Observar os primórdios do Universo exige suposições, mas avanços tecnológicos permitem revisá-las. Foi o caso do estudo sobre J0529, o quasar mais brilhante conhecido, que revelou uma nova estimativa de massa de seu buraco negro central graças ao instrumento GRAVITY+ do VLT.
Inicialmente, o J0529 foi estimado como tendo dez bilhões de massas solares, com base na largura de suas linhas de emissão. Essa técnica pressupõe que linhas mais amplas indicam velocidades orbitais maiores, sugerindo um buraco negro extremamente massivo. Mas essa suposição foi desafiada por observações mais precisas.
© Foto / NOIRLab/NSF/AURA/J. da Silva/M. ZamaniImpressão artística de um buraco negro de rápida alimentação que emite poderosos fluxos de gás
Impressão artística de um buraco negro de rápida alimentação que emite poderosos fluxos de gás
Com o GRAVITY+, os cientistas mapearam diretamente a Região de Linhas Largas (BLR, na sigla em inglês) de J0529 e identificaram um jato de gás sendo expelido a 10.000 km/s. Esse fenômeno, embora contraintuitivo, ocorre antes que o material seja absorvido pelo buraco negro, distorcendo os dados espectrais usados para calcular sua massa.
O jato interferiu nas medições anteriores, fazendo parecer que o gás orbitava mais rápido do que realmente estava. Ao subtrair o efeito do jato, os pesquisadores recalcularam a massa do J0529 em cerca de 800 milhões de massas solares — ainda gigantesca, mas dez vezes menor que o valor original.
Esse ajuste tem implicações importantes para a astrofísica, especialmente sobre como os buracos negros supermassivos podem crescer tão rapidamente após o Big Bang. O J0529 parece estar em um estado de super-acreção de Eddington, excedendo temporariamente seu limite de brilho e expulsando parte do material que o alimentou.
Esses jatos não apenas afetam o crescimento do buraco negro, mas também influenciam a formação de galáxias, podendo interromper o nascimento de estrelas e redistribuir matéria para outras regiões do cosmos. Isso reforça a importância de medições diretas e precisas para entender a evolução galáctica.
Com telescópios cada vez mais potentes, os cientistas esperam refinar suas suposições e obter novos insights sobre o Universo primitivo. O caso do J0529 exemplifica como o progresso tecnológico impulsiona a correção de modelos e amplia nossa compreensão do cosmos.
Fonte: sputniknewsbrasil