pode ocorrer em função de compensações geradas pelas sanções. A necessidade de comprar petróleo de mais longe, de comprar gás de outras regiões, gás liquefeito dos EUA. Tudo isso vai gerar problemas para o bloco que, razoavelmente, estava se mantendo em padrões econômicos bons, dentro do controle”, diz o especialista.
Pennaforte finaliza alertando que “a escalada contra o governo russo vai deixar um preço a ser pago” para os atuais dirigentes de países europeus afetados pela política de sanções.

“Até do ponto de vista político, esses dirigentes vão ter uma conta a ser cobrada pela população. O cenário para a Europa, especificamente para a União Europeia, não é nada bom. Pode não ser catastrófico, mas certamente será ruim economicamente. Como eu venho defendendo desde o início, esse conflito é um conflito regional que foi transformado em global em função dos interesses da política externa os EUA.”

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